Num mundo saturado de imagens, a fotografia acaba por ser banalizada, mas não é por isso que deixa de ser uma boa forma de entender o que nos rodeia. Estes livros de fotografia dão uma ajuda.
Foi por altura do Verão passado que, Maria Sécio, fotógrafa de 25 anos a viver em Berlim, se apercebeu que muitas das suas fotografias tinham sempre algo em comum. A predominância da água era uma constante. “Havia pessoas, reflexos, padrões e então comecei a reunir fotografias que me transmitissem a sensação de estar dentro dela”, conta ao telefone desde Berlim, onde, relata, “as pessoas continuam a fazer vida na rua” por estes dias.
Às voltas com negativos antigos, a fotógrafa debateu-se com o aborrecimento e estagnação criativa que o Inverno rigoroso na capital alemã provoca. Assim, aventurou-se a tentar trazer coerência ao projecto Swimmers, que espera vir a ganhar forma também na edição de nove fotolivros. A resposta chegou-lhe ao mergulhar nas memórias e sensações de quando consumia cetamina, uma droga usada para induzir e manter anestesias.
“Sinto-me como um feto, como se fosse apenas um ponto perdido no mundo”, descreve. “A maior parte das drogas causam ansiedade, mas com esta sinto-me controlada. É uma ansiedade que sabe bem”, tenta explicar a quem nunca teve essa sensação. Maria quis transpor essa atmosfera, essa sensação, através das cores, texturas, padrões e posições, nas suas imagens.
O objectivo foi distanciar-se do que lhe fazia sentido. “As imagens são todas elas sexualizadas. Às vezes não se percebe se os sujeitos são homens ou mulheres”. E é isso que a artista pretende, “que não pareça real aquilo que se está a ver”. Ao início, danificava os negativos um pouco sem critério, mas com o tempo evoluiu para um processo cuidado e criterioso, em que os passou a pintar, a aplicar-lhes lixívia e outros produtos.
No seu processo criativo, a fotografia é apenas o primeiro passo e o acto de captar a imagem não é cuidado e preocupado em seguir as regras. “A partir daí, faço uma série de coisas que ultrapassam apenas o acto de fotografar. Com isto, deixo de ser fotógrafa e passo a ser algo mais”, diz. “Torno as coisas menos sem nome.”
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