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Do lago aos canteiros, o Bairro de São Miguel está a ser recuperado

Os desenhos de Ribeiro Telles e fotografias de época foram os pontos de partida para a reabilitação de espaços verdes e de convívio no Bairro de São Miguel, em Alvalade. Última fase arranca em Setembro.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Lago da Praça Francisco de Morais, dias antes da entrada em funcionamento do repuxo
Francisco Romão PereiraLago da Praça Francisco de Morais, dias antes da entrada em funcionamento do repuxo
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A intervenção no Bairro de São Miguel, em Alvalade, desdobra-se em três fases. A primeira, já concluída, foi na Rua Diogo Bernardes, com o objectivo de melhorar os canteiros e logradouros, fortalecer os solos, colocar um sistema de rega gota-a-gota e plantar novos arbustos. A segunda incidiu sobre a Praça Francisco de Morais, devolvendo água ao lago com repuxo e melhorando o piso desta zona de convívio do bairro. E a terceira, com início previsto para Setembro, implica a requalificação da zona envolvente da Escola Básica do Bairro de São Miguel, que foi alvo de obras de melhoria em 2019, obras essas que deixaram sequelas na área circundante e que é preciso resolver, como explica à Time Out Tomás Gonçalves, vogal da Junta de Freguesia de Alvalade (JFA).

A requalificação resulta de um investimento total de 95.400 euros, ao abrigo de um contrato de delegação de competências entre a Câmara Municipal de Lisboa e a JFA, com o objectivo não só de melhorar o espaço público e permitir uma vivência social mais rica dos moradores, como também de valorizar o legado paisagístico de Gonçalo Ribeiro Telles nesta zona de Lisboa.

Zonas ajardinadas do Bairro de São Miguel
Francisco Romão PereiraZonas ajardinadas do Bairro de São Miguel

Recuperar a Alvalade dos anos 50

Desenhada pelo arquitecto João Faria da Costa, a urbanização a sul da Avenida Alferes Malheiro, que viria a ser Alvalade, começou a erguer-se em 1947. A ideia era esta: expandir a cidade para Norte, projectando-se para aquela nova zona uma capacidade para alojar 45 mil pessoas, a partir de um plano dividido em oito células, cada uma delas centrada num equipamento escolar. Nada por acaso. O Bairro de São Miguel era a sétima célula e o projecto paisagístico coube a Ribeiro Telles, então um jovem de 28 anos, que já defendia o conceito que haveria de reiterar ao longo da vida: o da necessidade de as malhas urbanas serem atravessadas por corredores verdes, ou "contínuos naturais". Uma das finalidades da reabilitação agora em curso é precisamente não deixar morrer essa ideia, na década em que mais se fala sobre a resiliência das cidades às alterações climáticas e na importância de naturalizar o espaço público.

Envolvente da Escola Básica do Bairro de São Miguel
Francisco Romão PereiraEnvolvente da Escola Básica do Bairro de São Miguel

Contrariar "o impacto negativo da ilha de calor com a redução de zonas pavimentadas e não arborizadas", conforme se lê na memória descritiva do projecto em curso, partilhada com a Time Out, é assim um dos efeitos calculados por Ribeiro Telles e que agora se tem o intuito de reforçar. Ao mesmo tempo, criar zonas verdes e de estadia, ligadas ao projecto original de São Miguel, é uma forma de se "fortalecer a identidade do bairro", explica Tomás Gonçalves. 

Já em 2017, no mandato do executivo anterior, o jardim da Rua António Ferreira, junto à Escola Básica, foi alvo de intervenção, perante a criação de um espaço de estadia e a instalação de um bebedouro (que incluía uma saída de água para cães). Também houve uma intervenção no lago da Praça Francisco de Morais, mas não de fundo, de acordo com o testemunho do actual vogal da JFA.

Bairro de São Miguel
Francisco Romão PereiraBairro de São Miguel

"Actualmente o espaço é sentido como velho e degradado. O elemento de água não está operacional e a vegetação perdeu muito da sua qualidade cénica. O pavimento em betuminoso está degradado e reflecte muita da radiação recebida", explica-se na memória descritiva, com data de Novembro de 2023. Instalada uma nova bomba de circulação da água, o repuxo voltou à vida esta semana e a praça está, agora, de cara lavada. No grupo de Facebook Vizinhos do Bairro de São Miguel, partilha-se o regozijo: "Há sete anos que não se via a água tão limpa", sublinha um dos membros.

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