Playlist Time Out: a última cola do deserto indie

O quarteto indie-rock liderado por Tanya Donelly voltou a dar sinal de vida em 2016, 20 anos exactos desde o fecho de actividades e com a mesma formação de então (Donelly, os irmãos Thomas e Chris Gorman e Gail Greenwood). O álbum que marca o regresso, Dove, é o terceiro da banda e aparecerá a 4 de Maio. "Shiny One", que o anuncia, denuncia o tempo solar e estético na raiz os Belly: a voz de Donelly é um reencontro familiar; a fusão de harmonias curvilíneas com a promessa (não inteiramente cumprida) de um muro de ruído descendem do shoegaze; o trabalho detalhado e encorpado da secção rítmica e a densidade psicadélica evocam uma versão bem mais entusiasmante do método The Verve. O resultado, é bom de ver, pisca o olho aos anos 1990.

Desde 1993 e do estupendo Last Splash que esta versão de The Breeders não se encontrava em estúdio — Kim Deal em voz e guitarra, Kelly Deal na guitarra e voz, Josephine Wiggs no baixo e voz, Jim Macpherson à bateria. "Nervous Mary" faz o que uma canção das Breeders em dia sim tende a fazer: dinâmicas rítmicas encadeadas que ajudam à progressão narrativa; forma e melodias que emergem com a repetição. All Nerve, o quinto álbum, é editado amanhã, sexta 2.

A versão inicial de "Les Loups", incluída em OUÏ, álbum da cantora, compositora e actriz francesa Camille saído no final de 2017, ficava-se pelos dois minutos de uma espécie de madrigal com graves aguçados e um enxame de vozes de fundo. A matéria-prima estava lá, faltava rasgar espaço para que uma renovada grelha rítmica mais "electro" do que "clash" emprestasse ar e transe à peça. Chloé tratou deste brilhante facelift.

Veterano do grime continua a produzir pérolas de eloquência, desta vez com uma melodia insistente e serpenteante que amplia o dramatismo geral. Um excerto do quinto volume da série de mixtapes Are You Dumb.

Isto deve ser o mais parecido com uma interpretação contida em ambiente de banda sonora r&b para a madrugada que alguma vez se escutará da tonitruante K. Michelle. Um tema do álbum Kimberly: The People I Used to Know, saído na azáfama de Dezembro e que não teve a atenção que merecia.

De longe o mais interessante dos dois temas de Janelle Monáe lançados na semana passada (o outro é "Django Jane"), anunciando a saída de Dirty Computer a 27 de Abril. Do erotismo exuberante do vídeo ao mobiliário quase minimal deste exercício funk-r&b, quase tudo em "Make Me Feel" existe sob a visão tutelar de Prince — e, se se confirmarem os insistentes disse-que-disses que correm online, este tema pode mesmo ter a mão do malogrado autor de "Kiss". Em todo o caso, este é o momento menos asséptico da carreira de Monáe (elogio).

"High energy rock & roll from West Africa", lê-se na página de entrada do site deste sexteto do Níger, e o essencial fica perfeitamente explicado. Em caso de dúvida, é favor deixar-se queimar pelos quase cinco minutos de "Akokas", com  guitarras que expelem energia e ritmo vulcânicos. De Tantabara, o seu terceiro álbum, saído em Fevereiro.