Na impossibilidade de viajar até aos trópicos, a exactamente 1196 km de distância do Porto encontra-se o arquipélago da Madeira e nele um clima oceânico subtropical que já dá para matar o bichinho do Verão. Se a ideia é ir atrás do tempo quente, aponte a bússola em direcção a Porto Santo, aquele que será o melhor cartão de visita do arquipélago da Madeira e o único sítio em Portugal que consegue manter nos 25 ºC a temperatura média anual da água do mar.
Quando se tem como destino uma das cidades mais procuradas da Europa, a possibilidade de não conseguir usufruir ou sequer aceder convenientemente a grande parte dos checkpoints turísticos é altíssima. Há sempre que ter em conta que no mesmo dia e à mesma hora dezenas de milhares de pessoas tiveram a mesma ideia que nós. E isto podia bem ser um resumo de uma ida a Roma. Coliseu? Esqueçam, as filas à porta desmotivam o mais entusiasta dos turistas. Piazza di Spagna, aquela da escadaria magnífica que até parece um spot simpático para nos sentarmos e ficar a ver as vistas? Nah... não há degraus livres e o pouco espaço que sobra é para a passagem de transeuntes. Fontana di Trevi? O mesmo. Para conseguir atirar a moedinha que traz coisas boas ao futuro, vai ter de se digladiar com centenas de optimistas afoitos. E a lista não fica por aqui. Mas, felizmente, quem tem amigos tem tudo e quem tem amigos em Roma tem um bocadinho mais do que isso: tem uma perspectiva nova da cidade que só se consegue fugindo dos centros de atracção que vêm nos guias da cidade.
Roma é História e civilização mas também é uma das capitais mais tramadas da Europa. Esconde-se confortavelmente atrás do passado para não se mostrar como é, como se se quisesse manter em segredo o máximo de tempo possível. Para conhecê-la de verdade é preciso conhecer alguém de lá que nos diga onde se escondem os tesouros da cidade moderna. O roteiro é alternativo e, para nós, assim como esperamos que seja para o leitor, foi o melhor e mais surpreendente das últimas viagens. Bem-vindos à Roma underground.
No filme Caro Diário, de Nani Moretti, o protagonista elege Garbatella como o seu bairro favorito em Roma e foi esse o nosso ponto de partida. Garbatella, aí vamos nós.
Começa-se o dia no Bar Foschi, uma instituição no que a pequenos-almoços e lanches diz respeito. Aberto desde 1956, é tudo o que se espera de um café tradicional, com a vantagem de servir os melhores croissants da cidade. Nota: os italianos têm por hábito encher-se de doces logo pela manhã, pelo que tem aqui uma oportunidade única de acompanhar um cappuccino com uma tartelete de creme e fruta sem sentir culpa. Do outro lado da praça, encontra o Palladium Theatre, um edifício clássico que contrasta com a programação dedicada à arte contemporânea sob todas as formas e que serve de palco ao Roma Europa Festival, por onde passam anualmente os grandes mestres mundiais do teatro, da dança, da música e do cinema. Fique por perto e regresse ao final do dia para assistir a um espectáculo. Durante o dia aproveite para palmilhar as ruas do bairro e descobrir os jardins, as ruelas em tons terracota e os edifícios típicos que fazem lembrar uma aldeia dentro da cidade. Pelo caminho, e de olhos postos no ar, vai encontrar alguns murais, pinturas e graffiti que vão tomando o bairro de assalto e ganhando fama nos roteiros de arte urbana da cidade.
No trajecto de regresso ao Palladium, quando encontrar os murais coloridos da Rua Passino, significa que chegou a um dos sítios mais vibrantes do bairro e ponto de encontro da gente jovem: o centro social La Strada, onde vai querer ficar desde o aperitivo (em Roma, sê romano) até aos copos depois do jantar. O primeiro piso do edifício, de seu nome Upstairs, reúne a Osteria L’Ardente, uma tasca típica italiana onde se come boa comida della mamma, e a Enoteca Popolare, onde se provam os melhores vinhos do país. Mas antes de subir, é obrigatória a passagem pelo Moonstomp Bar para um Aperol Spritz. Durante este mês o La Strada empresta o espaço a workshops de tango argentino e a um minifestival de música jamaicana – no fundo, aquele reggaezinho para limpar a alma. A programação varia todos os meses, pelo que para saber ao minuto o que se passa dentro da casa, passe por www.csoalastrada.it. E porque a Garbatella não se faz num dia, vale a pena aproveitar uma tarde soalheira no parque verde da Casa del Jazz (Viale di Porta Ardeatina), que como o nome indica é um espaço dedicado ao melhor jazz do mundo, com uma sala de espectáculos digníssima e uma cafetaria/ restaurante com esplanada.
Por ser uma zona afastada do centro turístico, a Garbatella não é nada rica em hotéis e alojamentos locais – a prova de que ainda não foi descoberta. Neste caso, a Airbnb é a melhor opção, com uma oferta que vai desde quartos básicos a partir de €10 por noite até um loft duplex todo bonito por €95. E assim sendo, arrivederci e até à próxima.