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A fotografia como tela na Culturgest

Escrito por
Catarina Moura
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A fotografia não serve só para encontrar "a" imagem, o melhor plano, a melhor luz. É pelo menos isso que dizem os artistas plásticos portugueses que andaram a experimentar entre 1968 e 1980. A fotografia é um dos materiais da prática artística em "O Fotógrafo Acidental: serialismo e experimentação em Portugal 1968-1980", a primeira exposição assinada por Delfim Sardo na Culturgest desde que se tornou programador da fundação. A história desta exposição continua do outro lado do corredor, em "Simultânea. Obras da colecção da Caixa Geral de Depósitos", onde se vêem as obras produzidas por Helena Almeida, Ângelo de Sousa ou Vítor Pomar.

Ao entrar em "O Fotógrafo Acidental" percebe-se logo, com as fotografias feitas por Ângelo de Sousa na Rua da Alegria no Porto, que esta é uma perspectiva nova sobre este meio. A fotografia aparece em série e assim, umas ao lado das outras, parecem contar uma história. Estas pessoas que olham para outras pessoas podiam ser cenas de um filme, assim como as imagens de Londres pelo mesmo artista.

A experimentação, a fotografia em série chegam a ser forma e tema em artistas como Helena Almeida, que faz subséries dentro de séries maiores e tira centenas de fotografias, especialmente auto-retratos que depois usa como plano para pintar e construir uma tridimencionalidade, como em Desenho Habitado, em que uma mão desenha uma linha que é afinal um fio de arame a sair do plano. 

A fotografia a documentar a vida e o atelier do artista aparece pela lente de Vítor Pomar que fotografa insistentemente o seu estúdio, como num panorama em que nenhum centímetro quadrado fica por registar. É uma das obras que pode dar um salto para o que se passa na outra galeria: as telas de Vítor Pomar não são na verdade telas, pelo menos na sua origem. Eram rolos de tecido que estendia no chão do atelier e, em vez de enquadrar a pintura no espaço rectangular, pintava o grande tecido. Só depois enquadrava, recortava o pedaço que lhe interessava e fazia o quadro.

Também Helena Almeida salta de uma galeria para a outra: o Desenho Animado que se viu primeiro tem uma correspondência depois com um audio gravado pela portuguesa em que se ouve o som da grafite num papel. Tudo isto é afinal, mais do que arte ou fotografia, uma grande longa metragem, diz o curador: "Queria as duas exposições como um filme: chega-se aqui e há um racord com o que estava do outro lado".

De 20 de Maio a 3 de Setembro

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