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Pronto. Ao fim de 26 anos chegou finalmente o momento de tirar da gaveta a camisola que dizia “Quem Matou Laura Palmer?”, ou, claro, a alternativa e igualmente popular com a frase “Eu Matei Laura Palmer!”, e… Bem, íamos escrever usá-las, mas, convenhamos, passaram quase três décadas e isto não é um concerto dos Metallica. Pelo que, em vez de más figuras, o melhor é contar o que aconteceu para tentar compreender o que vai acontecer agora em Twin Peaks, acompanhando o regresso do agente Cooper (Kyle MacLachlan) à cidade onde tudo sucede e tudo parece uma alucinação, com uma única certeza: Laura Palmer continua morta.
Aliás, quem quer Laura Palmer (Sheryl Lee) viva tem de ver Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer, a prequela realizada por David Lynch, em 1992. Porque nas duas temporadas do enredo original (cujo visionamento é obrigatório e a compreensão sobrevalorizada) ela começa morta; morta está quando se descobre ser o pai, possuído por um demónio, quem a matou; e morta continuará até ao mais discutido final de série que, apesar de suspensa a meio caminho, mudou a televisão e, com o tempo, a trouxe até à chamada “era dourada”.
No entanto, apesar de cadáver, Laura Palmer, a santa e a prostituta cocainómana, é o centro da acção de Twin Peaks (e, pelo que se sabe, assim parece continuar no terceiro tomo), muitas que sejam as histórias paralelas, as personagens surreais, as alucinações recorrentes ou as meras distracções proporcionadas pelo argumento – também pela música de Angelo Badalamenti e a claustrofóbica fotografia com os seus inesperados derrames de som e cor a irromperem pela “normalidade” de um plano ou de uma sequência.
A razão de regressar a um ícone televisivo tem sempre a ver com dinheiro. Na melhor das hipóteses acrescentado pela vontade do criador em desenvolver ou concluir o que, para si, está incompleto. O regresso de Ficheiros Secretos ou os três primeiros episódios de Guerra das Estrelas são exemplo de que melhor seria ter ficado quieto. Mas, é certo, David Lynch não teve nada a ver com estas continuações, da mesma maneira que este não é cineasta fácil de colar a um rótulo, quanto mais uma expectativa de desenvolvimento linear, sendo que a leitura semiótica avançada dos trailers entretanto divulgados tem mais ou menos o mesmo valor que a leitura das entranhas de um peixe por um druida.
Daí, quem recorda sabe que, no último episódio, Dale Cooper escapa mais ou menos são do Black Lodge (é uma longa, longa história) para descobrir como, no fim das contas, na vida real, continuava à mercê de quem quer que Bob (Frank Silva) possuísse. Entretanto passou um quarto de século. Boa parte das personagens, sabe-se, vão regressar, e, com elas, mais as entretanto acrescentadas, uma bagagem considerável de pistas e pontas soltas, frustrações e desejos e ânsias, todos, mas todos, como sucedia no original, remetendo para o passado e influenciando o presente. Talvez seja altura de David Lynch e Mark Frost deixarem a plateia a par do que aconteceu entretanto. Ou talvez não. Porque uma coisa é certa: em Twin Peaks bizarria é sinal de normalidade – embora a normalidade televisiva também já não seja o que era.
Na Time Out desta semana, saiba tudo sobre o regresso de Twin Peaks.