Um cadeirão em tecido brocado com uns braços de madeira aconchegantes, do tempo de Napoleão III, ocupa o centro da sala. Há peças da Companhia das Índias sobre a mesa em frente ao sofá, e outras mais recentes, como os quadros de Fernando Marques de Oliveira pendurados pelas paredes cheias.
“Gosto muito de peças antigas. Estou sempre atento aos leilões e leio imensa literatura sobre o assunto. Tenho uma predilecção por objectos dos séculos XVIII e XIX, que geralmente pertenceram a casas com história, carregadas de afectos”, conta o artista plástico, que fez recentemente uma exposição antológica da sua obra na Cooperativa Árvore e no Museu Soares dos Reis, e da qual resultou o livro “Fernando Marques de Oliveira – Espaços Imprevisíveis”.
“Esta exposição deu muito trabalho, foi preciso recolher muita coisa em casa de coleccionadores. Reunimos mais de uma centena de obras”, diz, acrescentando que apesar dos 40 anos de carreira, a pintura começou bem antes na sua vida.
“O meu pai tinha uma empresa de seguros e queria que eu fosse trabalhar com ele, mas percebeu muito cedo que eu tinha uma grande tendência para as artes, o que era normal, fui educado num meio onde havia muitos artistas. Ele era, inclusivamente, coleccionador de arte contemporânea e antiguidades. Muitas peças que tenho cá em casa são de família”, explica, enquanto dá uma passa no cigarro e lança a baforada de fumo para longe.
“Lembro-me que me ofereciam muitos livros de arte e que a partir deles eu fazia cópias dos desenhos de outros artistas com lápis de cera. No livro está um desses trabalhos, feito quando tinha 15 anos”.
Desde então, o trabalho de Fernando Marques de Oliveira passou por diversas fases, como seria de esperar. “Percebi que tínhamos de ter um fio condutor no nosso trabalho e eu tive de descobrir o meu”.
Agora faz uma pintura abstracta, que vai buscar as formas geométricas às paisagens urbanas. “Fiz uns bichos pelos quais me fascinei, mas nunca consegui explicar. Foi uma fase influenciada pela chamada Bad Painting, que estava muito na moda nos anos 80”.
Alguns elementos dessas obras aparecem agora na arte abstracta e geométrica do artista que aposta nos pretos e nos cinzentos, em contraste com cores pop e texturas feitas com várias camadas de tinta.