Olga Noronha
@ Marco Duarte
@ Marco Duarte

No ateliê de... Olga Noronha

Não sabemos se é por causa do cabelo cor de fogo que as ideias de Olga estão sempre a fervilhar. Esta joalheira de 28 anos é capaz de o tornar numa jóia de pessoa. Literalmente

Mariana Morais Pinheiro
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Cinco Minutos. Foi o tempo necessário para perceber que Olga Noronha é alguém muito fora do comum. Tem um vocabulário e uma sintaxe perfeitas, mesmo depois de tantos anos a viver fora do país. Uma energia inesgotável – “sempre fui uma miúda hiperactiva”, corrobora. E uma imagem irrepreensível. Quando chegámos ao ateliê andava em arrumações, com o cabelo em tonalidades vermelhas e azuis preso no topo da cabeça, e os lábios pintados, pronta para qualquer eventualidade.

Olga tem 28 anos, nasceu no Porto e é uma das joalheiras mais irreverentes que temos por cá. Faz joalharia medicamente prescrita, um projecto tão ousado quanto ela, mas já lá vamos.

“A joalharia apareceu quando eu tinha seis anos, por causa da moda dos fios e das missangas”, ri. “Mais tarde, comecei a pedir aos meus pais fios e arames. E quando tinha oito ou nove anos, numa viagem ao Brasil, gastei o meu dinheiro todo em pedras semipreciosas, como topázios e ametistas”, conta. As histórias sucedem-se e Olga prende-nos à conversa. “A minha paixão era evidente. Trabalhava com tanto afinco que me esquecia de comer. Tinham de me arrastar até à mesa, caso contrário, ficava ali. Ainda hoje isso acontece. Volta e meia a minha mãe aparece por aqui e enfia-me uma banana na boca só para eu não cair para o lado”.

Estudou joalharia contemporânea na Escola Artística de Soares dos Reis e aos 17 anos foi para a Central Saint Martins College of Art & Design, em Londres, onde o seu trabalho final “Dirty Tissues” foi considerado o melhor entre os 600 daquele ano. A universidade acabou por juntá-lo ao seu espólio privado.

Mas a primeira vez que Olga pisou uma escola de joalharia aconteceu, obviamente, de forma inusitada. “Contaram aos meus pais que ia abrir uma escola de joalharia para miúdas no Porto, a Engenho & Arte. Fomos lá, mas disseram-nos que não podiam aceitar alguém tão novo. Num determinado momento da conversa, a minha mãe fica com calor e tira o casaco. Assim que fez este movimento, revela um colar feito por mim. Os olhos da mulher com quem falávamos foram directos ao pescoço da minha mãe, encantada com a peça. E foi assim que com 11 anos me tornei a mais jovem aluna da escola de sempre”, ri.

Olga regressou ao Porto no ano passado, depois de uma década em Inglaterra. Hoje dá aulas e dirige o curso de joalharia da ESAD, tem um papel activo na ModaLisboa e é a criadora do projecto Joalharia Medicamente Prescrita, que transforma algo que a priori seria rejeitado pelo corpo, em algo desejado.

“É um projecto transdisciplinar que junta engenharia biomecânica, ortopedia, a área do meu pai, joalharia, antropologia, sociologia... Crio peças, como por exemplo um colar cervical, uma bengala, uma placa de fixação óssea, personalizados e sempre com participação médica”, explica, acrescentando que, se ao fim de um determinado período de tempo a prótese for retirada, ela lhe dá uma nova vida. “A peça pode ser reaproveitada para um anel, colar ou pulseira. O processo de cura acrescenta-lhe valor.”

No ateliê de... Olga Noronha

Frascos de Formol

"São espécimes anatómicos suínos que mimetizam tecido celular subcutâneo humano. Têm suturas em corrente de prata ou ouro, que vão hipoteticamente ficar agarradas ao corpo como um bordado, aquando da regeneração da ferida. Já estiveram em várias exposições."

Colecção Beta Creatures

"Fui buscar inspiração a uma espécie de peixes criados em cativeiro, o peixe beta, conhecido também como peixe lutador, mas que é muito bonito e vaporoso. O resultado foram peças delicadas, mas rígidas ao toque. Esta é a feita de porcelana fria, escamas sintéticas, corais e pérolas."

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Luvas de Nitrilo

"Trabalho com tantos químicos que preciso mesmo de as usar. Para fazer esta última colecção gastei cerca de 300 pares de luvas."

Fluxos: SVC (sistema cardiovascular)

"Esta peça fez parte da minha primeira colecção para a plataforma Lab da ModaLisboa. Os modelos entravam na passerelle cobertos por um tecido da cor da pele que era rasgado e deixava antever esta peça que representa o sistema cardiovascular. É feito em PVC flexível, cristais e rebites de metal. Tudo bordado à mão."

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Presidium Duo Tester

"Serve para testar e identificar gemas [pedras preciosas ou semipreciosas], ou seja, para ver se são verdadeiras ou não. Paguei 500€ pelo aparelho." 

ODE Colecção

"A ODE anunciou o meu regresso ao Porto, em Março de 2017. Este vestido é a menina dos meus olhos, é feito em alumínio anodizado [oxidação de uma peça metálica]. É alta-costura em metal." 

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  • Compras

O senhor Fernandes trava-nos o passo. “Vão subir a pé? É que um primeiro andar neste prédio equivale a um quinto”, diz desencorajador o porteiro, enquanto nos empurra para dentro do elevador e fecha a portinhola de fole. “Vão em frente e depois viram à esquerda”, acrescenta. 

  • Compras

Um cadeirão em tecido brocado com uns braços de madeira aconchegantes, do tempo de Napoleão III, ocupa o centro da sala. Há peças da Companhia das Índias sobre a mesa em frente ao sofá, e outras mais recentes, como os quadros de Fernando Marques de Oliveira pendurados pelas paredes cheias. 

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