A culpa foi do acaso. E ainda bem. Manuela Sousa, Manu para os amigos, aparece com um sorriso rasgado, as mangas da camisa arregaçadas, quando nos abre a porta do Nü Coworking Criativo, o seu novo espaço de trabalho no Bonfim.
“Sou brasileira mas já não vivo no meu país há 12 anos. Esta história é longa. Tens
a certeza que tens tempo para a ouvir?” Assentimos e Manu prepara-nos uma chávena de chá. “Primeiro fui para Angola, depois estive na África do Sul, e daí decidi ir viver para um país frio. Escolhi a Suécia, onde tenho irmãs, mas não me adaptei. Entretanto apaixonei-me”, ri, “e acabei por ir para o Senegal por amor”.
Mas o país africano não foi gentil para
a designer gráfica, que chegou a Portugal
há quase um ano. “Infelizmente a cultura
lá ainda é um pouco machista e como sou muito trabalhadora, não viam a minha proactividade com bons olhos.” Para passar o tempo, em casa, começou a pintar porcelana à mão e o gosto por esta arte começou a nascer. A paixão pela Invicta surgiria pouco depois.
“Um dia decidi visitar duas amigas que viviam em Portugal. Uma em Lisboa e outra aqui no Porto. Lembro-me que quando aqui cheguei, senti-me bem e disse para mim, ‘Era capaz de viver aqui’.”
A frequentar dois cursos de cerâmica ao mesmo tempo, Manu, sem um espaço para cozer as peças que cada vez mais pessoas lhe encomendavam, lembrou-se de abrir uma espécie de escritório onde pudesse juntar gente ligada à mesma arte, como o casal Daniel Carpes e Eneide Kuhn, também sócios.
“Foi assim que nasceu o Nü Coworking Criativo. Porquê Nü? Porque quando estás em contacto com a arte tens de estar despido de barreiras ou de bloqueios. E porque nü, em sueco, quer dizer ‘agora’, o que, para mim, é uma palavra muito forte.”