Não conte a ninguém... Oito segredos de Cascais

Não fica no centro de Cascais, mas na Parede, uma zona residencial (mas mesmo assim com muita vida), entre Carcavelos e São Pedro do Estoril. Falamos da Sociedade Musical União Paredense (SMUP), uma casa com 125 anos que se tornou, nos últimos tempos, na sala com uma programação cultural – e sobretudo musical – mais cuidada e autoral de todo o concelho. Da música experimental ao jazz, da energia rock aos ritmos do rap, a SMUP tem sido um farol para o circuito da música independente e alternativa em Portugal, recebendo com frequência artistas internacionais de renome. É estar atento à programação para ver o que lhe calha durante a sua estadia em Cascais. 

Outro grande factor que leva as pessoas à SMUP: o restaurante Sociedade, de cozinha portuguesa com um toque contemporâneo, com muitos pratos para partilhar. Não tenha dúvidas de que é um dos melhores segredos de Cascais.

Rua Marquês Pombal, 319, Parede. Seg-Qui 14.30-00.00; Sex-Sáb 14.30-01.00. 21 457 1325

A Linha de Cascais é conhecida pelas suas fantásticas praias. O problema é que isto não é segredo para ninguém e, nos meses mais quentes, os areais ficam pequenos para a tamanha procura. No entanto, há uma – e apenas uma – que nem a maior parte dos locais frequentam. Chama-se Praia do Abaninho (não confundir com a vizinha Praia do Abano) e fica na zona do Guincho. É, literalmente, a última praia de Cascais, quase a entrar pela Serra de Sintra adentro. 

Para lá chegar, dirija-se ao Bar do Guincho. Quando estiver na estrada de terra batida que lá vai ter, em vez de virar à esquerda para o acesso ao bar e parque de estacionamento, continue em frente, até ao fim. À esquerda, vai encontrar um antigo forte; em frente, um velho restaurante. É entre ambos que pode encontrar a longa escadaria que o leva até lá abaixo. Discreta, a Praia do Abaninho quase desaparece quando a maré sobe, mas é muito mais abrigada do vento do que a Praia do Abano ou a Praia do Guincho. Um verdadeiro segredo de Cascais.

Escondido nas colinas da Malveira da Serra, o Moinho Dom Quixote não é apenas um restaurante – é uma experiência. Este antigo moinho de vento tradicional é o refúgio perfeito para uma refeição longe da agitação da cidade, desfrutando de uma vista deslumbrante sobre o Atlântico e a Praia do Guincho.

Chegar lá é uma aventura – um caminho serpenteante pela serra, rodeado de paisagens impressionantes a cada curva. Atravessar os discretos portões vermelhos é como entrar noutro mundo. “Este é um lugar onde a presença e a grandiosidade da natureza combinam perfeitamente com mesas cheias de amigos a partilhar os sabores da nossa cozinha criativa”, diz Anna Claudia Braeutigam, a proprietária.

No menu, as opções incluem focaccia de burrata, hambúrguer vegetariano de halloumi, salada fresca de salmão ou croquetes de lombinho de porco com especiarias – pode partilhar ou guardar tudo só para si. Os amantes de brunch também estão com sorte: há um menu servido diariamente das 12.00 às 14.00, com combinações substanciais ou opções individuais, como croissants e scones. Quanto às bebidas, há muito por onde escolher – aperitivos, cocktails, mocktails e vinhos – todos perfeitamente harmonizados com a paisagem envolvente.

Desde o Verão de 1986 que a estrada que liga a zona da Guia à Marina de Cascais, com passagem pela Boca do Inferno, tem uma carrinha pão de forma amarela de cachorros quentes, que já se tornaram um símbolo familiar para os cascalenses e todos os que por ali passam com regularidade. Foi depois de uma viagem à Venezuela que António Novais e um antigo sócio tiveram a ideia de abrir o negócio. Na altura, António tinha apenas 19 anos e só havia cachorros simples em Portugal, de pão e salsicha. Com os HotDog Cascais, acrescentaram queijo, couves, batata frita palha e uma série de molhos que os tornaram um marco regional.

O fenómeno começou com os miúdos das escolas, que depois apresentaram os pais aos cachorros. Aquela avenida não estava arranjada como hoje: o passeio era de terra batida, com mato e pouca construção até ao Guincho. Durante muitos anos, os cachorros só lá estiveram durante a época balnear – o que motivou a abertura de uma loja no centro comercial Riyadh, além de terem passado pela Marina e por Manique – mas hoje permanecem exclusivamente no sítio original e abertos durante todo o ano, desde que faça bom tempo. O segredo, explica António Novais, é a qualidade do produto e as receitas praticamente inalteradas, que incluem os molhos “branco” e “rosa”, preparados com ingredientes desconhecidos. O pão é uma receita própria, as salsichas vêm de Espanha. Têm uma versão simples, uma completa, uma mista e uma chilli para os fãs de picante, além de opções vegetarianas para experimentar com uma vista única para o oceano. 

Avenida Rei Humberto II de Itália, Cascais. Ter-Dom 12.00-20.00. 964 003 317

Preparado para uma aventura nas férias? A Escola de Escalada da Guia é o melhor sítio de Cascais para os fãs de escalada e rappel – ou entusiastas de desportos radicais no geral. É nos penhascos junto do Farol da Guia, longe da vista de quem se passeia na ciclovia a caminho do guincho, que a associação especializada Desnível promove formações completas e certificadas, workshops ou pequenas experiências para quem apenas deseja experimentar, sobretudo entre os meses de Março e Novembro. São dezenas de vias de escalada com 10 a 20 metros. Como as possibilidades são muitas, os preços também variam. Para estar a par da periodicidade das actividades, a melhor forma é visitar o site da Desnível (www.desnivel.pt). Contudo, independentemente da programação, pode sempre contactar a associação se tiver um grupo de cinco ou mais pessoas – os especialistas em escalada têm todo o gosto em acompanhar os fãs desta prática nestas aventuras pelas arribas de Cascais, apenas visíveis a quem passa de barco.

Arribas do Farol da Guia, Cascais

Este trilho histórico, cuidadosamente restaurado pela Câmara Municipal de Cascais, foi em tempos uma ligação essencial entre a vila e as aldeias vizinhas do concelho. Hoje, conecta a Serra de Sintra ao coração de Cascais, oferecendo um percurso panorâmico de sete quilómetros, quase inteiramente imerso na natureza. Ideal para passeios tranquilos a pé ou de bicicleta, é um refúgio para observadores de aves e amantes da natureza. O trilho proporciona ainda um acesso conveniente à Quinta do Pisão, sendo o local perfeito para uma pausa revigorante ao longo do caminho.

R. das Quintas, Cascais.

Inaugurado em 1869, o Teatro Gil Vicente é o mais antigo de Cascais. Embora actualmente não se encontre aberto ao público com programação regular, por necessitar de obras, o seu edifício e história podem – e devem! – continuar a ser admirados. Foi aberto numa altura em que a vila piscatória se preparava para ganhar protagonismo nacional, quando os reis portugueses começaram a fazer férias na região. Esse factor foi decisivo para Cascais e para o Teatro Gil Vicente: atraiu público e negócios, fez desenvolver a região. O rei D. Luís I e várias pessoas próximas da família real costumavam assistir ali às peças, que começaram a ser feitas por alguns dos principais actores nacionais e internacionais da época.

Com o passar do tempo, o Teatro Gil Vicente nunca perdeu a sua relevância. Em 1965, tornava-se a casa do Teatro Experimental de Cascais, que se mantém até hoje como a mais importante companhia do concelho. Muitos dos grandes nomes da representação, da música, das artes e das letras passaram pelo teatro, que hoje é gerido pela Câmara Municipal de Cascais em parceria com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais, que ali tem a sua sede há várias décadas.

Rua Gomes Freire, 5, Cascais. 214 830 522

É em plena Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, a poucos minutos da estação de comboios, que pode encontrar a Cabana das Paixões. Desde 2000 que o espaço é explorado pela família Brito: neste momento é o filho Gonçalo que está à frente do negócio, que tem sido renovado aos poucos, mantendo a tradição mas modernizando alguns elementos. Com 150 lugares sentados, o conceito é simples: servir peixe fresco, direitinho da grelha para a mesa, com a mesma qualidade das grandes marisqueiras da região mas a metade do preço.

O peixe que vem com o típico aroma a carvão, é acompanhado de saladas bem temperadas e batatas bem cozidas. Com um ambiente castiço e um espaço com características únicas, é pouco visitado pelos turistas que estão a descobrir Cascais, mas bem frequentado pelos locais – muitos dos quais gostam de comer à sombra das árvores, seja no Verão ou num bom dia de Inverno.

Inevitavelmente, o futuro da Cabana das Paixões estará indexado ao projecto de empreendimento da Quinta dos Ingleses, que neste momento se encontra embargado. Seja como for, a ideia é que o restaurante possa ter uma nova vida nas futuras instalações do Grupo Sportivo de Carcavelos, que gere a concessão do espaço, se eventualmente ambas as entidades tiverem de sair daquele local (quase) secreto.

Avenida General Eduardo Galhardo, 71, Carcavelos. Ter-Qui e Dom 12.00-15.00; Sex-Sáb 12.00-15.00, 19.30-22.00. 969 639 473