Despedimo-nos ao balcão com um copinho de medronho, que dá por terminada a refeição de javali estufado, trazido por Leocínio, outro homem da terra que, apesar de ter sido responsável pela matéria-prima do repasto, não é caçador profissional, antes mestre numa das obras mais aguardadas do concelho de Odemira: o Craveiral Farmhouse. É o mais novo projecto de vida de Pedro Franca Pinto, Luís Capinha e João Canilho, vindos directamente de Lisboa mas que se sentem alentejanos de gema.
Juntaram-se para fazer nascer um turismo rural entre o mar e a serra onde pudessem juntar a pureza e simplicidade da vida no campo com os confortos da vida moderna – portanto, um poiso perfeito para urbano-depressivos que se convencem que gostam do contacto com a natureza mas que entram em pânico quando só apanham um tracinho de wi-fi. Ocuparam um terreno de nove hectares que já tinha servido uma plantação de cravos (daí o nome) e foram vendo nascer uma pequena aldeia dentro da aldeia, com 38 casas independentes, todas com terraço, cozinha e decoradas integralmente com mobília, arte e electrodomésticos de assinatura portuguesa.
A isto acrescentaram o restaurante Farmtable, com uma lareira no meio da sala, um forno a lenha para pão e pizzas feitas com os ingredientes trazidos da horta ali ao lado e uma carta que promete ir buscar, a cada estação, os sabores e temperos do receituário regional com a promessa de refeições gulosas, que é como devem ser as experiências à mesa no Alentejo, e digestões demoradas que podem não combinar com o plano que se segue: uma tarde de papo para o ar na “piscina grande”.
Chamamos-lhe assim para não confundir com a outra piscina exterior, reservada à zona exclusiva para adultos, onde as casas estão mais afastadas da movida central, num recanto alheio a bombas, choros e correrias e com um ambiente relaxado pensado para maiores de 18 anos (nada disso em que está a pensar, mas naturalmente que os assuntos do coração também estão contemplados na estratégia).
No Verão talvez não apeteça muito passar pelo centro de bem-estar com piscina coberta, sauna, jacuzzi e ginásio, mas fica a dica para quando os fins de tarde começarem a arrefecer e já souber bem ficar a ver o pôr-do-sol de molho em água tépida.
Mas e fora do Craveiral, há o que fazer? Há, assim haja vontade de sair. A vontade de passar o portão e voltar ao contacto com a vida normal é muito pouca, ainda assim a passagem por A Barca Tranquitanas (Estrada das Barcas, Zambujeira do Mar) para uma travessa de percebes que rapidamente se estende a uma massada de peixe, a uns camarões ao alhinho e a uma garrafa de vinho branco é obrigatória. Para almoçar ou jantar a ver o mar, aconselha-se a ir com tempo para assegurar lugar na esplanada. A viagem até ao restaurante pode ser feita por caminhos de terra batida num jipe UMM e incluir uma paragem na Praia do Carvalhal, uma visita pouco oficial às estufas de morangos e ainda, se os anfitriões tiverem disponibilidade, a uma destilaria de medronho no sopé da Serra de Monchique, onde calha acontecerem almoços improvisados à base de porco preto. Se alguém perguntar como é que soube disto, diga que vai da nossa parte.