Arte, Desenho, Ilustração, The Project Q-19
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Quatro projectos que mostram o contágio da criatividade

Em dias estranhos como estes, é tentador ficar em pijama a olhar o vazio. Mas, entre quatro paredes, aquilo que parece uma limitação pode ser inspiração. Apresentamos-lhe quatro projectos que motivam os artistas a criar em plena pandemia.

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A pandemia actual fechou a arte dentro de portas. E, ainda que muitos artistas independentes já trabalhem a partir de casa normalmente, fazê-lo por opção ou por imposição não é propriamente a mesma coisa. Posto isto, a criatividade fica limitada aos espaços e objectos do interior e a produção artística, largamente impulsionada pelos sentimentos e experiências vividas no exterior, fica asfixiada pela inércia e repetição dos dias. Para contrariar a falta de inspiração e motivação da quarentena, têm surgido projectos como exposições online, leilões, desafios temáticos ou concursos que convidam os artistas a criar. Fique a conhecê-los.

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Quatro projectos que mostram o contágio da criatividade

Vai ficar tudo bem

Rute Arnóbio passou de “viajar todos os dias pelo mundo inteiro para viajar pelas divisões da casa”. Isto porque as duas lojas Águas Furtadas Design, que vendem ilustração, arte e cerâmica a clientes de toda a parte, estão encerradas devido ao surto. Face a um “sentimento de impotência” para com a comunidade médica, os artistas residentes e os colaboradores de ambos os espaços, a responsável resolveu organizar uma exposição digital que é, ao mesmo tempo, um leilão solidário.

Vai ficar tudo bem, iniciativa que vai buscar o nome às palavras emolduradas por um arco-íris que se tornaram numa mensagem universal de esperança, desafia os artistas a submeter obras sobre as experiências e sentimentos vividos nesta quarentena.

Diariamente, às 14.00, são publicados no Instagram três trabalhos de um artista que aguardam licitação durante uma semana. No final, 50% do valor angariado reverte para o Hospital de São João – quanto ao restante, 25% são para o autor e os outros 25% para a galeria. A ideia é que, depois da pandemia, a exposição passe do ecrã para a parede.

Creativírus

Na primeira semana de isolamento, as designers de moda Inês Torcato e Margarida Veiga viram o desalento instalar-se entre os seus amigos, muitos com profissões criativas. “As pessoas deixaram de poder sair de casa e estavam a ficar sem conseguir produzir arte”, diz Inês. Em duas horas, fez um brainstorming com Margarida para desenvolver algo que pudesse devolver o ânimo aos artistas. Nascia, assim, o Creativírus, projecto que quer “contrariar o marasmo e a decadência [da quarentena] ao máximo”, aponta Margarida Veiga, também designer gráfica.

A iniciativa foi lançada no Instagram, plataforma onde as duas amigas publicam desafios semanais e temáticos para incentivar os artistas a criar uma obra (ou várias). “Lançar um tema por semana faz com que as pessoas criem, pelo menos, uma obra por semana.” Até agora, os temas foram a música e a ajuda ao próximo.

Se, inicialmente, a ilustração era a expressão artística encorajada, hoje o Creativírus está aberto a todas as formas de arte, música e escrita incluídas. “O importante é querer sair dessa mesmice e do não fazer nada”, conclui Margarida.

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The Project Q-19

Para uma andorinha como Julieta Rocha, ilustradora freelancer, professora de inglês online e housesitter, ter um poiso é uma realidade bem mais estranha do que o normal. Em duas semanas, teve de trocar Manchester “pelo pequeníssimo lugar de Lagarelhos”, uma aldeia com dez pessoas em Cinfães do Douro, Viseu. O choque cultural dificilmente podia ser maior. A casa de família pareceu-lhe tão “alienígena e insular” que a despertou para a reflexão sobre “como seriam todos os espaços de quarentena de outros artistas à volta do mundo”. “Procurei perceber como poderíamos partilhar essas diferentes experiências, as vistas [da janela] e o nosso trabalho”, explica.

Para isso, criou o The Project Q-19, galeria de arte e comunidade no Instagram onde os artistas são convidados a “partilhar o espaço em que estão isolados, através de três desenhos, e a inspirar outros três artistas a fazer o mesmo”. Este é, sobretudo, um “projecto de desenho”, meio que Julieta considera “muito acessível e relativamente simples”, sobretudo num período em que comprar materiais artísticos é mais complicado.

Apesar de ser uma circunstância surreal, a quarentena já lhe deu uma forma diferente de ver os espaços e os objectos à sua volta. “O banal torna-se digno de reprodução”, afirma. Julieta Rocha diz-se uma sortuda. Está isolada numa “casa de aldeia com um pequeno jardim de laranjeiras e limoeiros, cheia de objectos decorativos aleatórios e pinturas d’A Última Ceia”. É de lá que contribui para “fazer, mostrar e espalhar arte”. “Há que infectar o mundo com algo melhor.”

Home must be the place

Há muito que Célia Esteves, fundadora da GUR, tencionava fazer um concurso a partir do qual pudesse produzir uma colecção de tapetes artesanais. A falta de tempo e a rotina acabavam sempre por deixar a ideia na gaveta. E se a quarentena lhe impôs várias condicionantes – as encomendas diminuíram e os envios estão atrasados –, deu-lhe também uma oportunidade para, finalmente, concretizar essa iniciativa.

Chamou-lhe, apropriadamente, "Home must be the place", em referência ao dever social e cívico que todos temos actualmente. Os participantes devem “tentar inspirar-se nos objectos do dia-a-dia” e criar um design que queiram ver num tapete GUR. Depois, é só partilhá-lo através de uma publicação e das stories do Instagram (ou por e-mail).

O concurso decorre até 15 de Abril e podem ser submetidos cinco designs por pessoa. O júri, composto por Célia Esteves, pelo ilustrador Júlio Dolbeth e pelo designer Sam Baron, elegerá os três vencedores, que receberão um tapete da sua autoria e 100€ pelos direitos do design.

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