Que Ainda Alguém nos Invente
©João Saramago'Que Ainda Alguém nos Invente'
©João Saramago

Uma outra rainha, uma outra história

‘Que Ainda Alguém Nos Invente’ parte da história de vida da rainha e guerreira africana Njinga Mbandi. Conversámos com a actriz Zia Soares sobre este novo espectáculo da companhia Teatro Griot

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Njinga Mbandi (1583- 1663) é um daqueles nomes que devia ser estudado nos manuais escolares, não 
fossem os manuais escolares portugueses o reflexo de uma História altamente parcial, muitas vezes distorcida e quase sempre contada do ponto de vista do homem branco europeu. Njinga Mbandi foi rainha dos reinos africanos
 do Ndongo e de Matamba no século XVII – regiões que os portugueses colonizadores vieram a denominar de Angola –, guerreira, estratega militar, diplomata e um dos grandes símbolos da resistência africana contra o colonialismo. A sua história – ou aquela que terá sido a sua história – foi o ponto de partida para a nova criação da companhia Teatro Griot, Que Ainda Alguém Nos Invente, em estreia no Teatro Campo Alegre.

“A informação que nos chega sobre esta mulher, que subiu ao poder e era militarmente muito forte, pareceu-nos bastante interessante”, diz à Time Out Zia Soares, actriz residente do Teatro Griot. “Por outro lado, todos os actores da companhia são angolanos ou descendentes de angolanos. Já conhecíamos esta história e o projecto começou a ser pensado há quatro anos.” 
O espectáculo, encenado por Paula Diogo, conta com um texto inédito de Ricardo P. Silva, que partiu de factos da vida de Njinga Mbandi “que se conhecem como verdadeiros” – aquilo
 que nos chega, nota Zia Soares, são essencialmente “relatos de soldados portugueses, italianos e holandeses”. Ricardo P. Silva fez uma recolha intensiva de material, incluindo do livro
 da professora Inocência Mata,
 A Rainha Nzinga: História, Memória e Mito, para elaborar uma história sobre “esta mulher, provavelmente no fim da sua vida, em confronto com o que foi a vida dela”.

Numa altura em que o
 debate sobre as heranças 
do colonialismo e sobre o racismo sistémico em Portugal estão a ganhar tracção e mais visibilidade na esfera pública, esta peça pode ser mais um elemento para juntar à conversa. “Há um espaço que agora se abriu para esta discussão, mas devo dizer que isto resulta de 
um caminho muito longo que tem sido construído por muita gente, há muito tempo”, sublinha Zia Soares. “Esperamos que o nosso trabalho possa contribuir para o avanço desta discussão. Não pura e simplesmente para exorcizar culpas ou para carpir vitimizações, mas sobretudo para se traduzir em condições de vida mais justas para os cidadãos e cidadãs deste país.”
 E essa transformação estrutural passa também pela recolha de histórias invisibilizadas como 
a desta rainha, fazendo pontes com o presente. E por falar em presente, a música original do espectáculo não poderia ser mais exemplar: é da autoria de DJ Marfox, produtor ligado à editora Príncipe, e de DJ N.K. O design de som está a cargo do rapper Chullage, colaborador regular do Teatro Griot.

Teatro do Campo Alegre. Sex 2 às 21.30 e Sáb 3 às 19.00. 7,50€

Outras sugestões de coisas para fazer no Porto

A resistência africana ao colonialismo passa pelo palco do Campo Alegre. Ouvir-se-á Judy Garland no Rivoli. Maria do Céu Ribeiro conhecerá o texto a ler apenas no momento em que pisar o estrado na mala voadora. O Óscar de Seara Cardoso regressa no 30º aniversário do Teatro de Marionetas do Porto. Há isto, e há muito mais, nos palcos do Porto em Março.

  • Música
  • Música ao vivo

A culpa é da Primavera? Em Março, os palcos da Invicta enchem-se de gente exímia a conversar sob o efeito de música. Nando Reis, Gal Costa e Gilberto Gil conversarão sob a bandeira Trinca de Ases. Intérpretes portugueses conversarão com um certo bardo canadiano em As Canções de Leonard Cohen. Rodrigo Leão prossegue a sua conversa de pé de orelha com o neozelandês Scott Matthew. E depois há Sérgio Godinho, que conversa com toda a gente.

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