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Este sábado, os Anjos70 acolhem um novo conceito de festa que se pretende afastar da lógica de clube. É antes um grupo de gente com gosto por música a mostrar o que tem andado a ouvir.
Joaquim Quadros, Vicente Futscher e Afonso Gomes sofrem de uma patologia para a qual ainda não existe cura: o vício pela música. Como é que se resolve, então, esta adição, esta ânsia que pode bem incomodar (quando aquilo que o mercado ou sítio onde estamos nos impõe uma música que não queremos escutar)? Vira-se a página e cria-se uma festa à medida. Realização que toma lugar já este sábado, nos Anjos70, pelo nome de Ouro/Bravo.
E o que é que, afinal, estes três amigos querem fazer? Afastar-se da lógica de clubbing pelo clubbing, dos mesmos sítios onde já vamos sem ver a programação: “Acho que Portugal está demasiado servido nessa parte, a bem ou a mal", diz Joaquim Quadros. "Naturalmente, sabemos que a festa irá cruzar o house, por vezes techno, porque também é isso que queremos, espontaneidade. Acima de tudo a ideia é convidar selectors a fugir da fórmula quadrada de clube, se possível, conseguir fazer qualquer coisa especial para ali. Discos de música africana ou música com ritmo, do disco até a coisas mais clássicas do funk, são bem-vindos. Mas não há género musical modelo, pretendemos essencialmente essa abertura. Só assim é que chegas a um sítio e te deixas realmente levar, é se não sentires alguma regra a conduzir a energia”, explica o radialista da VodafoneFM e promotor na sua PuroFun.
A ocupação profissional permitiu-lhe perceber que há qualquer coisa de diferente na música de dança que os eventos marcados por concertos não conseguem alcançar. Há um balanço mais imediato, os ouvidos estão mais predispostos a apropriar um som que assume o espaço onde está a ser tocado, que precipita o nosso melhor move de dança ou – no caso dos pés serem de chumbo ou de uma significativa timidez – nos leva para o bar, onde pedimos um copo e ficamos meramente a abanar o pé.
É essa pluralidade que a Ouro/Bravo parece garantir. “Nunca organizei nada essencialmente de DJs. Sempre os trouxe em conformidade com os concertos que promovi mas nunca me foquei num evento exclusivo disso, numa festa, aberta ao público. A aproximação a este formato passa por ser um encontro de gente onde eu quero estar, a que quero assistir. Música groove, durante o dia, vais ouvir coisas imprevisíveis e até ter um sentimento de que o público vai ser totalmente diferente dos concertos. É mais universal a ideia de dança per si, do que ires assistir a uma banda que não conheces. É mais atraente o formato, mistura mais pessoas e a dinâmica é outra”, enquadra.
Então e o que vamos poder ouvir? Bom, não sabemos. Sabemos apenas que há muitos e bons artistas, com diferentes origens, que devem garantir uma paleta sonora bastante alargada. A Debora, a Donna e a Ece trabalham todas com música em Londres, estão ligadas a lojas de discos e à rádio, onde têm um programa juntas: Winds and Skins, na Worldwide FM. Dan Shake (na imagem), por sua vez, é um produtor britânico com muito bom gosto. Foi o primeiro artista não-Detroit a editar pela Mahogani, do Moodyman, é influenciado pelo afrobeat de Fela Kuti ou pelo neo-soul de Flying Lotus, sem esquecer uma aproximação ao techno actual.
Os portugueses CVLT e Terzi são dois dos mais concorridos DJs em Lisboa, presentes em inúmeras festas e a fazer o seu caminho. E ainda o Vicente, que é também um dos fundadores do conceito e que vai abrir a festa. Estes Anjos que se preparem, que a Ouro/Bravo parece querer cantar: “Ficarei”. Que assim seja.