A nova série da Netflix, White Lines, transporta-nos para uma Ibiza dos anos 1990, ainda um pouco distante da massificação do turismo que agora assola a ilha espanhola. Passada a dois tempos, mistura em dez episódios drama, policial e comédia: somos levados numa viagem, com um intervalo de 20 anos, ao mundo das discotecas, aos meandros da noite e da sensualidade que a envolve. O actor de Alice (2005) e São Jorge (2016) veste a pele de um chefe de segurança privada, contracenando com Laura Haddock e Daniel Mays, nomes associados a grandes produções em Hollywood.
Conhecemo-la da série A Guerra dos Tronos e dos filmes Velocidade Furiosa. Agora vamos vê-la em algo completamente diferente, mas a encarnar uma personagem que tem tudo a ver com ela. Nathalie Emmanuel é Maya, figura central de Quatro Casamentos e Um Funeral, série inspirada no filme homónimo (1994) de Richard Curtis, mago das comédias românticas britânicas.
Criada por Mindy Kaling e Matt Warburton, esta série faz uma actualização do filme através de um olhar millennial e progressista, numa Londres como ela realmente é, multirracial, e com um elenco diverso a condizer. De resto, os ingredientes seguem a típica receita rom com: dramas amorosos, amizades complicadas, emoções à flor da pele e canções foleiras. “Toda a gente precisa de comédias românticas nas suas vidas”, diz Nathalie Emmanuel.
Esta é a sua primeira comédia romântica. O que foi mais desafiante?
Toda a comédia tem um tempo próprio. Muitas vezes, o instinto é fazer comédia, mas na verdade jogar contra ela é o que pode ter mais piada. Aprendi muito ao observar os outros actores, que já tinham feito várias comédias. E o facto de ter de fazer sotaque americano foi, só por si, um desafio. Todos os trabalhos são desafiantes, mas nunca tinha feito um papel com tanta sensibilidade.
Não tem nada a ver com a Missandei, de A Guerra dos Tronos.
Não poderia estar mais distante. A Missandei era muito calada, muito resguardada, enquanto a Maya fala abertamente e sente que tem de o fazer. Nunca se cala [risos].
O que considera mais interessante e refrescante na abordagem de Mindy Kaling ao formato da comédia romântica?
A minha coisa favorita na escrita da Mindy, no geral, é a forma como representa as mulheres. Normalmente, nas comédias românticas, as mulheres têm de ser a mulher ideal, o que significa que tendem a não causar muitos problemas e que têm de agir de uma certa maneira. A representação das mulheres nesta série é bastante complexa. Têm muitos traços de personalidade, que nem sempre são bons. Gosto que tenha criado pessoas reais e não arquétipos. Estamos a ver um reacender da popularidade das comédias românticas e, na sua maioria, estão a ser escritas por mulheres. Elas estão a representar as mulheres como nós as queremos ver.
Faz diferença ter mulheres na equipa de argumentistas, portanto.
Definitivamente. Para ser honesta, também há argumentistas homens incríveis na série. Mas a Mindy, a par das outras e dos outros argumentistas, fez aquelas mulheres extraordinariamente interessantes e relacionáveis. Mesmo quando elas fazem coisas desagradáveis, queres torcer por elas. Acreditas que existem, ao contrário das personagens que vias nas comédias dos anos 80 e 90.
A série tem um elenco etnicamente diverso e aborda temas como o racismo, a imigração, o feminismo, a masculinidade e as políticas conservadoras, o que é uma diferença abismal em relação ao filme. Isto foi importante para si?
É sempre importante para mim. Apreciei imenso o cuidado no que toca às decisões sobre que tipo de série fazer e o que dizer. Só a decisão de ter um elenco inclusivo e diverso é incrível. Quando vês pessoas como tu no ecrã é um momento enorme. Eu lembro-me de quando isso me aconteceu. A televisão actual deve parecer-se com o mundo que vemos lá fora: um mundo diverso.
É uma defensora activa dos direitos das mulheres e da igualdade social. A Maya também luta por essas causas no seu trabalho, enquanto redactora de discursos políticos. Viu-se reflectida nela?
Absolutamente. Adoro o facto de ela falar sobre essas coisas e de acreditar nelas, porque eu também sou assim. Uma coisa muito interessante é que ela não vê como adversário o político conservador com quem acaba por trabalhar. Vê-o como um desafio, e talvez possa ajudá-lo a mudar, a empatizar com o que ela diz. A relação deles remete-nos para algo que o mundo precisa: o diálogo entre duas visões do mundo muito diferentes. Devíamos trabalhar nisso.
Várias pessoas dizem que a série tem muito pouco a ver com o seu ponto de partida, ou seja, o filme. Qual é a sua opinião?
Boa parte da estrutura é a mesma. Tem a ver com pessoas a negociar o amor, o casamento, a família, a amizade. Mas é um re-imaginar destes temas, com novas personagens e novos enredos. É uma carta de amor às comédias românticas e aos filmes do Richard Curtis. Penso que é impossível fazer uma série igual ao filme, porque o mundo agora é diferente. Uma das coisas que me deixou muito feliz foi ver Hounslow [zona de Londres com uma grande comunidade indiana e paquistanesa] representada numa comédia romântica. Aquela cena do Notting Hill [de Richard Curtis] em que vês o Hugh Grant a caminhar na rua, com as estações do ano a mudarem, é recriada na série em Hounslow, que tem um ambiente cultural muito específico. Tens de trazer a diversidade de Londres para o que estás a fazer agora. Não seria uma imagem verdadeira se não o fizesses.
Quem não costuma gostar de comédias românticas pode gostar desta série?
Sim. Quer dizer, quem é que não gosta de comédias românticas? Toda a gente precisa delas nas suas vidas. Quem é que não quer rir, chorar, ficar frustrado, mas tudo com aquele sentimento de quentinho bom do amor? Toda a gente precisa disso, sobretudo nestes tempos loucos.
AMC. Ter 22.10 (estreia T1). Disponível na posição 63 do MEO.