Wandson Lisboa
©António Alte da VeigaWandson Lisboa
©António Alte da Veiga

Plano de vacinação e outros desejos para 2021

Sete personalidades – da gastronomia, da música, do teatro, das artes – revelam os seus planos e desejos para 2021.

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O plano de vacinação está a andar. Primeiro uns, depois outros. Primeiro uma dose, depois outra. Aguardam-se então alguns dias, uma semana, duas, à espera que se formem os anticorpos. Ainda não está: faltam os outros. Tem de ser a maior parte da população. Vai demorar. Mas nós estamos em pulgas. Enquanto espera, a equipa da Time Out meteu conversa com sete personalidades – da gastronomia, da música, do teatro, das artes – para saber o que vão fazer quando ganharem o maior prémio de todos, a liberdade, depois de um ano de azar.

Recomendado: Os projectos que vão mudar a cidade em 2021

Branko

“Nada é impossível.” Se a pandemia provou alguma coisa a João Barbosa, o DJ e produtor conhecido por todos como Branko, foi isto. “Aconteceram coisas que se nos tivessem perguntado há uns meses não acreditaríamos. Arranjaram-se soluções para espectáculos que nunca nos passariam pela cabeça. A partir daqui já nada volta ao que era dantes”, diz. Montou um estúdio em casa, na impossibilidade de sair para a “missa dos beats”, e deu-nos música a todos no Instagram, o palco digital que substituiu as actuações ao vivo durante a quarentena. O suor, a dança, os amigos, a música, o bate-pé, a pista, é disso tudo que Branko sente falta, ele que está do outro lado da mesa de mistura.

É a esse cenário que deseja voltar assim que a vacinação o tornar possível. “Tudo isto é um esforço colectivo, e tomar a vacina acho que te dá uma sensação de confiança para pensares em fazer coisas. Tenho saudades de entrar num clube para ouvir música, mas também há o lado de criação e de dar ao público esses momentos de diversão”, conta, observando que a criação musical deixou de ser um acto social para passar a ser solitário, embora injectado com as novas ideias que surgiram do período que estamos a viver.

Ideias que costumavam vir das viagens, das quais as saudades são muitas. “Eu sou muito focado na experiência, e as viagens foram uma peça que se desencaixou na minha vida pessoal e profissional. A ideia de chegar a um sítio novo, absorver o que vejo, o que oiço, tudo isso acaba por ser parte do meu combustível para viver e para criar”, lamenta o produtor, que admite que durante a pandemia se criaram espaços vazios que foram sendo preenchidos com oportunidades. O que não impediu dificuldades. “A nível psicológico muita coisa saiu afectada, e não podemos ignorar isso, assim como toda a vertente social e cultural que tem de ser reconstruída. Parece que estamos a dar a volta inteira ao tabuleiro do Monopólio e agora voltamos a passar na casa de partida”.

Desejos para 2021
Desbloquear as relações: “Sinto muita falta de estar com pessoas de forma despreocupada. Agora, estar com pessoas cria um bloqueio na relação e o que queria era voltar a abrir o abraço, para jantar com pessoas, para estar com a família.”

Partilhar sessões ao vivo: “Tenho muita vontade de voltar a partilhar sessões de estúdio, que era uma coisa que fazia muito. Há também uma série de ideias de coisas ao vivo que ficaram on hold e queria que voltassem a acontecer em 2021.”

Acabar o disco: “Quero muito terminar o meu próximo disco, que comecei na quarentena, e voltar à edição. Tendo em conta tudo o que acabámos de viver, as coisas vão ser diferentes, os formatos tradicionais nunca mais serão os mesmos.”

Por Francisca Dias Real

Frederico Pombares

Quando a pandemia se instalou, Frederico Pombares, argumentista, guionista e gastrónomo, era o homem mais bem preparado do mundo para a enfrentar. “Mais caseiro do que uma boa mousse”, como se autoclassifica, os meses de confinamento não lhe fizeram mossa. Conversando com o criador de Último a Sair e Telerural sobre o que espera de 2021, descobrimos um ser sensível, provavelmente possuidor de colesterol alto, que teme que todos nos tornemos mais frios quando o bicho baixar a guarda e a vida regressar ao que era.

Os espectáculos e as idas aos restaurantes foram das coisas de que mais sentiu falta em 2020. O ano que ficou para trás não foi de oportunidades, acredita. Só mesmo para “quem abriu uma fábrica de máscaras e de álcool-gel”. No seu caso, que se lançou na aventura de ter um restaurante em Setembro, “foi só estúpido”. Promessas para que a vacina chegasse mais depressa, não fez. Já lhe bastou quando fez uma aposta com a promessa de ir a pé até à Picheleira. “Não a cumpri na altura nem a vou fazer de certeza.” Perguntámos-lhe se não reconsideraria, mas para Pombares a questão é bastante mais simples. Uma pergunta dessas “só pode ser feita por alguém que nunca foi à Picheleira”.

O ano da Covid-19 não trouxe só coisas más. Também trouxe momentos de clarividência. Pelo menos a Frederico Pombares. Tossir sem ser olhado de lado tornou-se uma tarefa arriscada, confessa. Mas, depois de muito reflectir, chegou à conclusão que “antes as pessoas tossiam ou espirravam para disfarçar um pum”, e que nesta fase pandémica já se faz exactamente o inverso – “dão-se puns para disfarçar a tosse e o espirro”. Há coisas boas, vá lá.

Agora, tentando ser sério, o medo que o invade não é o que se leva desta pandemia, “mas sim o que se perde”. “Tenho muito receio que as pessoas se habituem a não se abraçar e a não se cumprimentar com calor e carinho. Tenho medo que se desabituem de ser afectuosas”, conta-nos num momento de sensibilidade. Para 2021, o único plano que tem é que o Lés-a-Lés, o seu restaurante, em Lisboa, sobreviva e que se torne no que pretende para que possa abrir outro no Porto e depois expandir-se pelo mundo. “Se passarmos a rebentação, o mar estará muito mais calmo à frente.” No entretanto, continuará por casa a ver jogos de futebol à maluca e a fazer inveja aos amigos casados, assegura-nos.

Desejos para 2021
Não falir o restaurante: “O único plano que tenho é que o meu restaurante sobreviva e que se torne o que pretendo, para abrir no Porto e depois abrir o Lés-a-Lés pelo mundo.”

Continuar sem ver em 2021 quem não viu em 2020: “Se não vi alguém durante 2020 inteiro, muito provavelmente não vou querer ver em 2021, até porque devo ter feito de propósito para não ver.”

Contrariar as angústias: “Tenho muito receio que as pessoas se habituem a não se abraçar e a não se cumprimentar com calor e com carinho.”

Por Sebastião Almeida

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Joana Barrios

A actriz, autora, apresentadora e o mais que lhe der na gana tem aproveitado para se tornar melhor doceira. Planos para o ano novo? Ginástica. Muita ginástica.

O que fez mais falta neste ano de pandemia?
Tudo o que é espontâneo. Gosto muito de cozinhar.

O que é que cozinhaste mais este ano? E o que faltou fazer?
Este ano fiz muitos doces, o que é bastante raro. Faltou-me fazer um bolo-rei para a família, mas a minha mãe comprou o bolo-rei das festas para “ajudar a economia local”. Eu acho que é porque já ninguém aguenta mais um projecto DIY meu.

Que preocupações tinhas que cresceram?
Começo pela falta de representatividade e pela intolerância generalizada. Este momento sublinhou as assimetrias sociais e económicas (racismo, homofobia, transfobia, bifobia) a um nível terrível, e originou uma contracção bem preocupante nas áreas culturais. A precarização do sector não foi um problema de 2020: é um problema estrutural muito anterior a esse ano. A exposição/mediatização desta precarização é que é a grande novidade. Preocupa-me que as pequenas estruturas não consigam sobreviver a esta pausa. Preocupa-me que a necessidade de uma ideia de produção capitalista do pensamento e da expressão artística se sobreponha à criação. Preocupa-me que a redução das equipas de trabalho dentro das estruturas, para viabilizar a realização de espectáculos e demais eventos em segurança, possa vir a tornar-se definitiva. Preocupa-me muito tudo isto, porque a verdadeira riqueza da cultura assenta num tecido cultural diversificado.

Quando é que esperas levar a vacina? Já tens planos para o depois?
Farei parte do 59.º grupo a ser vacinado, por isso vou continuar a cumprir as normas de segurança e protecção individual, que são consequentemente de conjunto, recomendadas pela DGS: uso de máscara e mãos muito bem lavadas a todos os minutos.

Quem é que não viste no ano passado e que queres muito ver em 2021?
Todxs xs amigxs que vivem fora do país, mas em especial a minha amiga Maria, que vive em Londres, e o meu amigo Jean-Laurent, que vive em Paris.

Apesar de tudo, que coisas boas trouxe 2020?
2020 foi o ano em que o ARMÁRIO (Joana Barrios, André Godinho, Joana Cunha Ferreira e Rita Rolex, produzido por Maria João Mayer) ganhou o prémio da SPA como melhor programa de entretenimento. O ano em que publiquei o meu segundo livro, O da Joana, por exemplo. Como aquelas flores que nascem no meio das pedras, sabes?

Já compraste bilhetes para os festivais de Verão ou dispensas?
[Risos] Aquilo de que senti mais saudades em 2020 foi dos bailes de Verão da minha terra. Era só isso que eu queria: ir a um baile.

Não vais ter saudades da enormidade de horas de streaming que se consumiu em 2020?
Muitos dias houve em 2020 em que nem sequer liguei o computador ou a televisão. E que guardei o telemóvel numa gaveta. Serei normal?

Ficaste com vontade de estar permanentemente em festa, assim que possível, ou a pandemia revelou as vantagens de uma vida mais sossegada?
Dias houve em que olhei pela janela à noite, antes de me deitar, vi a rua deserta e pensei que já dava um pé de dança no Lux. Tive e tenho muitas saudades de todas as minhas voltas e passeios a pé na cidade, na praia e no campo. Só gostava de poder retomar essas actividades com a moderação possível e de fazer ginástica num ginásio.

Por Raquel Dias da Silva

Nuno Saraiva

Anda sempre com Lisboa debaixo do traço, entre varinas, marinheiros ou fadistas. Personagens que já integraram muitos dos seus trabalhos, da arte pública a azulejos criados para um projecto muito pessoal chamado City of All. É também o homem das ilustrações do Inimigo Público, que andam ao sabor da agenda mediática, contaminada este ano pelo coronavírus. Mas não só. Neste 2020, o tema do racismo esteve quente e Nuno Saraiva viu-se cercado pelas críticas da própria PSP por ter incluído um polícia na sua caricatura da sinistra vigília, em frente às instalações da SOS Racismo, por um grupo mascarado de nacionalistas com tochas.

Deste 2020, Nuno Saraiva não leva nada de positivo. “Absolutamente nada. Envergonha-me e entristece-me saber de alguém que aponte alguma coisa de positivo deste ano a esquecer”, diz. Arriscamos: Nuno Saraiva venceu o Prémio SND (Society for News Design) Bronze, na Categoria Revistas, com a ilustração da reportagem “Um Vírus Fora da Lei”, para a revista do Expresso; leiloou trabalhos para ajudar a União Audiovisual e ainda fez um belo Diário de uma Quarentena em Risco.

Ainda assim, confessa ter aprendido alguma coisa no ano passado: “Aprendi que afinal, ao contrário do que sempre ouvi dizer – que a História nunca se repete –, afinal parece repetir-se nas asneiras, no regresso dos hitlerzinhos e salazarescos”, diz o ilustrador, que acredita que além da crise pandémica vivemos uma crise social e política. Como consequência, sente-se mais combativo: “Elegi o combate ao politicamente correcto, no género fundamentalista, como cruzada.”

Para 2021 o ilustrador não deixa de fazer planos: “Livros, banda desenhada e pinturas murais. Em suma: respirar. Respirar sem máscaras, enfrentar o 2021 sem artefactos e acima de tudo sem aquela coisa tóxica que nos invadiu o 2020: a seita das redes sociais”, desabafa. Também nos diz qual é a primeira coisa que quer fazer assim que ficar imunizado com uma vacina: dançar.

Desejos para 2021
Encontrar duas “miúdas giras e desenvoltas” que diz não ver há muito tempo: “A filosofia e a biologia, as duas de mão dada.”

Os planos assegurados: fazer livros, banda desenhada e pinturas murais.

A primeira coisa que vai fazer assim que estiver vacinado: dançar.

Por Renata Lima Lobo

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Pedro Abril

O chef do Chapitô à Mesa nunca teve tanta vontade de lamber corrimões. Mas o que quer mesmo para 2021, é deixar de andar com “um preservativo integral” na cara.

Levas a vacina e depois? Vais começar a lamber corrimões na rua, só porque agora podes?
Nunca tive tanta vontade na vida de lamber corrimões. No entanto, se não planearmos bem a coisa, corremos o risco de haver quem ache que isto funciona como um interruptor ON/OFF e de borrarmos a pintura, em vez de contribuirmos todos para a solução.

Qual é a primeira coisa que vais fazer quando o mundo começar a voltar ao normal?
Abraçar os meus pais, os meus amigos e fazer a puta da maior festa de que há memória.

Alguma vez vais voltar a ficar fechado em casa?
Não parei muito em casa, mesmo em tempos de confinamento. Se calhar um pouco mais do que o habitual, mas não estive como a maioria a bater com a cabeça nas paredes. Inventei muito trabalho para fazer, que me ocupou a cabeça. Portanto, diria que, apesar de não ter tido essa experiência, a partir de agora vou dar outro valor à liberdade e a fazer o que me apetece, quando me apetece, com quem me apetece e onde me apetece.

O que fez mais falta este ano? Os espectáculos, os restaurantes, as saídas à noite, as viagens?
Tudo. Apesar de ter continuado a ir muito a restaurantes, já não sabe ao mesmo. É tudo muito frio e hospitalar. Sinto falta de viajar sem ter de andar com um preservativo integral [máscara] e sempre à espera de um novo lockdown que me vai reter num país que não o meu. Sinto falta de uma boa rave – sou um mega junglist e sigo muito a cena drum & bass nacional. Sinto falta de ir a um concerto ou a uma festa e andar tudo à cotovelada para passar. Sinto falta do humanismo nas pessoas, da proximidade, do contacto.

E de tossir sem ser olhado de lado, como se tivesse peçonha?
Tenho de admitir que, mesmo nos tempos que correm, me estou a cagar se olham para mim. Se me apetecer, tusso. Não são só os doentes covid que tossem!

Vais acordar a suar, a meio da noite, a pensar que estás em Março de 2020?
Se acordar em Março vou dizer ao tio Costa: “Seu burro, não é apenas uma gripezinha, fecha o tasco já e mete a malta a usar máscara antes que a miragem do filme Contágio se torne numa realidade em apenas alguns dias. P.S.: Despede o Cabrita.”

Fizeste alguma promessa, para que a vacina fosse encontrada depressa?
Por acaso não me lembrei. No Euro [2016] prometi que tatuava o nome do jogador que marcasse o golo da vitória na final, se lá chegássemos, e cumpri. Tatuei um pino e um E9. Se calhar, teria vindo mais rápido a vacina. Ninguém acreditou na rapidez com que a vacina chegou ao mercado.

Quem é que não viste em 2020 que vais ver de certeza em 2021?
Um dos meus melhores amigos e quase meu irmão, João Cruz. Ele vive na Austrália e por causa desta palhaçada toda não conseguiu vir este ano a Portugal. Sentimos a tua falta, dude.

O que devemos levar desta pandemia, além de termos aprendido a fazer pão em casa?
Precisamos de dar mais valor às pessoas. Deu para perceber que temos na nossa vida muita merda supérflua que dispensamos; a única coisa que não podemos dispensar são as pessoas, os afectos, a saúde e a dignidade humana.

Estão sempre a dizer-nos que as crises também são momentos de oportunidade. De “que grande palermice” a “é bem verdade”, como classificarias o legado de 2020?
Não devemos confundir todas as crises por que passámos e vamos passar. Todas têm carizes diferentes. Esta, apesar de calamitosa, afectou quase todo o mundo, portanto a resposta à mesma foi diferente e muito mais musculada do que uma crise pontual num país ou dois. Dito isto, acredito piamente que daqui vão sair imensas oportunidades, nem que seja a hipótese de reestruturar os nossos negócios e torná-los mais coesos e sustentáveis. Muitos negócios, antes da crise, já não eram sustentáveis economicamente. Havia demasiados players no mercado. Acredito que os modelos de negócio, daqui para a frente, terão em conta outros factores que antes não eram óbvios, como a dependência do mercado estrangeiro ou a flexibilização da contratação e do despedimento.

Que planos tens assegurados para 2021? Muito trabalho, muitos eventos com os NKOTB [New Kids On The Block, colectivo de jovens cozinheiros de Lisboa], novidades das boas e novas parcerias de trabalho. Não querendo cair no erro dos cartomantes no fim de 2019, acho que 2021 vai ser do caralho.

A pandemia deu-te vontade de ter uma vida mais arejada, saudável, ágil, ou de te mudares para Banguecoque e de passar o dia numa cave pouco ventilada a jogar gamão e a virar cervejas? Deu-me vontade para não deixar para amanhã o que posso fazer hoje; deu-me clareza sobre o que quero para mim e para os meus no futuro; deu-me clareza no caminho profissional que quero seguir; deu-me ferramentas que não sabia ter em mim para enfrentar uma crise. Não me vejo a viver noutro sítio que não Lisboa, eu sou Lisboa.

Por Sebastião Almeida

Sara Barros Leitão

“Um clube do livro, um podcast, um espectáculo”: é o que Cassandra, a estrutura artística de Sara Barros Leitão, profetiza para o imprevisível 2021. Um ano auspicioso, dir-se-ia. Mas a vencedora da primeira edição do Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II – eleita ainda em 2020, imagine-se – não romantiza “o isolamento terrível” causado pela pandemia nem as provações vividas e por viver.

“Não prevejo nada de muito bom, a não ser que haja coragem política”, confessa, crente de que nem as suas vitórias nem as de outros reparam a falta de protecção social, sobretudo no sector da cultura, ou as regras impostas aos encontros em carne e osso, tão necessários à vivência das artes performativas, ou até a “urgência de reestruturarmos a nossa forma de consumir e distribuir a riqueza”. Afinal, mesmo com a vacina e “o fim à vista”, o impacto da pandemia continua a reverberar.

“Uma tragédia não é uma oportunidade; é uma tragédia que tem de ser resolvida. Num sentido macro, as crises são só oportunidades para vermos o que não andámos a querer ver durante muito tempo”, alerta. E não deixa, apesar disso e por isso, de fazer resoluções. Não são exóticas, avisa, mas são francamente desejadas: celebrar e defender o mérito da investigação científica, poder ir à biblioteca municipal sem ter de reservar uma ida lá e, suspira, passar um dia com os avós “a apanhar limões, a regar e a conversar”.

Desejos para 2021
Continuar a tentar salvar o mundo: “É muito difícil percebermos, numa sociedade utilitarista, como é que uma sinfonia nos pode salvar. Mesmo num momento em que tudo está a cair, os artistas são como a banda do Titanic, que não pára de tocar.”

Requisitar livros quando lhe apetece: “Não sei como é no resto do país, mas na Biblioteca Municipal do Porto só posso entrar com reserva, o que acho que é um atentado à democracia. Quero muito que voltem a funcionar de forma livre.”

Voltar a dar beijinhos e abraços: “Vi muitas vezes os meus avós à janela e em videochamadas, mas gostava de poder estar com eles de forma mais regular e afectiva, a comer à mesma mesa, a rir e a tirar fotografias mais próximas, sem estas máscaras e esta distância.”

Por Raquel Dias da Silva

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Wandson Lisboa

Visitar a família no Maranhão é o que o criativo brasileiro mais quer, bem como “dar e receber beijinhos”. “A gente tem que valorizar cada boca que vamos beijar em 2021”.

Já pensaste na foto de Instagram que vais fazer quando fores tomar a vacina? Como vais eternizar o momento?
Cresci ouvindo no Brasil que uma grande pica no cu é uma injecção no bumbum aqui em Portugal. Então, assim de repente, só consigo pensar em pica no cu, no braço, no coração.

Qual é a primeira coisa que vais fazer quando estiveres imune ao coronavírus? Podes abrir o coração.
Estou com muitas saudades de abraços intermináveis. Daqueles que sufocam. Quero muito poder dar e receber beijinhos. Quero poder beber finos no Aduela e pôr um pouquinho da bebida do meu copo no copo vazio dos amigos.

Com quem é que não fizeste uma foto em 2020 e vais de certeza fazer em 2021?
Mandei várias mensagens para a Beyoncé a programar isso, mas nesse ano novo de certeza que vai acontecer. Agora falando sério: quero muito uma foto com a família Lisboa que está no Maranhão.

Já tens planos para a vida pós-Covid? Conta.
Visitar minha casa. Acho que é das coisas mais importantes agora. Não há outra hipótese. Pegar um avião cheio, pousar na ilha de São Luís e dizer com sotaque à la Tieta do Agreste: cheguei, Maranhão!

O que te anda a fazer mais falta? As saídas à noite? Os festivais? Os flirts sem regras de segurança? Beber do mesmo copo que desconhecidos?
Os festivais! Sem dúvida! Trabalho na comunicação de um e me fez falta estar ali atento, de um lado para o outro, a deixar bonito. Sinto falta de ver gente a sorrir e a ser embalada pela música ao vivo. Também sinto saudades de ir jantar no Maus Hábitos e, de repente, estar a dançar na pista de dança. Saudades do livre. Do possível.

Que novos hábitos ou hobbies é que esta pandemia te trouxe e queres continuar a ter?
Eu sempre gostei de cuidar de plantas, e ficar mais por casa fez-me focar ainda mais nelas. Estão por todo lado e dão mais alento e vida a esses dias que foram e estão a ser tão incertos. O verde é a esperança, não é?

Por causa da pandemia, a saúde mental da maioria das pessoas está no lodo. Tens conselhos valiosos para a malta não bater no fundo até levar a vacina?
Está toda gente em baixo. Estou. Muitas coisas que estavam programadas caíram por terra. Muitos planos, muitas economias, muito de mim ficou por 2019 com esperanças para 2021. Acredito muito que pensar no outro agora é importante. E que ninguém está sozinho. Eu agarrei no streaming, nas plantas e nas chamadas de vídeo com os meus. Também dou sempre umas voltas a correr e tem me ajudado a ficar menos ansioso na espera de regressar ao meu país para umas férias. Vai de cada um. Até meu inglês anda a melhorar.

Que lições devemos tirar desta pandemia, além de termos aprendido a fazer pão em casa e a cuidar de plantas?
Que beijo na boca é incrível e a gente tem que valorizar cada boca que vamos beijar em 2021. Nada mais. Anda aqui, Time Out, dá-me um beijinho.

O Presidente do Brasil, o teu país natal, é um dos grandes negacionistas da Covid-19. Se pudesses mandar uma mensagem ao Bolsonaro, qual seria?
O Brasil tem Presidente?

Por Mariana Duarte

Na primeira pessoa

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