O Pico Ruivo
© Ágata XavierO Pico Ruivo
© Ágata Xavier

Viagens: Já chegámos à Madeira

Descoberta em 1419 por Tristão Vaz Teixeira, Bartolomeu Perestrelo e João Gonçalves Zarco, redescoberta em 2018 pela Time Out, que andou pelas levadas a testar o calçado e a resistência

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A chegada ao Funchal começa com uma gargalhada. “Senhoras e senhores, vamos aterrar no aeroporto Cristiano Ronaldo. Espero que tenham tido um óptimo voo.” A estranheza de aterrar um A330 num aeroporto que leva o nome do penta-Bola de Ouro é grande – será que teria provocado a mesma reacção se os aeroportos Humberto Delgado, em Lisboa, ou Francisco Sá Carneiro, no Porto, tivessem sido baptizados enquanto os visados estavam vivos? Talvez. A Time Out foi descobrir este jardim à beira-mar plantado, calcorrear trilhos, descer levadas, beber poncha e mergulhar em águas cristalinas. Tudo de bom, portanto.

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Calce as sapatilhas

Ponta de São Lourenço: Trilho Cais do Sardinha

Fica na ponta mais seca da ilha e de lá consegue ver-se a rocha vulcânica primitiva (com cerca de 5 milhões de anos) junto ao mar. Quando se passa Machico, a vegetação torna-se rasteira porque o terreno é muito arenoso e exposto ao vento e, ainda antes de chegar ao destino, passará pela Quinta do Lorde, um empreendimento turístico com muita pinta. Chegando à Ponta de São Lourenço dá-se um fenómeno interessante, o dom da ubiquidade, pois este é dos poucos sítios onde se consegue estar em contacto tanto com o norte como com o sul da ilha. É junto ao parque de estacionamento que começa o trilho Cais do Sardinha, em homenagem à família que possuía uma casa mesmo na ponta da Ponta de São Lourenço. A pé ou a correr, irá começar pela Baía D’Abra. Depois, a meio do percurso, encontra uma praia (a descida é íngreme, cuidado), por isso aproveite para dar um mergulho, subir ao miradouro e regressar. Quem corre, faz o percurso de oito quilómetros numa hora e meia. Quem vai passear, demora cerca de três.

Do Ribeiro Frio à Portela, pela Levada do Furado

A meio do percurso encontra um viveiro de trutas que, na verdade, funcionam como pequenos inspectores do protocolo de Quioto, pois indicam a boa qualidade da água das ribeiras e cascatas da região. Esta é zona onde a laurissilva se mostra em todo o seu esplendor, com diferentes espécies de loureiro (das Canárias, o madeirense, o dos Açores), til, língua de vaca ou arbustos de mirtilos. De fácil acessibilidade, os caminhos não são planos, são um pouco escorregadios até, aumentando o nível de adrenalina. Possui ainda uma neblina que não o deixa ficar sozinho. O trilho segue pela Levada do Furado, das primeiras da ilha a ser mapeada, até ao miradouro da Portela, em Machico. Este trajecto de 10,7 quilómetros costuma demorar entre três a quatro horas a fazer e passa por campos agrícolas e pela Penha d’Águia. Esteja atento porque pode encontrar um bis-bis: calma, não é um percurso igual ao que fez, mas sim um pássaro endémico da ilha.

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Pico do Arieiro

Ortográfica e geograficamente é bastante diferente do homófono bairro lisboeta. Embora possa ser escrito de ambas as maneiras, com E ou com I, é com esta última vogal que está gravado para a posteridade no gigantesco marco que repousa na montanha (daqueles mesmo enormes, ao estilo do que se encontra no topo da Serra da Estrela). Ligado ao Pico Ruivo, o ponto mais alto do arquipélago, com uns imponentes 1862 metros, o do Arieiro é um verdadeiro cartão postal que satisfaz a necessidade de todos: dos turistas de pau de selfie aos trekkers mais experientes. Aqui, além das nuvens que passeiam por baixo dos nossos pés, vê-se um caminho alternativo para o Pico Ruivo (mas podia ser Mordor), com cerca de 6 quilómetros (12 com o regresso). Também se encontra o massaroco, uma flor violeta endémica da ilha da Madeira.

Passeio Circular pelo Curral das Freiras

É a derradeira prova de esforço para quem já tem experiência na arte de desbravar trilhos. Os 23 quilómetros deste percurso circular que fica em Câmara de Lobos podem demorar entre quatro a seis horas a percorrer. Tem início na Boca das Torrinhas, que separa a Serra da Boaventura da do Curral das Freiras, seguindo depois pela Encumeada até Relvinhas. A viagem pedestre termina no vale do Curral das Freiras, que fica mesmo no coração da ilha, e deve o nome às freiras do convento de Santa Clara, que ocuparam os terrenos de pastagem mais abrigados das investidas dos corsários franceses, nos séculos XV e XVI. Aproveite para conhecer a gastronomia local, sobretudo a sopa de castanha e o brigalhó, um tubérculo parecido com o inhame que só cresce nessa zona da ilha e que demora mais de dez horas a cozinhar.

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Factos de treino

Go Trail Madeira

A empresa de Daniel Ferreira tem um ano e meio e nela os funcionários correm literalmente com os clientes (mas também andam, caso o prefiram, tudo depende da forma física e dos objectivos de cada um). O preço depende do trilho escolhido e do tempo que se irá demorar a percorrer, mas começa nos 55€.

App Walk Me/Walking In Madeira

Tenha a Madeira na palma da mão com esta app que guarda mais de 50 trilhos. Embora funcione offline, não convém prescindir de um mapa em papel, não vá dar-se o caso de ficar sem bateria.

Para dormir

The Vine

Ora aqui está um trocadilho bem conseguido: vinho e divino numa mesma junção de palavras. Com decoração de Nini Andrade Silva, o The Vine (Rua dos Aranhas, 27. 291 009 000) segue a temática vinícola, usando diferentes tons de roxo. No topo, tem uma piscina infinita (e aquecida) com uma vista ímpar do Funchal. Também é lá que está o restaurante de fine dining a cargo do francês Thomas Faudry. O The Vine tem quartos duplos a partir de 175€.

The Cliff Bay

Estrelas não faltam neste hotel de luxo com uma vista de luxo do Atlântico. Além das cinco que pontuam o resort, há mais duas (mas Michelin) na cozinha, no Il Gallo D’Oro, conquistadas por Benoît Sinthon, chef francês que combina inspirações madeirenses e mediterrânicas. O The Cliff Bay (Estrada Monumental, 147. 291 707 700) tem acesso directo ao mar, está próximo do centro do Funchal e tem quartos duplos a partir de 320€.

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Belmond Reid’s Palace

Longe vão os tempos em que se chegava quase exclusivamente de barco ao mítico hotel madeirense onde Winston Churchill costumava pernoitar. Elegante e luxuoso, o Reid’s (Estrada Monumental, 139. 291 717 171) mantém a aura do passado, com uma decoração sofisticada e um chá das cinco (35,50€) digno de figurar num episódio de Hercule Poirot. Tal como o seu vizinho aqui de cima, tem um restaurante agraciado pelo guia de pneus, o William, liderado por Luís Pestana, e detentor de uma estrela. Os quartos começam nos 315€.

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