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O documentário R.I.P 2 My Youth é um dos primeiros sobre transexualidade realizados em Portugal e conta a história de Isaac. Falámos com ele antes da estreia, esta quinta-feira, dia 2, numa sessão gratuita em Telheiras.
R.I.P 2 My Youth. O nome da canção da banda norte-americana de rock alternativo The Neighbourhood está tatuado num dos braços de Isaac, no meio de outras tatuagens. “A música saiu num período em que estava mais em baixo [foi lançada em 2015] e identifiquei-me”, conta, enquanto nos mostra a tatuagem na loja de roupa onde trabalha.
“Percebi que aqueles que deviam ser os nossos melhores anos, sem contas para pagar, sem responsabilidades, foram para mim anos de prisão perpétua, preso dentro de mim próprio. Queria enterrar isso, deixar mágoas e feridas para trás e andar para a frente.”
R.I.P 2 My Youth é também o nome do documentário em que Isaac, de 20 anos, conta a sua história de vida. “Estou muito habituado a falar disto. Sei que sou trans desde os 5 anos, por isso tive muito tempo para lidar com isto.” Foi por sugestão da namorada, Mariana Ramos, que aceitou ser filmado para um documentário de uma cadeira do Mestrado de Audiovisual e Multimédia da Escola Superior de Comunicação Social, em Benfica.
“Sabíamos que não era fácil de abordar, mas tentámos pegar no tema de uma forma cronológica e em coisas que a Mariana já tinha filmado”, diz João Pico, um dos realizadores e produtores do filme. Mariana acabou por não fazer a cadeira, mas o documentário seguiu para a frente, com a co-produção da agência de web-vídeo Comprimido.
A ideia do filme é ajudar outras pessoas. “Há muitos filmes que mostram a tragédia”, continua Isaac. “Pessoas assassinadas, que se suicidam, que não são aceites. Nós queremos mostrar um caso de sucesso, de superação e aceitação.”
O filme, que vai ser exibido na quinta-feira no auditório da biblioteca de Telheiras (a sessão é gratuita), acompanha Isaac em várias das suas paixões: “skate, fotografia, a Mariana e tatuagens”, enumera. “O documentário aborda a minha vida e por acaso eu sou trans. Pode-se ver a forma como descobri que sou, os meus médicos, eu no pré-tratamento hormonal, aquilo que sentia na altura…”
Os pais dão o seu testemunho, Isaac fala dos tempos de bullying na escola e vemos algumas fases do processo de transição, como a mastectomia. “Não estou a expor a minha vida, estou a falar da forma como me descobri, a minha família fala de como aceitou, a Mariana fala de como teve a ideia [do documentário]. Não faço disto um problema, é uma patologia, a disforia de género. Encarei o problema e decidi resolvê-lo.”
João Pico fica contente se conseguirem elucidar “nem que seja 10 pessoas” sobre o tema. “Já seria óptimo.” O filme é um dos primeiros documentários sobre transexualidade realizados em Portugal, e é provável que seja o primeiro a abordar uma transição FtM (female to male) no país.
Quinta, 20.30, no auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro. Estrada de Telheiras, 146 (Telheiras). Grátis