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“País Irmão tem um tom de comédia nunca feito em Portugal”

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
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É a grande aposta da RTP nesta rentrée. País Irmão – sobre um escândalo prestes a abalar o ministério da Cultura, cuja ministra promove, em parceria com o Brasil, a produção da maior e mais espectacular telenovela para que se possa abafar o caso – estreia nesta segunda-feira na RTP (às 21.00). A série é produzida por Leonel Vieira e realizada por Sérgio Graciano. O elenco conta com nomes como Virgílio Castelo, Afonso Pimentel, Victória Guerra, José Raposo, Margarida Marinho, Nuno Lopes, Maria João Bastos e Paula Lobo Antunes. Falámos com o realizador. 

Como é que surgiu a ideia para País Irmão?
A ideia surgiu com uma conversa do Tiago Santos com o João Tordo e posteriormente foram falar com o Hugo Gonçalves, que tinha vivido dois anos no Brasil, para fazer parte da equipa de argumentistas. Eles acharam que fazia sentido fazer parte deste projecto e convidaram-me. Foram à RTP, falaram com o Nuno Artur Silva e o processo começou aí.

O que gosta mais na série?
O guião. Acho que o guião é incrível. Acho que o Tiago, o João e o Hugo fizeram um trabalho incrível. É muito bem escrita a série. E logo a seguir estão os actores. Hoje que já acabámos de rodar, penso que não há ninguém que fizesse melhor, por isso estas foram as escolhas certas, tanto os portugueses como os brasileiros. Foram as escolhas certas.

O que é que as pessoas podem esperar de País Irmão?
Eu nunca sei o que é que as pessoas podem esperar, não sei o que é que as pessoas pensam. Eu acho que esta série não tem um só género, é uma série de géneros. É uma série que eu acho que tem um tom de comédia que nunca se fez em Portugal porque isto é uma comédia dramática, acho que é o melhor género para descrever. Acho que como é muito real, é hiper-realista, apesar da comicidade estar nas situações e não nas interpretações ou reacções. Se calhar, para convencer as pessoas a ver esta série, eu diria para a verem como uma abordagem nova à comédia e ao drama. Sinceramente, no panorama português acho que nunca vi assim uma coisa nesta linha.

Diz que a série é hiper-realista. Há aqui também alguma sátira política?
Eu acho que a série dispara para todo o lado. Acho que é uma sátira à política, às novelas, às igrejas evangélicas, ao lidar com a homossexualidade. É uma sátira que tem muitas personagens e por isso também vamos a muito mais sítios.

Como é que vê a aposta da RTP nas séries?
Esta aposta é quase a abertura de uma cave, acho que se dispararmos para muitas direcções às tantas podemos começar a ser selectivos. Acho que é preciso fazer muito, errar muito, para depois levarmos a ficção a bom porto. E acho que é isso que a RTP está a fazer. E deve fazer. Porque de facto abrir um caminho novo na ficção faz sentido num país onde a ficção está só representada nas telenovelas. E se tantas séries se fazem pelo mundo fora como hoje porque é que cá não se há-de fazer o mesmo? Mesmo que tenhamos menos dinheiro e meios de produção. Acho que a aposta da RTP é a certa e acho que o tempo vai provar exactamente isso, que vamos fazer coisas muito melhores, muito mais acessíveis e o público vai começar a ver. Eu acredito mesmo nisso.

Ainda é difícil competir com as novelas? As pessoas não colam ainda as séries portuguesas às telenovelas?
Acho que sim, mas a ideia também não é competir com as novelas. A ideia é competir com as novelas a nível de mercado mas acho que a nível de quem vê, de espectadores, é diferente. Acho que o que queremos é exactamente construir uma alternativa às novelas para termos uma proposta diferente. Se aproximarmos as séries das novelas é difícil concorrer com as próprias novelas por isso eu acho que o que faz sentido é afastar-nos ao máximo das novelas, criarmos o nosso próprio mercado e a partir daí tentar construí-lo devagarinho. Acho que quanto mais fugirmos das novelas, melhor para as séries e se calhar melhor para as novelas. Há 3 milhões de pessoas que vêm telenovelas por dia e nós somos 10 milhões. Há aqui mais 7 milhões que andam por qualquer lado.

País Irmão pode ser a resposta?
Isso é que eu não sei responder. Eu gostava muito que fosse. Acredito que possa ser, mas eu nunca percebo como é que o público vai reagir àquilo que faço. Não tenho muita expectativa em relação à reacção.

Mas é uma preocupação?
Por acaso eu tenho essa preocupação. Eu não tenho o perfil de autor que me desligo de quem vê. É uma preocupação que tenho, eu gosto que as pessoas vejam e percebam. E como gosto de fazer dramaturgia assente em coisas que existam, coesas, também estou preocupado com o lado de quem vê. E muito curioso.

Como é que foi a rodagem?
Estivemos nove semanas em Portugal e uma semana no Brasil. Correu muito bem, sempre com os tempos portugueses. Com tempos portugueses leia-se um episódio em dois/três dias. Mesmo com esses pressupostos conseguimos que a rodagem fosse óptima, com bom ambiente, com muita qualidade de trabalho. Na realidade não foi muito diferente das outras. A única coisa que mudou acho que foi a qualidade de quem trabalhava e a qualidade do trabalho que se estava a fazer. E isso é muito motivador.

Vamos ter uma segunda temporada?
Acho que isso é uma boa pergunta para colocar ao Nuno Artur Silva, por exemplo. Eu acho que é sempre possível haver uma segunda temporada. Embora esta série tenha uma temática – e posso dizer, desde já, que o último episódio é altamente surpreendente, e por ser tão surpreendente pode deixar continuar a série. Mas não é linear. Não sei.

Mas gostava que acontecesse?
Não sei, eu às vezes gosto de fechar a porta e que ela não se abra mais. Não sei que história é que poderia vir por ali.

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