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Conceitos como a transformação, a tensão entre ficção e realidade, ou a construção de conhecimento pelos olhos da artista inglesa Emily Wardill
Emily Wardill (1977, Reino Unido) pertence ao grupo de artistas estrangeiros que escolheu a nossa capital para viver, mas não é (só) por isso que merece a sua atenção. Com uma carreira consolidada no mundo da arte contemporânea – com bienais como as de Veneza e Sydney no currículo –, a artista inglesa trouxe este mês uma exposição individual ao Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. É a segunda mostra do "Espaço Projecto", ciclo de exposições de arte contemporânea recentemente inaugurado pela Fundação.
Intitulada Matt, Black and Rat, a exposição joga com a ambiguidade dos jogos de palavras e remete para a ideia de materialidade dos objectos: é que a tinta preta mate é utilizada para pintar motores, evidenciando o seu potencial material em detrimento da sua função, a de pôr veículos a andar. É uma "boa exposição para o público tomar contacto com este território artístico", contou-nos Rita Fabiana, curadora. E de que território estamos a falar, exactamente? O das artes plásticas, do vídeo e da fotografia, mas em última análise também o da arte que pensa o presente, que experimenta e explora, e que puxa pelo espectador.
A primeira sala faz isso mesmo: a sua estrutura assimétrica, aliada a uma escuridão intencional, convida a que o público invista na interpretação das peças e se desloque entre elas. Obras que inicialmente pareciam ser bidimensionais ganham volume, e uma das luzes, intermitente, vai alterando ligeiramente a experiência. Ao centro, uma coluna faz a ponte (sonora) com o que se passa na sala seguinte. Nela, o filme No Trace of Accelerator (2017) explora, em 48 tensos minutos, uma série de incêndios que ocorreu em 1990 numa aldeia francesa, e a procura de respostas por parte dos habitantes para o que se estava a passar.
Este processo de construção de conhecimento é central na obra da artista. Em I gave my love a cherry that had no stone (2016), o vídeo que encerra a mostra, vemos um edifício familiar em diálogo com o corpo de um bailarino. Soa confuso? Vamos tentar explicar: filmado no foyer do Grande Auditório da Fundação, o filme explora a simbiose entre o corpo humano e o espaço que este habita, mostrando ao espectador a capacidade performativa e comunicativa de ambos.
Para ver até 28 de Agosto no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. Av. Berna, 46A. Qua-Seg, 10h-18h.