Um santuário de biodiversidade
Os portões abrem-se e Ivone Ingen Housz e Zacarias, o carneiro mais bem-disposto da quinta, dão-nos as boas-vindas. A Quinta das Águias, um projecto de sustentabilidade sem fins lucrativos em Paredes de Coura, respira um ar gélido e húmido, típico da região durante o Inverno. Graças a ele, os tons terrosos e verdejantes das árvores e plantas rasteiras emolduram o cenário.
Dentro da casa de hóspedes em pedra está Joep Ingen Housz, ocupado a tratar de um molho de orégãos colhido na quinta. Com três quartos, duas casas de banho, cozinha e uma sala de estar – com grandes janelões em vidro rasgados na fachada, por onde entra um sol tépido de Fevereiro e que deixam ver os pavões que passeiam lá fora – o edifício faz lembrar as rústicas e familiares casas de campo minhotas. Nos cinco hectares em redor vivem cerca de 130 animais em liberdade e milhares de plantas em harmonia.
Ivone recua no tempo. “Começámos por trazer os animais que tínhamos no Porto, alguns cães e gatos. Entretanto, a minha filha Maria fundou a associação Animais de Rua e acolhemos outros animais. Vieram gatinhos, cães, porquinhos-da-índia, coelhos, galinhas. Foi assim que tudo começou”, conta, de olhos postos nos cavalos Artax e Silver, que comem milho tranquilamente.
Um rebanho de ovelhas observa atentamente as nossas mãos à procura de um petisco e, sem darmos por ela, encontramos uma enorme área de bosque. “Quando aqui chegámos, plantámos logo 700 árvores.” Não é por acaso que hoje aqueles cinco hectares são vistos como um santuário da biodiversidade. Há espécies exóticas e autóctones, como os carvalhos (que enchem o chão de bolotas, o aperitivo preferido da porca com o mesmo nome e das amigas Miss Piggy, Jelly e Belly). “Quase todas as plantas têm propriedades medicinais ou um uso alimentar. Também é nosso objectivo atrair abelhas, pelo importante papel que têm no ecossistema”, explica a psicóloga de 62 anos.
A sua paixão pelas plantas é evidente. Sem qualquer placa informativa, reconhece-as e sabe de cor as suas características. Para Joep, os pais farmacêuticos de Ivone estão na origem desta paixão, uma vez que curavam os pacientes recorrendo às suas propriedades.
Antes de o sol desaparecer da paisagem bucólica, os animais são recolhidos pelas funcionárias Cinda e Lurdes. Cada espécie dorme numa área pensada especialmente para ela. No regresso a casa, fala-se sobre a Camellia sinensis (a planta do chá), os tremoceiros, os vários tipos de hipericão, os azufaifos, a vinca, a malva, o plantago, a erva-de-são-roberto, a toranjeira e o diospireiro. Tudo cultivado lá. Ivone recolhe criteriosamente folhas e ervas para fazer uma infusão, o herbal tea Quinta das Águias, muito apreciado por quem o bebe.