Umas das livrarias mais emblemáticas do país (e do mundo) está mesmo no centro do Porto e faz parte do seu património histórico. Nasceu em 1906, no número 144 da Rua das Carmelitas, e ali ficou até hoje, com a arquitectura neogótica que a caracteriza, a madeira talhada, as colunas douradas e os tectos ornamentados que formam um cartão-de-visita único. Mas este edifício histórico não é só para admirar, chegam a sair 300 mil livros por ano das altas estantes distribuídas pelos dois pisos. A entrada custa 4€, que pode ser descontada na compra de um livro.
O tempo não volta para trás, mas o Porto anda numa corrida contra ele, às vezes sem sucesso. O Alfarrabista João Soares, há 20 anos no número 38 da Rua das Flores, tem até ao final do ano para abandonar as instalações. Há cerca de um mês soube que o prédio estava para venda e recebeu uma notificação dos proprietários para sair em 15 dias. João, dado o grande volume de livros – tem cerca de 7 mil publicações – conseguiu adiar a partida.
Na mesma situação está a Livraria Moreira da Costa, um dos alfarrabistas mais antigos da cidade. Há um ano e quatro meses receberam uma carta de despejo dos actuais proprietários, os donos do Hotel Infante de Sagres. Contudo, a situação só começou a complicar-se recentemente.
“Há quatro meses arrancaram as obras e começámos a sentir uma grande pressão por parte dos proprietários para sairmos. Mas já está tudo no plano judicial”, conta Miguel Carneiro, um dos donos da livraria à Time Out.
A empresa The Fladgate Partnership, proprietária do hotel, defende-se: “Estamos, nos termos previstos pela lei em vigor, a denunciar o contrato de arrendamento, conforme havia já sido comunicado à livraria, com fundamento no projecto aprovado pela Câmara do Porto relativo a obras de remodelação e restauro do Hotel Infante de Sagres, que obrigam à desocupação total da livraria.”
Ainda assim, Miguel Carneiro não perdeu a esperança. Esta ganha alento com o Porto de Tradição, um programa municipal que tem como objectivo proteger lojas históricas da cidade (no caso, com mais de 50 anos de actividade), que passam a ficar ao abrigo de uma lei que prevê benefícios no âmbito da Lei das Rendas, para que sejam evitados despejos com facilidade por parte dos proprietários.