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A comida iraniana não se come com as mãos como a indiana – fora um arroz muito cozido de uma região do norte do Irão – e não é muito picante. “Em termos de ingredientes é bastante mediterrânica. A parte mais oriental são as especiarias, mas não no sentido de ser picante. Usamos, por exemplo, pó de lima seco, leite fermentado seco, rosas secas”, explica Pooneh Niakian, natural do Irão mas a viver em Portugal desde os dois anos. Depois de uma licenciatura em arquitectura e uns quantos trabalhos em restaurantes para ganhar uns trocos, tomou o gosto de cozinhar e acaba de abrir o seu Cafeh Tehran, com pratos típicos iranianos, na Praça das Flores.
O couvert são frutos secos torrados caramelizados com canela e outras especiarias e pão barbari, uma espécie de focaccia (feita por um dos responsáveis da L’Éclair, onde Pooneh trabalhou), com pesto de cenoura e tomate seco. Depois vêm os nomes difíceis, os sabores aromáticos e as histórias. A sopa Asheh Reshteh, rica em cereais e especiarias servida com cebola e menta caramelizada (4,10€), é um desses pratos com história. “O nosso ano novo é em Março, no dia da Primavera. Na quarta-feira antes faz-se sempre uma festa que é a despedida do ano, salta-se em cima de uma fogueira, atiram-se as coisas más para trás e come-se esta sopa. Só nessa noite. Agora faço todos os dias e como muitas vezes, é estranho”, ri-se Pooneh.
Come-se, ainda, Kookoo Sabzi, uma fritatta de ervas aromáticas numa cama de iogurte de pepino e funcho (5,30€), uma “comida de piquenique”, Joojeh Kebab, um dos mais tradicionais, aqui com o peite de frango servido em naan e com salada shirazi, com tomate, peino e cebola roxa cortada em cubos pequenos (8,50€) ou Koofteh, umas espetadas condimentadas de carne de vaca e borrego (10,90€). Sempre com menta, uma das coisas mais usadas nesta cozinha. E, ao contrário de outros ingredientes e especiarias, a menta é das mais fáceis de arranjar – Pooneh usa a hortelã que os pais secam na casa do Algarve. Mas depois há ingredientes muito difíceis de apanhar, nem no Martim Moniz há, como o pó de lima.
Olhando para a carta do restaurante, o nome mais estranho e aparentemente mais impronunciável é o de uma bebida, Sekanjhebeen, um refresco com um xarope caseiro de menta e pepino. “É agridoce. No Irão até se comem folhas tenras de alface mergulhadas neste xarope. Mas aqui não sei se as pessoas iam perceber”, admite Pooneh. Há outra bebida, o Doogh, que é mais difícil de gostar. “Tem um sabor a leite de cabra, é um sabor forte. Há quem fique chocado porque pensa que é iogurte líquido. Mas agora quando me pedem já explico bem que é mesmo leite fermentado”, diz.
O restaurante, com uma pequenina esplanada e dois pisos com poucas mesas e uma decoração com fotografias do Irão, muitas plantas naturais e almofadas com tecido do Zanzibar, tem um menu fixo com entradas, pratos principais e sobremesas. E todos os dias há um prato diferente para dar asas à criatividade.
Mas, de tudo, ainda só houve um prato que alterou – uma sobremesa. Era um sumo de cenoura com uma bola de gelado, um refresco/sobremesa que, no Irão, até se come à beira da estrada. “Lá funciona como uma coisa doce mas super refrescante. Aqui o sumo não saiu muito bem e as pessoas não percebiam porque é que o gelado estava dentro do sumo. Troquei-o por uma compota de cenoura com água de rosas que acompanha com gelado de açafrão e pistáchios”, diz.
Praça das Flores, 40 (Príncipe Real). 21 073 6530. Ter-Dom 12.00-00.00.