Há quanto tempo não vê um pirilampo? Pense por uns segundos. Há anos? Décadas? Os vaga-lumes desapareceram do nosso quotidiano e qualquer dia estamos a explicar aos nossos filhos que existe uma espécie de insectos com uma espécie de lâmpada na cauda e eles vão achar que estamos a gozar com eles. Mas os pirilampos existem e podem ser encontrados em sítios onde a natureza permanece imperturbada. São insectos frágeis que desaparecem às menores alterações no seu ecossistema – poluição, ruído e outros excessos praticados pela espécie humana. Se nos deparamos com uma destas criaturas quase-míticas, é porque estamos num lugar onde o ar é mais puro e a natureza consegue encontrar algum equilíbrio.
Na Herdade do Sobroso, naquele Alentejo plano e de céus altos, é possível avistar pirilampos. O que quer dizer que o ar que está a entrar nos nossos pulmões possui um elevado grau de pureza. Que alegria. A herdade fica no centro de um triângulo formado por Vidigueira, Alqueva e Moura. Tem o Guadiana ali mesmo ao lado, umas sobras da barragem que mudou para sempre a paisagem daquela zona do país a partir de 2002.
A estrada para este retiro vinícola (é hotel, adega e restaurante) é uma das mais bonitas do Alentejo oriental – no caminho estreito para a Vidigueira há olivais, vinhas e outros tipos de exploração agrícola associadas àquela parte do país. Em resumo, um acompanhamento visual às nossas aulas de Meio Físico e Social. Mas também se avistam cavalos, corsas e veados, o que transforma a viagem numa espécie de safari low cost.
Chegados à herdade, rodeada por vinhas, vemos um conjunto de casas baixas, tipicamente alentejanas. Deve aplicar-se na descrição do espaço e decoração o adjectivo “rústico”, uma palavra-camaleão que toma muitas formas diferentes. Por isso, para melhor explicar o ambiente deste lugar vamos acrescentar outro adjectivo: familiar. Não é um rústico-cliché, de museu etnográfico, mas sim uma ruralidade confortável, humana e familiar. A primeira impressão ao chegar à herdade é “eu podia viver aqui”. É simples, sentimo-nos em casa. O que também lhe deve ser familiar é o nome: Herdade do Sobroso.
É o que aparece escrito nas garrafas dos vinhos que se fazem ali e se vendem um pouco por todo o país. Vinhos esses que se servem (à garrafa e a copo) no restaurante do hotel. As refeições desse mesmo restaurante descrevem-se em poucas palavras, se formos práticos: uma pessoa avisa que quer jantar, diz mais ou menos a hora – sem pressões, estamos de férias – e chega ao restaurante. A pessoa senta-se e vê chegar umas entradas, um desfile de especialidades alentejanas, depois um prato principal robusto (das bochechas de porco preto à sopa de cação), terminando em beleza com uma sobremesa. Tudo especialidades locais feitas com brio pela chef Josefa, uma pessoa a quem facilmente atribuiríamos a responsabilidade de nos alimentar até ao fim dos nossos dias.
Para desmoer há bicicletas à disposição dos clientes, passeios a pé e um conjunto de actividades para os mais aventureiros: passeios de balão, caiaque, pesca, safaris fotográficos, viagens de barco no Alqueva e até ski ou wakeboard. Os hóspedes mais sedentários podem deixar-se estar na magnífica piscina infinita com vista para vinhas, serra e pomares. Ou simplesmente olhar para cima durante a noite. Isso mesmo, olhar para cima. É que a Herdade do Sobroso fica numa zona de céu “protegido”, abençoado pela planície e pela ausência de poluição luminosa, o que, à noite, nos dá uma perspectiva incrível sobre o espectáculo por cima da nossa cabeça. Cuidado com o pescoço: uma noite a identificar as constelações, a ver a Via Láctea e à espreita de estrelas cadentes pode deixá-lo dorido. E o céu nocturno, tão exuberante e dramático, parece estar prestes a desabar sobre nós.