João Cepeda (Director de 2010 a 2015)
Na primeira visita ao Porto depois do lançamento da revista, o nosso crítico de restaurantes Lourenço Viegas enviou-me um sms (não havia WhatsApp) com um pedido estranho: “Não estragues isto sff”. Nos três anos anteriores, Lourenço tinha assistido à transformação de Lisboa com um misto de orgulho e desconfiança. O orgulho de fazer parte daquela revolução e a desconfiança sobre o resultado de tantas mudanças. O Porto era ainda mais sensível. Uma cidade bonita, genuína, antiga, talvez não precisasse de um ciclone de progresso. A verdade é que já não havia nada a fazer. Quando começámos a esgravatar a cidade percebemos que a revolução estava à porta. Os projectos pareciam soldados à espera de um grito de guerra. Centenas deles: restaurantes, bares, hotéis, lojas, tudo o que se possa imaginar, em papel ou em tijolo. E de repente aconteceu. Ao final do primeiro número, as nossas listas de recomendações já tinham de mudar de alto a baixo para acomodar as novidades. E o telefone não parava. Pedidos atrás de pedidos para anunciar o que aí vinha. Foi assim durante meses e anos. O Porto mudou. E nós tivemos pontaria: aquele ano, 2010, soou a tiro de partida.