1. Double9
    Fotografia: Arlindo Camacho
  2. Double9
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  4. Double9
    Fotografia: Arlindo Camacho

Double9

Quando um chef Michelin assina a ementa de um gastrobar, a coisa promete. Mas só promete, não cumpre
  • Bares | Bares de hotéis
  • Chiado
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A Time Out diz

Fui jantar ao Double9 num sábado à noite, convencida de que ia dividir uns pratos imaginados por Joachim Koerper, acompanhá-los por cocktails em vez de vinho, conversar um pouco, ouvir boa música e estava feito. Sabia que não estava a entrar num restaurante convencional, já que o sítio se assume como gastrobar; sabia que outros conceitos semelhantes tentaram vingar em Lisboa mas sem sucesso (exemplo do extinto Bocca) e por isso levava alguma expectativa para ver a execução deste; e sabia que o mais parecido com a ideia de bar gastronómico é o vizinho Mini Bar, mesmo não havendo ninguém a chamá-lo de bar...

Mas nada me tinha preparado para o que encontrei. Música alta, que foi ficando mais alta à medida que a noite avançou (lá se foi a conversa), algumas mesas de mulheres bem vestidas, com cocktails à frente, numa reencarnação perfeita de O Sexo e a Cidade, empregados simpáticos, solícitos, a mandar algumas piadas (uma linha Hard Rock, mas muito civilizada), casais portugueses e estrangeiros, grupos de homens, grupos mistos de turistas, um anfitrião italiano extremamente simpático e de gargalhada alta, cocktails a saírem do bar envoltos em nuvens e fumo... Bom, vou desembuchar: senti-me no Guilty.

Não o digo em tom de crítica. Digo-o porque poucos sítios em Lisboa conseguiram ser bar e restaurante ao mesmo tempo. E porque o castanho dos sofás capitoné também me transportou para lá. Com a diferença que aqui não há pizzas e hambúrgueres, mas uma cozinha de chef com estrelas Michelin no currículo (está escrito na própria ementa).

Devo sublinhar, porém, que recebi dois avisos. “Isto nem sempre é assim. Há noites mais calmas” e “estamos com um grupo grande de estrangeiros, o serviço pode atrasar.” Atrasou, a noite não foi nada calma, fui atendida por quatro empregados diferentes e, quando saí de lá, já havia gente em pé (desse tal grupo) a dançar. Posso ter apanhado uma noite de excepção, é certo, mas a verdade é que também não fiquei encantada com a comida.

Para começar, e depois de uma resposta afirmativa à pergunta “vão querer também a carta das comidas?”, chegou a ementa (com atraso). E só depois um couvert de pão banal, azeitonas kalamata (de origem grega) mergulhadas em azeite e orégãos, manteiga e umas óptimas amêndoas caramelizadas com caril, muito doces – o que é raro num couvert.

Cinquenta minutos depois de ter chegado ao restaurante, veio o primeiro prato. Um gaspacho de tomate e melancia com camarão. Uma combinação de sabores feliz, mas um resultado demasiado aguado e pouco frio. O próprio camarão em pedaços acrescentou pouco à mistura, sendo apagado pelo sabor do tomate. A enfeitar umas folhinhas de microgreens acabados de cortar, algumas ainda com caule. Folhas essas que haviam de acompanhar o resto da noite. E isto não é bom.

De seguida, ovos rotos com presunto de porco preto alentejano. Uma desilusão. No excesso de gordura e na apresentação. Batatas sensaboronas, amolecidas no interior (congeladas?), fatias de presunto inteiras, todas enrodilhadas, gema dos ovos quase cozida. Por cima, folhinhas de microgreens acabados de cortar.

Surpreendente no formato o tártaro de chili com carne e tacos. Achei que ia usar as mãos, mas o prato era um bife tártaro com chili, bem picante, com tiras de pão muito fino, tipo wrap, tostado. Mas tostado a ponto de estar queimado e matar o sabor da carne. Pena. Por cima, folhinhas de microgreens.

O último prato era um piano de vaca alentejana a baixa temperatura com gnocchi de limão. Carne muito boa, tenra, com a necessária camada de gordura, os gnocchi com um pouco de limão a mais e ervilhas. Por cima, folhinhas de microgreens.

Ora parece-me que a carta está bem conseguida, especialmente quando se trata de um bar, parece-me bem tornar acessível uma cozinha de luxo, mas a execução não corre como deve correr num restaurante onde é um chef estrelado que assina o menu.

Paguei 85€ por duas pessoas, bebi quatro cocktails – aqui são todos feitos com chá –, senti-me a sair à noite sentada à mesa mas se lá voltar será só para beber. E espero que seja um dia mais calmo.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Hotel Mercy
Rua da Misericórdia, 76
Lisboa
1200-273
Transporte
Metro Baixa-Chiado
Horário
Seg-Qua e Dom 16.00-00.00, Qui-Sab 16.00-02.30
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