Ver o mar, passear pela Baía, sentir-se vivo após um mergulho no Guincho, comer um peixe grelhado num restaurante tradicional, deliciar-se com uma areia (o bolo, sublinhe-se)... Se imaginássemos que quem visita Cascais traz um passaporte em branco para carimbar de experiências locais, todas estas seriam obrigatórias e fariam corar muito boa gente de inveja. Mas para lá dos programas mais convencionais, há outros que representam uma espécie de lado B da vila, tantas vezes esquecidos pelos próprios cascalenses. Eis um roteiro das 24 horas perfeitas em Cascais. Quem alinha?
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A pastelaria cascaense Sacolinha tem várias moradas, mas é na mais central, a poucos passos da Baía, que começamos este dia, com um pequeno-almoço bem clássico: sumo de laranja, café com leite e fofinho misto (um pão da casa, redondo, branquinho e muito fofo). E podemos esquecer por um momento a dieta, certo? Então venha uma mini bola de Berlim com doce de leite ou uma miniatura de croissant açucarado para sobremesa.
Av. dos Combatentes da Grande Guerra, 107. Seg-Sáb 08.00-20.00.
Dê à sola para esmoer o banquete matinal. Na esplanada da Sacolinha vire na direcção do mar. Assista a uma partida de futevólei na praia dos Pescadores, tire uma fotografia à frente do belíssimo edifício da Câmara Municipal e suba lado a lado com os canteiros impecáveis até ao forte da Cidadela, onde pode entrar para explorar sem pressas várias galerias de arte, livrarias e uma florista com muita pinta: a D. Amélia Flower Bar.
Av. Dom Carlos I.
Não perca o balanço e continue a subir mais um pouco (é uma subida pequena e ligeira, vá), desta feita até à Casa das Histórias Paula Rego. O museu da artista em Cascais, num edifício desenhado pelo Pritzker de 2011, Eduardo Souto de Moura, foi inaugurado em Setembro de 2009 e, além da colecção de 620 obras, tem sempre boas exposições temporárias. A exposição permanente, constituída por pintura, desenho e gravura, reflecte o seu percurso artístico e criativo, de cerca de 50 anos, e inclui também obras do seu marido, o artista britânico Victor Willing. A colecção integra ainda uma obra têxtil de grandes dimensões e parte do seu espólio documental.
Av. da República 300.
Rume à Marina (são nove agradáveis minutos a pé, atravessando o pulmão da vila – Parque Marechal Carmona) e faça um-dó-li-tá: frango? É no Coco Pollo. Carne? La Brasserie de l’Entrecôte nunca falha. Pizza ou massa? Sente-se à mesa do Gordinni. Marisco? Suba até ao Marisco na Praça. Então e um gelado para refrescar no final? Faça o favor de ir ao Mioo.
O passeio à beira-mar continua, desta vez pela ciclovia. Na direcção da Casa da Guia vai passar pela Boca do Inferno – pare para ver as ondas impressionantes, mas com juízo e sem correr riscos desnecessários. Uma vez na Guia, alugue uma biCa ou uma trotinete da MobiCascais para seguir caminho sobre rodas até ao Guincho.
Com sorte, apanha um dia pouco ventoso para recarregar baterias na água fria e retemperadora da praia do Guincho, com vista para a Serra de Sintra. Deixe-se ficar para o pôr-do-sol com um gin tónico no Bar do Guincho, e vai ver como fica lindamente.
Há que marcar mesa com alguma antecedência, mas para experimentar a verdadeira movida cascaense, jante num dos restaurantes da Rua Amarela. México, Itália, Índia, Bélgica, China e, claro, Portugal – há gastronomias de vários pontos do mundo e esplanadas com espaço para todos: casais apaixonados, famílias numerosas ou grupos de amigos.
Rua Nova da Alfarrobeira, Rua Alexandre Herculano e Rua Afonso Sanches.
Ideal para beber um copo com um grupo de amigos ou marcar mesa para jantar e por lá ficar a dançar até de madrugada, El Clandestino apresenta um menu inspirado na comida peruana, fundindo esta tradição gastronómica com aromas e sabores característicos da cozinha asiática. Quanto às bebidas, existem cocktails especiais como a margarita clandestina, feita com Tequilla Olmeca Reposado, lima, morango e vinagre balsâmico; o ginco de mayo, que leva Beefeater, lima, hortelã e ginger beer; e o fresco meet me in the bathroom, uma promissora mistura de mezcal, toranja e limão.
Avenida Costa Pinto, 10. 96 527 7879. Qua-Sex 19.00-00.00, Sáb-Dom 12.00-00.00. O bar fecha Às 04.00 às sextas e sábados.
Há qualquer coisa de alegre numa rua pintada, seja cor-de-rosa ou amarela. Nesta última, em pleno centro histórico de Cascais, no eixo que compreende as ruas Nova da Alfarrobeira, Alexandre Herculano e Afonso Sanches, paira uma vibração boa, como se estivéssemos noutro território. Foi aqui que a Câmara instalou, desde o Verão 2020, uma zona dedicada à restauração de rua, sem trânsito, e cheia de gente animada de um lado para o outro. Cada vez mais um ponto de paragem obrigatório para cascalenses e visitantes quando os objectivos são comer bem, beber um copo e dar um pezinho de dança – tudo no mesmo raio de acção, sem ter de andar de carro ou uber de um lado para o outro –, conheça os melhores restaurantes na Rua Amarela.
Numa das suas crónicas no jornal Público, Miguel Esteves Cardoso escreveu: "Há poucos lugares no mundo que passam a minha prova dos cem: num máximo de cem metros, tem de haver quatro atracções – um sítio onde tomar qualquer coisa, um sítio onde comprar jornais e revistas estrangeiras, um sítio onde se possa fazer umas comprinhas para levar para casa e, finalmente, um sítio para estacionar o carro. (...) No Monte Estoril, na Avenida Sabóia, existem esses cem metros perfeitos". Caso queira ficar-se pelos cem metros de MEC, entre o Ray's Bar e a Queijaria do Monte, pode parar por aí, que fica lindamente. Mas caso queira andar mais uns metros para cima e para baixo, sugerimos-lhe dez paragens obrigatórias na Avenida Sabóia.
Não temos nada contra ficar estendido ao sol ou a encher a barriga de peixe e marisco. Mas há mais, muito mais para fazer em Cascais, num equilíbrio perfeito entre história, natureza e diversão. Estas rotas pedestres auto-guiadas, do Guincho ao Estoril, pela costa ou no meio da natureza, prometem mostrar-lhe o outro lado da região. Para os mais aventureiros a informação que se segue é mais do que suficiente. Já os mais cautelosos podem entrar no site Visit Cascais e fazer download do guia para cada um dos trilhos, que, além de outras informações, incluem ainda um mapa e ilustrações da fauna e flora que podem encontrar ao longo do caminho. Da próxima vez que estiver entediado em casa ou a reclamar porque faz pouco exercício, lembre-se que a solução pode passar por aqui.
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