Lana Del Rey
© Lana Del Rey
© Lana Del Rey

Tudo o que tem de saber sobre o Primavera Sound Porto 2024

Apesar do nome e da altura em que se realiza, entre 6 e 8 de Junho, o Primavera Sound Porto inaugura o calendário dos festivais de Verão. Fazemos a antevisão desta edição.

Luís Filipe Rodrigues
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Pode chamar-se Primavera Sound (Porto de apelido) e realizar-se na estação homónima, contudo, para a maioria e apesar da chuva que cai, é o primeiro grande festival de Verão nacional. E para o contingente indie costuma ser o melhor da época. É verdade que o cartaz português não tem o mesmo rasgo, nem a vontade de arriscar e educar os públicos que tornou o original de Barcelona especial. Todos os anos, há escolhas e lapsos que não se entendem – e as desculpas das “datas disponíveis” e dos cachês dos artistas não resistem ao escrutínio atento de quem conhece o meio. Ainda assim, não há outro festival como este em Portugal.

A edição deste ano realiza-se entre 6 e 8 de Junho, no Parque da Cidade, e o cartaz cobre um terreno musicalmente vasto. Da excelência r&b de SZA e do hip-hop de billy woods ao indie rock dos Mannequin Pussy e dos Blonde Redhead, o emo do midwest aperfeiçoado pelos American Football ou as canções lo-fi de Joanna Sternberg, passando pelo futurismo electrónico e latino de Arca e a voragem pop Lana Del Rey, a variedade é considerável – apesar do alinhamento pender para o alternativo. Mas focar demasiado os estilos e géneros musicais é um erro. Os gostos do público-alvo do Primavera são cada vez mais ecléticos.

O que importa é que, ao longo destes dias, vão subir aos palcos montados no Parque da Cidade meia dúzia de nomes incontornáveis, em muitos casos já veteranos e escritos em letras gordas no topo do cartaz; mais uma porrada de artistas com apelo confirmado mas menor, umas quantas bandas de culto indie no activo desde os anos 90, além de novas promessas e apostas da organização. E, claro, um número considerável de portugueses. Estão confirmadas mais de 50 actuações, e algumas não convém mesmo nada perder.

Os cabeças de cartaz

A actuação de SZA, na primeira noite, tem tudo para ser um dos pontos altos desta edição. E nem precisa de se esforçar muito. Afinal, traz consigo SOS, registo de r&b expansivo e ambicioso, com as emoções à flor da pele e melodias imaculadas. Ainda por cima, inclui uma das melhores canções de dor de corno desta geração: “Kill Bill”. Foi editado na segunda semana de Dezembro de 2022, quando as votações para os melhores discos desse ano em muitas publicações já tinham fechado. Mas não ficou esquecido e, no ano passado, títulos de referência como a Pitchfork e a Rolling Stone consideraram-no o melhor álbum de 2023. 

Não admira que o nome de SZA se leia antes de PJ Harvey no alinhamento de quinta-feira, 6. Ainda que a cantora britânica fascine e exerça a sua influência sobre o rock alternativo desde o início da década 90; e que venha apresentar o álbum I Inside the Old Year Dying, do ano passado, é difícil competir com uma jovem artista em pico de forma e popularidade.

Já na sexta-feira, 7, é Lana Del Rey que a maioria vai querer ver. A cantora americana é uma das grandes vozes e estilistas pop deste século. As suas músicas são labirintos referenciais que dobram o tempo e o espaço, dialogando frequentemente com capítulos anteriores da sua biografia e discografia, mas com outros artistas e símbolos populares também. Espera editar um novo disco em Setembro, e talvez mostre algumas das novas canções em Portugal, se bem que o motivo oficial desta nova visita ao país seja a apresentação do anterior Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd (2023). Para algo completamente diferente, a fechar a noite, vai ouvir-se a electrónica maximalista dos franceses Justice, que regressaram em 2024 com o álbum Hyperdrama e fizeram sensação há umas semanas, em Coachella.

A encerrar esta edição, no dia 8, uma daquelas grandes reuniões de que o Primavera já é sinónimo. Se em 2022 foram os decanos do indie rock norte-americano Pavement que se reuniram no festival, e no ano passado foi a vez dos britânicos Blur tirarem o pó às canções no Parque da Cidade, este ano é a vez de outra das constelações mais brilhantes do britpop se avistar no Porto: os Pulp. Jarvis Cocker e companhia voltaram a juntar-se em 2023 e continuam a tocar os clássicos dos discos His ‘n’ Hers (1994), Different Class (1995), This Is Hardcore (1998) e We Love Life (2001). Surgem no cartaz ao lado de The National. Parecendo que não, a banda indie norte-americana também já leva mais de 20 anos de carreira. No entanto, não perdeu o fôlego e no ano passado lançou mais um par de discos, First Two Pages of Frankenstein e Laugh Track, com mais semelhanças do que diferenças.

Os heróis de culto

Para algumas pessoas, o Primavera Sound Porto este ano resume-se em duas palavras: American Football. O mais icónico dos projectos pós-Cap’n Jazz do cantor e compositor Mike Kinsella (com os Steves Holmes e Lamos) precisou de lançar apenas um EP e um LP, ambos sem título, entre 1998 e 1999, para deixar uma marca indelével na memória de duas ou três gerações de rapazes tristes e eternizar o som emo do midwest americano. Separou-se logo depois. Nos anos seguintes, as 12 canções gravadas pela banda foram elevadas a objectos de culto. E o mito foi crescendo.

Até que, em 2014, o trio se reuniu e chamou para junto de si Nate Kinsella, primo e velho colaborador de Mike. Desde então, lançaram mais um par de álbuns sem nome que – pasmem-se – reforçaram o seu legado. Quem sabe o que nos espera está a contar os dias para este concerto desde que o cartaz foi anunciado, em Novembro. É bom que calcem as botas, porque a 6 de Junho não vai ser preciso chover para a plateia ficar alagada – as lágrimas vão ser mais do que suficientes.

Quem também toca na quinta-feira, 6, são os Blonde Redhead. Juntos desde o início dos 90s, Kazu Makino e os irmãos Amedeo e Simone Pace são um raro caso de consistência e coerência no indie rock nova-iorquino, com carreira feita sobretudo nas veneráveis editoras Touch and Go e 4AD. Desde a edição de Barragán, em 2014, estavam mais calados, mas voltaram à carga no ano passado com Sit Down for Dinner.

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Apostas e descobertas

A organização do festival catalão está sempre atenta ao que se passa à sua volta. Por exemplo, aos Militarie Gun. Depois de uma trilogia de EPs que soaram particularmente vitais durante a pandemia, a banda californiana lançou no ano passado o primeiro trabalho com maior fôlego, Life Under the Gun, na intersecção entre o indie rock e o pós-hardcore. Os elogios foram muitos e foram merecidos. Tocam no dia 6.

No dia seguinte, é a vez de nos reencontrarmos com Tirzah, compositora e intérprete britânica de canções electrónicas claustrofóbicas e doridas. Ouvi-la é ser afogado por recordações de um futuro, de vários, que nunca chegaram a materializar-se. É música para um mundo em escombros, repetitiva, minimalista. Verdadeira, como sabe quem ouviu o álbum trip9love...??? (2023) e comprovámos em Março deste ano no CCB, em Lisboa.

Por fim, a 9, sucedem-se as actuações de novos e entusiasmantes valores, como Ethel Cain, cantora e compositora de folk etérea e envolta em nostalgia gótica sulista, que se estreou em Lisboa no MEO Kalorama de 2023. Ou Joanna Sternberg, intérprete ianque de uma folk embebida em blues e jazz, música sem truques e 100% honesta, na senda de Daniel Johnston. Devia ter tocado em 2023 no festival Vale Perdido, em Lisboa, mas teve de cancelar. Vingamo-nos no Porto. Outros que desmarcaram um concerto em Lisboa em Novembro e vêm agora são os Mannequin Pussy, que fazem indie rock gostoso e ruidoso a partir de Filadélfia desde a década passada e editaram este ano o álbum I Got Heaven. Uma sova das boas.

Parque da Cidade. 6-9 Jun (Qui-Sáb). 75€-250€

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