“Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir mas sim uma maneira de ser.” Foi o próprio mestre que o disse e é à boleia desta verdade sobre a arte (e também sobre styling) que a Gulbenkian dedica duas salas à exposição “José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno”. Na verdade, o título permite-nos outras liberdades. Afinal, quantas maneiras de ser moderno encontramos na vida e na obra de Almada Negreiros? No mínimo, várias, se pensarmos na excentricidade que levava à rua, nos manifestos desbocados, nas ilustrações novelescas, nos estudos geométricos, no cinema. E já lá vão cinco.
Por essas e por outras é que Mariana Pinto dos Santos e Ana Vasconcelos, as curadoras de serviço, quiseram passar ao lado de uma viagem toda certinha (cronologicamente falando) pela obra de Almada Negreiros. De facto, muito mais interessante do que isso é olhar para trabalhos nunca antes mostrados ao público, nem a exposição que inaugurou o Centro de Arte Moderna, em , nem na que marcou a abertura do Centro Cultural de Belém, em (o que só nos faz pensar que o artista é um óptimo inaugurador).
Aqui, no limite, inaugura-se todo um novo capítulo para quem apenas conhece a superfície da obra de Almada Negreiros. Ao longo de oito núcleos, distribuídos por duas galerias, sucedem-se as várias linguagens introduzidas e revisitadas pelo mestre, da abstracção geométrica às inúmeras representações dos saltimbancos, personagens de circo altamente apetecíveis aos olhos de vários artistas da época. Das obras agora expostas, apenas um quarto faz parte do acervo da Fundação, numa amostra que vai da pintura à escultura, do cinema ao desenho. Pelo meio, há trabalhos que nos confundem. A curadora Mariana Pinto dos Santos chama-lhes “híbridos entre o estudo e a obra plástica” ou, se se preferir, projectos de alguma coisa que só por si se tornaram objectos artísticos.
Com um artista assim no topo da agenda, a programação complementar faz jus à ocasião. A partir de de Fevereiro, o ciclo de mesas redondas explora diferentes facetas da obra de Almada. A 3 de Março, as atenções viram-se para um outro autor. Almada, Um Nome de Guerra, de Ernesto de Sousa, é projectado no espaço da Colecção Moderna.