Branko
“Nada é impossível.” Se a pandemia provou alguma coisa a João Barbosa, o DJ e produtor conhecido por todos como Branko, foi isto. “Aconteceram coisas que se nos tivessem perguntado há uns meses não acreditaríamos. Arranjaram-se soluções para espectáculos que nunca nos passariam pela cabeça. A partir daqui já nada volta ao que era dantes”, diz. Montou um estúdio em casa, na impossibilidade de sair para a “missa dos beats”, e deu-nos música a todos no Instagram, o palco digital que substituiu as actuações ao vivo durante a quarentena. O suor, a dança, os amigos, a música, o bate-pé, a pista, é disso tudo que Branko sente falta, ele que está do outro lado da mesa de mistura.
É a esse cenário que deseja voltar assim que a vacinação o tornar possível. “Tudo isto é um esforço colectivo, e tomar a vacina acho que te dá uma sensação de confiança para pensares em fazer coisas. Tenho saudades de entrar num clube para ouvir música, mas também há o lado de criação e de dar ao público esses momentos de diversão”, conta, observando que a criação musical deixou de ser um acto social para passar a ser solitário, embora injectado com as novas ideias que surgiram do período que estamos a viver.
Ideias que costumavam vir das viagens, das quais as saudades são muitas. “Eu sou muito focado na experiência, e as viagens foram uma peça que se desencaixou na minha vida pessoal e profissional. A ideia de chegar a um sítio novo, absorver o que vejo, o que oiço, tudo isso acaba por ser parte do meu combustível para viver e para criar”, lamenta o produtor, que admite que durante a pandemia se criaram espaços vazios que foram sendo preenchidos com oportunidades. O que não impediu dificuldades. “A nível psicológico muita coisa saiu afectada, e não podemos ignorar isso, assim como toda a vertente social e cultural que tem de ser reconstruída. Parece que estamos a dar a volta inteira ao tabuleiro do Monopólio e agora voltamos a passar na casa de partida”.
Desejos para 2021
Desbloquear as relações: “Sinto muita falta de estar com pessoas de forma despreocupada. Agora, estar com pessoas cria um bloqueio na relação e o que queria era voltar a abrir o abraço, para jantar com pessoas, para estar com a família.”
Partilhar sessões ao vivo: “Tenho muita vontade de voltar a partilhar sessões de estúdio, que era uma coisa que fazia muito. Há também uma série de ideias de coisas ao vivo que ficaram on hold e queria que voltassem a acontecer em 2021.”
Acabar o disco: “Quero muito terminar o meu próximo disco, que comecei na quarentena, e voltar à edição. Tendo em conta tudo o que acabámos de viver, as coisas vão ser diferentes, os formatos tradicionais nunca mais serão os mesmos.”
Por Francisca Dias Real