A sala de Fernando Marques de Oliveira
©João SaramagoA sala de Fernando Marques de Oliveira
©João Saramago

Na casa de... Fernando Marques de Oliveira

A mistura entre o velho e o novo está à vista. Fernando Marques de Oliveira é o artista do equilíbrio. Tanto pinta inspirado na geometria urbana, como olha com admiração para peças de outros tempos

Mariana Morais Pinheiro
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Um cadeirão em tecido brocado com uns braços de madeira aconchegantes, do tempo de Napoleão III, ocupa o centro da sala. Há peças da Companhia das Índias sobre a mesa em frente ao sofá, e outras mais recentes, como os quadros de Fernando Marques de Oliveira pendurados pelas paredes cheias.

“Gosto muito de peças antigas. Estou sempre atento aos leilões e leio imensa literatura sobre o assunto. Tenho uma predilecção por objectos dos séculos XVIII e XIX, que geralmente pertenceram a casas com história, carregadas de afectos”, conta o artista plástico, que fez recentemente uma exposição antológica da sua obra na Cooperativa Árvore e no Museu Soares dos Reis, e da qual resultou o livro “Fernando Marques de Oliveira – Espaços Imprevisíveis”.

“Esta exposição deu muito trabalho, foi preciso recolher muita coisa em casa de coleccionadores. Reunimos mais de uma centena de obras”, diz, acrescentando que apesar dos 40 anos de carreira, a pintura começou bem antes na sua vida.

“O meu pai tinha uma empresa de seguros e queria que eu fosse trabalhar com ele, mas percebeu muito cedo que eu tinha uma grande tendência para as artes, o que era normal, fui educado num meio onde havia muitos artistas. Ele era, inclusivamente, coleccionador de arte contemporânea e antiguidades. Muitas peças que tenho cá em casa são de família”, explica, enquanto dá uma passa no cigarro e lança a baforada de fumo para longe.

“Lembro-me que me ofereciam muitos livros de arte e que a partir deles eu fazia cópias dos desenhos de outros artistas com lápis de cera. No livro está um desses trabalhos, feito quando tinha 15 anos”.

Desde então, o trabalho de Fernando Marques de Oliveira passou por diversas fases, como seria de esperar. “Percebi que tínhamos de ter um fio condutor no nosso trabalho e eu tive de descobrir o meu”.

Agora faz uma pintura abstracta, que vai buscar as formas geométricas às paisagens urbanas. “Fiz uns bichos pelos quais me fascinei, mas nunca consegui explicar. Foi uma fase influenciada pela chamada Bad Painting, que estava muito na moda nos anos 80”.

Alguns elementos dessas obras aparecem agora na arte abstracta e geométrica do artista que aposta nos pretos e nos cinzentos, em contraste com cores pop e texturas feitas com várias camadas de tinta.

Na casa de... Fernando Marques de Oliveira

Vidros e cristais

Uma vitrina iluminada guarda uma série de cristais da Boémia e outros vidros mais antigos. “Comprei um lote num leilão porque queria um copo específico, mas quando dei por ela, tinha outro que havia pertencido à rainha Dona Maria Pia”.

Livro

“Espaços Imprevisíveis” é uma reunião de 120 obras de Fernando Marques de Oliveira com textos sobre as exposições que realizou durante estes 40 anos de carreira.

Preço: 22,50€

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Colecção de pugs

Uns são antigos, outros nem tanto. O pintor pediu a um joalheiro para lhes fazer umas coleiras em prata com guizos. Começou a fazer esta colecção, que já conta com 12 cães, há 15 anos. Dois deles são um saleiro e um pimenteiro.

Guerreiro em terracota chinês

“É uma peça a.C.. Comprei-a num antiquário em Paris, mas uma empregada deixou-a cair e partiu-lhe a cabeça. Vai agora ser restaurada no Pólo de Restauração da Universidade Católica”.

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Castiçais

“São em porcelana biscuit e representam dois índios, um rapaz e uma rapariga, que, segundo especialistas, ou são brasileiros ou são colombianos. Os pormenores da pintura são maravilhosos”.

Fruteira

Tem duas peças, muito semelhantes, em faiança francesa do século XVIII num armário da cozinha, onde funciona também a sala de jantar. “Herdei-as, são peças de família e gosto imenso delas.”

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Samovar inglês

É do século XVIII. “Dentro do samovar [uma espécie de caldeira para fazer chá] colocava-se um peso aquecido nas brasas que mantinha o chá sempre quente.”

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