Um ano de MAAT. Como é que tem sido?
Uma montanha-russa. Estamos a fazer 18 exposições e portanto não há propriamente momentos de paragem. Há um ritmo muito encadeado de produção de exposições e isso é muito excitante. E depois a resposta tem sido muito boa o que só nos pode deixar contentes. Quer a nível nacional, quer internacional. Tenho tido muitos ecos de pessoas que já ouviram falar, que sabem, que estão atentas, e que percebem que há uma programação nova a acontecer em Lisboa.
Esse era, aliás, um dos objectivos, certo? Pôr o MAAT no mapa internacional das artes?
Sim, sem dúvida. Fazer um novo museu com a ambição deste museu sem ter essa ambição pareceria estranho. Lisboa está a beneficiar de um momento muito especial e portanto fazia todo o sentido que nos endereçássemos a todos os visitantes que vêm a Lisboa. Mas claro que também nos querermos inserir no mundo da arte mais lato e ir aí buscar reconhecimento e legitimação. E de facto com os artistas que temos trabalhado e com o programa que temos desenvolvido tem havido uma óptima reacção. Portugal está a aparecer finalmente ao nível da arte contemporânea. Já tinha aparecido no campo da arquitectura, no campo do design e de repente agora está a aparecer no campo da arte. Sempre cá estivemos e sempre houve uma produção, mas agora está a crescer em escala e isso é muito significativo.
E os portugueses? Chegou a dizer que sentia que os portugueses estavam muito desligados da arte contemporânea.
Acho que já começou a mudar. Já tinha começado a mudar com o impacto que Serralves teve na cidade do Porto e com o facto de o [Museu] Berardo atrair um grande número de visitantes. Mas quando começámos há um ano, ainda se sentia essa resistência, particularmente [em relação] a um programa exclusivamente feito de arte contemporânea por um facto simples: as pessoas quando têm história de arte só têm até ao 5.º ano. Ficam nos inícios do modernismo, no Picasso. Portanto, se não houver um acompanhamento profissional ou uma grande paixão pela arte contemporânea, as pessoas não têm possibilidade de saber os caminhos que a arte contemporânea trilhou desde esses heróis modernos e mais conhecidos. O que eu acho que está a acontecer em Portugal, lembra-me o período em que eu vivia em Londres em 1995, há 20 anos, em que estávamos em plena época dos Young British Artists a aparecer, começou o Prémio Turner e gerava-se muita polémica nos media generalistas sobre o que é isto da arte. E essa reacção foi o que acabou por habituar o público à ideia de que a arte fazia coisas que às vezes até pareciam bastantes comuns mas que requeriam obviamente um pensamento por trás. Isso foi o início da Tate Modern e hoje em dia a Tate Modern é uma referência, teve um alargamento dos públicos através dos serviços educativos de arte que começaram a educar desde muito cedo. Acho sinceramente que a transformação aqui já começou e não tenho a menor dúvida de que daqui a 10 ou 15 anos haverá ainda mais público porque estamos realmente a fazer essa educação de públicos, não só aqui como noutros museus.
No caso do MAAT, muitos portugueses vêm mais por curiosidade do edifício. Como é que se trazem essas pessoas para o museu?
O nosso desafio é fazer com que as pessoas voltem. Virem pelo edifício é relativamente fácil. Queremos conquistar o público português e por isso criámos o membership, para as pessoas perceberem que o preço do bilhete não deve ser uma barreira. Queremos que usem o museu de uma forma mais relaxada, por prazer e com mais tempo e, quando calha, tragam as crianças para um programa. O membership, no fundo, elimina a barreira do preço porque acaba por ser dez euros por pessoa por ano, crianças são gratuitas. Isso permite a uma família vir aqui repetidamente só para usufruir do espaço, que é o que acontece nos grandes museus internacionais. De algum modo cria-se a confiança de que há sempre algo interessante para ver e isso é o que talvez nos consiga permitir substituir esse fascínio inicial pelo edifício por uma visita mais regular que tenha a ver com o conteúdo das exposições.
É esse o desafio para os próximos 12 meses?
Já foi o desafio neste período, desde que começámos a ter os bilhetes pagos. Ainda há muita gente que vem conhecer, mas muita gente já tinha conhecido naquele período [de Outubro a Março]. Aliás, estivemos a analisar os números do início de Outubro do ano passado até agora e tivemos 555 mil visitantes.
Ultrapassou as expectativas?
Sim e não. Porque, por um lado, grande parte desse número foi no tal período gratuito em que as pessoas vinham ver o edifício. A nossa expectativa anda mais nos 350 mil e paulatinamente esperamos chegar aos 400 mil. Estive no outro dia a ver os números das atracções portuguesas e, tirando o falseamento que o Berardo faz dos números, a Fundação Calouste Gulbenkian tem 320 mil. A Utopia/Distopia, que não é uma exposição fácil, teve 110 mil visitantes. O Almada Negreiros [exposição que esteve no Museu Calouste Gulbenkian] teve um bombardeio mediático e teve 135 mil visitantes. Não estamos propriamente a fazer campanhas mediáticas em torno das exposições, estamos a contar que as pessoas percebam que as exposições lhes trazem algo importante. É nesse sentido queremos continuar a trabalhar, que os temas das exposições e os artistas que seleccionamos sejam realmente relevantes para as pessoas.
Qual é a percentagem de portugueses nesses números?
A fatia de portugueses ainda continua a ser mais elevada, mas estamos paulatinamente a crescer ao nível do público estrangeiro. Em Agosto, pela primeira vez, o público estrangeiro aproximou-se dos 45%. Mas vinha dos 12% numa fase anterior, agora estamos nos 25/30% em média.