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"Humidade" é o novo título do autor de "Pornopopeia", onde a líbido continua à solta. João Morales dá-lhe cinco estrelas.
“É o seu pau, Horácio/– Nossa, nem parece meu./ – Não é mesmo. É da Pfeizer”, remata Maria Helena, desesperada perante um marido que lhe responde como “o sexo é uma ditadura”. Mas não vai sem resposta: “saudades da dita dura”.
A líbido está presente em todos os contos deste livro de Reinaldo Moraes (também guionista e homem da rádio, que já nos tinha oferecido Pornopopeia), com muito humor e algumas críticas mordazes. Por exemplo, às catástrofes nucleares em “A Grande Sinuca Celestial” (com laivos de ficção científica pós-apocalíptica) ou a uma certa marginalidade literária, em “Privada”. Na sua maioria publicados em outros suportes, recebem na sua designação de grupo o nome de um deles, “Humidade”, a história de Mariana e Liminha (diminutivo de Lima), uma virgindade defendida para lá do compreensível – mesmo depois de matrimónio contraído. Hilariante.
“Love is…” partilha connosco um fim-de-semana frustrado por um garoto insuportável; “Bijoux” é sobre um conto do vigário com duas belas moças; “Belo Horizonte” gira em torno de um nariz feminino; “Festim” coloca o leitor no centro de uma suruba quase surrealista.
São textos que cruzam sacanagem e rábula satírica, numa espécie de comédia de costumes apimentada. O melhor exemplo dessa conjugação é “História à Francesa”, escrito com um calão distintivamente barroco, sobre o casamento de uma jovem donzela com um conde que vivia consumido por uma fixação: “a dama lambrejar-lhe o rebulho cum brio, mantendo a lâmbia activa e atenta a todas as redobras e interstícios interessantes do supracitado recanto anatômico”.
Humidade
Companhia das Letras
316pp
16,90€