Cerdeira – Home of Creativity
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Viagens: a criatividade mora na Serra da Lousã

Pequeno paraíso escondido, a Serra da Lousã abriu as portas da aldeia da Cerdeira a uma comunidade artística que lhe deu nova vida. Andámos pela Rota das Aldeias do Xisto e trazemos as boas novas da região

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Sempre que as previsões apontam para queda de neve na Serra da Estrela, significa que as estradas até à Torre vão, eventualmente, ficar cortadas. Portugal padece deste mal de não saber funcionar com condições climatéricas extremas (chove, há inundações; neva, cortam-se acessos; está calor, deixa de haver água), mas como também é um país que sabe, como nenhum outro, viver em negação permanente, todo o santo ano lá vai disto de mandar as pessoas à Serra da Estrela como se fosse possível lá chegar. Ora, não é direito do cidadão comum poder ir à Serra sem ter de pernoitar no carro à beira da estrada? Pois é. Por isso mesmo, este mês a sugestão é que suba a outra serra, a da Lousã, sem medo de ficar pelo caminho.
 Não prometemos neve mas uma experiência imersiva na natureza e no património em estado puro.

Viagens: a criatividade mora na Serra da Lousã

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Cerdeira - Home for Creativity
Cerdeira - Home for Creativity

Antes de chegar ao centro da Lousã, um pequeno desvio de 9,4 km vai levá-lo a Cerdeira, uma aldeia inserida na rede das Aldeias de Xisto e que há 30 anos não tinha luz nem água. Nem um único habitante. Foi precisamente lá que Kerstin Thomas, artista plástica alemã, decidiu, em 1988, montar o seu ateliê de trabalho, com a ideia fixa de devolver vida à aldeia e trazer até ela uma comunidade artística relevante. Assim foi. Em casal, com Bernard Langer, começou a recuperar as primeiras casas de xisto e, em 2002, com a ajuda de outro casal amigo e de um grupo de trabalhadores locais, a aldeia começou a ganhar forma e a tornar-se habitável. Dez anos mais tarde, a Cerdeira Village é oficialmente inaugurada e com ela traz um movimento artístico inesperado que, no ano passado, justificou a mudança de nome para Cerdeira – Home of Creativity. Mas já lá vamos.

As duas únicas ruas da aldeia estão praticamente todas ocupadas pelas nove casas de xisto destinadas a alojamento. Por fora permanecem intocadas pela História, com as fachadas em pedra e interiores que, apesar da decoração moderna, souberam preservar a pedra, a argila e os soalhos em pinho originais – conservação exímia que valeu ao projecto a integração na rota internacional do EcoArq. Para duas, quatro, seis ou nove pessoas, as casas estão totalmente equipadas com kitchenette, salamandra e terraço com vista para a serra. O facto de não haver televisão nem internet foi uma escolha consciente para estimular a criatividade dos hóspedes. Assim dito, a pessoa começa logo a hiperventilar enquanto aperta o telemóvel contra o peito, mas nada que não se resolva com uma ida diária ao Café da Videira, um dos espaços comuns da aldeia, com wifi, e que serve de sala de pequenos-almoços e de espaço de convívio. Tirando esse pequeno pontapé de realidade, a ideia é deixar- se levar pela paisagem e pela veia artística da casa para, finalmente, pôr em marcha aquele plano de aprender um novo ofício ou competência.

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A vocação artística é, aliás, um dos pilares do projecto. Os workshops e as residências artísticas existem desde a fundação da casa, mas há um ano o assunto tornou-se ainda mais sério com a abertura da Cerdeira Arts & Crafts School, uma escola de artes com um plano de formação mais ou menos intensivo, com cursos de cerâmica tradicional (e também da técnica japonesa), escrita de viagens, trabalho em madeira (escultura ou construção de 
uma peça de mobiliário), artes visuais, tecelagem e construção em vime. Há-os para todos os tipos de competência ou falta dela e nas modalidades de curta ou média duração. Por exemplo, entre 21 e 25 de Agosto há um retiro de cinco dias de Desenho na Natureza (315€ por pessoa), com alojamento partilhado incluído. Por sua vez, o workshop de iniciação à Cerâmica, que acontece entre 17 e 19 de Abril, dedica três dias a ensinar a construir uma peça e custa 180€, com alojamento nas residências partilhadas e materiais incluídos. Não tem de ser artista nem tão pouco ter jeito para os trabalhos manuais, basta querer aprender.

E se for o caso de não querer embarcar num fim-de-semana artístico, pode sempre dar corda aos sapatos e meter-se pelos caminhos de ardósia para conhecer os cantos à aldeia. Espreite a biblioteca, a galeria de arte com alguns trabalhos de artistas que passaram pela Cerdeira, o forno comunitário e os ateliês dos residentes. Se nada disto chegar, fica a dica: na reserva escolha a Casa do Vale, com uma varanda com vista sobre o vale da Ribeira da Cerdeira e onde os fins de tarde podem ser acompanhados de um copo de vinho. Em Julho, a Cerdeira – Home for Creativity organiza a 13ª edição do festival Elementos à Solta, que reúne anualmente artistas contemporâneos de diferentes áreas e transforma a aldeia numa galeria a céu aberto.

Lugar da Cerdeira, Cerdeira, Lousã. 91 178 9605. Desde 72€ com pequeno-almoço.

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A chegada ao Funchal começa com uma gargalhada. “Senhoras e senhores, vamos aterrar no aeroporto Cristiano Ronaldo. Espero que tenham tido um óptimo voo.” A estranheza de aterrar um A330 num aeroporto que leva o nome do penta-Bola de Ouro é grande – será que teria provocado a mesma reacção se os aeroportos Humberto Delgado, em Lisboa, ou Francisco Sá Carneiro, no Porto, tivessem sido baptizados enquanto os visados estavam vivos? Talvez. A Time Out foi descobrir este jardim à beira-mar plantado, calcorrear trilhos, descer levadas, beber poncha e mergulhar em águas cristalinas. Tudo de bom, portanto. Recomendado: Roma alternativa: Garbatella, o bairro favorito de Nani Moretti
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O Booking lançou recentemente as tendências de viagem para 2019. Surpreendentemente, numa altura em que parece que cada vez mais se viaja só para alimentar as redes sociais, a maioria dos viajantes globais manifestaram preferência por destinos com hotéis onde possam desenvolver uma nova competência. Com isso em mente, elegemos os melhores workshops e aulas de hotéis, turismos rurais e casas de campo, para que possa entrar na onda do turismo em 2019 e aproveitar que vai dar uma volta para aprender qualquer coisinha. Junte os amigos e vá à descoberta. Recomendado: Roma alternativa: Garbatella, o bairro favorito de Nani Moretti
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Se me dão licença, tomo a liberdade de começar este texto com um relato na primeira pessoa. A tentativa tosca de manter a distância para não corromper a ética que se exige à prática jornalística obrigar-me-ia a ser uma mera espectadora de uma das melhores experiências que tive o privilégio de viver, e isso, sendo perfeitamente possível, não é o que quero fazer. O Dá Licença, antes de ser o magnífico sítio que é, era para ser só uma casa de férias de Victor Borges e Franck Laigneau, que procuravam um pequeno refúgio no campo para onde pudessem fugir quando a vida em Paris se tornasse demasiado frenética. Acabaram por se mudar definitivamente para a antiga Herdade das Freiras, em Estremoz, depois de terem assistido àquele que dizem ter sido o pôr-do-sol mais inspirador que viram na vida e, de repente viram-se a braços com uma propriedade de 120 hectares com três edifícios, um olival a perder de vista, muito mato por desbravar e um potencial tremendo para dar vida à ideia acabadinha de surgir: criar uma casa aberta onde se reunissem arte e natureza nas suas formas mais puras e que pudesse ser vivida como uma viagem sensorial pelas artes e ofícios numa perspectiva simultaneamente utilitária e contemplativa. Victor deixou o trabalho na Hermès, Franck fechou a galeria de arte que tinha ao pé do Musée D'Orsay e juntos começaram a projectar aquele que, três anos mais tarde, viria a ser o boutique hotel mais bonito de que há memória. O nome, que ainda pensámos que pudesse vir de um
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Muito Alto, muito louro, muito pouco preocupado com
o facto de estar a vestir um kilt escocês no calor do Alentejo. “Roubei-o à família da minha mulher, esta é a cor e o padrão 
do apelido da família dela e eles não se importam que o use”, diz Mitch Webber, uma das metades do A Place at Evoramonte, um novo alojamento local que
 surgiu na planície alentejana
 em Novembro de 2017. Mitch conheceu Vicki em 2000 e depois de alguns anos a viver
em Inglaterra e na Tailândia mudaram-se para Evoramonte em Maio do ano passado. Ela é escocesa, ele nasceu na África do Sul – “Mas eu é que o deixo usar o kilt”, relembra Vicki. Nunca tinham estado em Portugal mas tanta gente lhes recomendou que viessem cá, “porque as pessoas eram simpáticas”, que acabaram por chegar e procurar casa. Depois de correrem alguns cantos do país, optaram por Évora, mas quando se preparavam para conhecer uma casa, deram com outra, recém-chegada ao site que habitualmente consultavam. Desde logo, algo lhes saltou à vista: “Pensámos, uau!, quero viver no castelo mesmo que não esteja para venda”, conta Vicki emoldurada pela torre de menagem de Evoramonte. Tomaram um café na varanda com o agente da imobiliária e apaixonaram-se pela freguesia. Há muito que tinham vontade em abrir algo do género na Escócia, mas depois de terem vivido em Banguecoque durante quatro anos, explica Vicki, acabaram por se habituar ao calor e ao bom tempo: “A Escócia é bonita mas lá está sempre a chover”, brinca.
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