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Também queremos: tudo o que invejámos de outras cidades em Outubro

Escrito por
Luís Leal Miranda
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TAMBÉM QUEREMOS...

1. Uma creche para maridos

No centro comercial Vanke, em Xangai, há um bengaleiro onde se podem deixar homens adultos.

A maior parte das pessoas repete aquela conversa do “na saúde e na doença”, “até que a morte nos separe”, etc., sem se lembrar que um dia vai estar às voltas num edifício gigante como parceiro numa estranhíssima caça aos gambuzinos. É para esses cavalheiros cansados e desorientados, prestes a padecer de tédio mas empenhados em cumprir os votos matrimoniais, que um centro comercial na China criou a primeira “husband nursery” – uma creche para maridos ou um “jardim de adultância”. Ali é possível depositar o cônjuge entediado e deixá-lo à mercê de cadeiras de massagem, jornais e revistas, televisão e outros luxos à disposição nesta espécie de sala de espera glorificada. Não existe no Vanke Mall uma versão feminina deste conveniente salão, mas faria todo o sentido ter uma alternativa para senhoras, porque, convenhamos, são poucas as mulheres que gostam de fazer companhia ao marido durante uma demorada troca de impressões sobre “buchas” e “porcas” numa (não sejam boçais!) loja de ferragens. Isto só para botar aqui mais um estereotipozinho.

2. Uma espécie de utopia

Um estado-nação que é uma forma de estar – assim se descreve a Brixtopia, um colectivo de artistas que já tem uma moeda própria.

Ah, a numismática. Haverá assunto mais interessante? De certeza que não. O estudo e colecção de objectos monetiformes é um passatempo fascinante. E se a ideia da existência de uma nova moeda o faz salivar, pedimos que por favor coloque a revista a uma distância segura do seu queixo. Um colectivo de artistas do Sul de Londres chamado Brixtopia criou um estado-nação independente e sem fronteiras – isto é, existe apenas na cabeça dos seus membros. E não quer passar daí. A particularidade deste país imaginário é a criação de uma moeda própria, a Brixton Pound, um pedaço de papel-moeda com a efígie de David Bowie na pele de Ziggy Stardust. Essas libras alternativas são aceites em pequenos negócios locais na zona de Brixton e em feiras que o colectivo organiza em Londres. A Brixtopia é uma autoproclamada utopia criada em 2016 que explora e celebra a criatividade e a empatia. O objectivo é desafiar a ortodoxia do Estado real (em oposição ao Estado imaginado) e criar um ambiente onde diferentes grupos de pessoas se possam juntar para debater ideias e procurar alternativas. TURISTÓMETRO Será esta a época baixa mais alta de sempre? Em Lisboa é legal estacionar em segunda fila. O condutor só tem de se certificar que deixa os quatro piscas ligados e sair do veículo com uma destas justificações: a) vai só ali beber uma bica; b) precisa de ir entregar o Totoloto; c) tem de aliviar a bexiga. Durante muito tempo o estacionamento em terceira fila também foi permitido, mas só para funcionários do Estado com boas relações junto da polícia de trânsito e dos tribunais. LLM Organizam debates, workshops, festas e mercados onde se podem trocar libras por “ziggys”, nome pelo qual são conhecidas as Brixton Pounds. Em Lisboa propomos a criação de um estado-nação fictício em Cascais que tenha um sistema de trocas à base de Delfins, pedaços de papel com o retrato de Miguel Ângelo que podem ser usados em feiras de bloggers.

3. Um bar com mesas de pingue-pongue

Reviva os seus tempos de glória do bar da Associação de Estudantes num sítio que junta álcool e mesatenismo.

O pingue-pongue é um desporto que admiramos por vários motivos. Em primeiro lugar porque é o único que tem uma onomatopeia como nome – mas, vamos lá ver, não devia ser “pong pong”? quando é que uma bola faz “ping”? – e em segundo lugar porque o ténis bonsai goza de algum respeito no meio desportivo, uma coisa que o minigolfe nunca conseguiu fazer. A prática descontraída do pingue-pongue – um desporto que só levamos a sério quando estamos a ganhar – é comum a muitos humanos e remonta à nossa juventude: das tardes no bar da Associação de Estudantes aos serões de Verão no Clube Recreativo Desportivo Cultural lá da terra. É por isso que gostávamos de ver em Lisboa um bar como o Bounce, um franchising internacional que junta cocktelaria de qualidade a mesas e raquetes. Em Londres há uma sala com 17 mesas, uma pizzaria e um “esmerado serviço de bar” no edifício onde, alegadamente, foi inventado este desporto. Existe ainda uma mesa central onde se disputa um hipercompetitivo torneio de “roda-bate-fora”, em que o vencedor tenta manter-se o máximo de tempo na mesa derrotando todos os opositores. Estamos interessados, sobretudo, em ver as pessoas fazer aquela pequena corrida de cócoras para apanhar uma bola que rola pelo chão, depois de ter bebido umas quantas canecas.

4. Um museu de vão de escada

E quem diz de vão de escada diz de beco, quiosque, poço de elevador ou armário. É nesses sítios que brota o Mmuseum de Nova Iorque.

A morada do MMuseumm pode encontrar-se no Google Maps, mas não pense que a consegue memorizar para voltar mais tarde. Este museu nómada muda-se de bairro para bairro e instala-se sempre em sítios improváveis. Mas mais extraordinário do que esta heterodoxia geográfica são os objectos expostos: uma série de Corn Flakes exibida como se fossem borboletas raras, uma mostra dos vários objectos que foram confundidos com bombas pela segurança aeroportuária e um conjunto de latas de “ar puro” vendidas como souvenir a turistas são alguns exemplos das colecções que vêm parar ao Mmuseumm. São objectos ordinários que contam histórias extraordinárias. O artista e curador, Alex Kalman, descreve o projecto que fundou em 2012 como jornalismo. “Mas em vez de ter textos e fotos temos objectos”, contou à revista New York em Maio do ano passado. Há alguma ironia na forma como este antimuseu se esforça tanto para parecer uma instituição respeitada: os audioguias, as placas com as descrições, o catálogo da TURISTÓMETRO A Baixa em Outubro parece a Baixa no Natal. A pala do Pavilhão de Portugal, construído para a Expo 98, era direita. O ângulo de 90º desapareceu dias antes da inauguração, e os responsáveis pelo projecto apressaram-se a dizer que sim senhor, era mesmo assim. Tida como “a torre de Pisa portuguesa” ou “o pior half pipe da história”, a pala de Siza Vieira ganhou fama internacional. Para evitar que uma eventual queda provocasse dezenas de vítimas, as autoridades decidiram que nunca nada de interessante se iria passar por baixo daquela estrutura. Promessa que cumpriram até aos dias de hoje. LLM exposição, tudo tem um ar tão circunspecto que acaba por parodiar o cinzentismo da “arte a sério”. Em Lisboa gostávamos de ver uma delegação do Mmuseumm exibir a mostra de Folhetos de Curandeiros Entregues no Metro ou Peças de Roupa Preferidas Para Sempre Manchadas Por Caca de Pombo. Fica a ideia.

+ A capa da próxima Time Out vai ser feita por si

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