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1. Publicar coisas no mural do metro
Subway Therapy é o nome desta iniciativa de desabafo colectivo que incentiva os nova- -iorquinos a colocar post its na parede de uma estação de metro.
Um dia depois da eleição Donald Trump os azulejos brancos de um túnel na estação de metro de 14th Street, no coração de Manhattan, quase não se viam: centenas de post its com mensagens de raiva ou esperança formavam uma espécie de papel de parede da contestação. O projecto (ou experiência social) Subway Therapy começou nessa semana, mas mantém-se como um lugar de união entre os nova- -iorquinos de cada vez que uma tragédia afecta aquele país – aconteceu com as manifestações de Charlotesville ou com o furacão Harvey. O mentor do projecto, o artista Matthey Chavez, começou por se sentar numa secretária com uma placa que dizia “Guardador de Segredos”. As pessoas chegavam, confiavam-lhe um segredo e iam à sua vida. Mas o projecto evoluiu para a formato que agora conhecemos: “Uma oportunidade para as pessoas transformarem a sua ansiedade numa coisa bela”. Esta parede de catarse é desmontada de tempos a tempos para dar lugar a novos desabafos, mas grande parte dela vai ser preservada pela New-York Historical Society pelo seu inegável valor enquanto testemunho deste período da história dos EUA. E a 27 de Outubro sai um livro com muitas das frases que cidadãos anónimos foram deixando por ali. Em Lisboa podemos fazer o mesmo nas estações de metro, mas em vez de post its talvez valha a pena investir numas folhas A4. O tempo de espera por uma carruagem permite divagações mais longas e complexas.
2. Um brunch com happy hour
O que é que está a impedir Lisboa de ter um brunch com Bloody Mary’s à descrição? O quê? O quê?
Não se sabe ao certo quando e como começou esta fusão de pequeno-almoço com almoço. Não se sabe, também, se se trata afinal de um mata-bicho tardio, de um lanche antecipado ou de um almoço ajantarado. O brunch está numa zona cinzenta na hierarquia das refeições e isso é uma das coisas que o torna tão interessante. Mas o mais fascinante é que esta é uma refeição em que é socialmente aceitável beber álcool enquanto se mastiga comida geralmente associada à primeira refeição do dia. Ou seja, é a desculpa perfeita para ir para os copos cedíssimo. Em Lisboa, o brunch é uma instituição sólida, respeitada, com representantes em todos os bairros, grande variedade de menus e preços. Mas não há, até ver, um brunch com bebidas à discrição. Falamos de mimosas (aquele cocktail de champanhe e sumo de laranja que dá cabo do resto do dia), de Bloody Mary’s (uma suposta cura para a ressaca), de margueritas e de outras opções menos nutritivas. A Time Out Londres está sempre a pavonear-se com as suas sugestões de “bottomless margueritas”, isto é, margueritas sem fim. E uma viagem pelas ruas da moda em Nova Iorque obriga-nos a enfrentar uma série de propostas de alcoolismo matutino. Não pedimos um jerrican de sangria a acompanhar as panquecas, só queremos uma desculpa sofisticada para apanhar um pifo antes do meio-dia.
3. Gelados com sabor a Tejo
Em Taiwan, a água poluída de rios e lagos foi transformada em gelado para alertar consciências. Que efeito teria um hipotético “Calipo de rio Tejo”?
Se alguma vez viu um turista a banhar-se no Tejo e pensou imediatamente em salmonelas, hepatite e diarreia, então sabe que recolher a água do rio e transformá-la em gelado só pode ser uma das piores ideias de sempre. E é, se o objectivo for inventar um souvenir ou instituir uma nova tradição lisboeta. Mas é uma excelente ideia se quisermos mostrar que as águas que banham a cidade não são flor que se cheire – ou gelado que se lamba. Foi o que fizeram três estudantes de design da National Taiwan University of Arts: pegaram em águas de 100 rios e lagos contaminados e criaram estes intrigantes blocos de poluição congelada. Os gelados de pauzinho – ou popsicles, ou paletas, como se diz por cá – foram preservados em resina de poliéster, o que impede que se derretam e os torna impossíveis de comer. Um dos autores do projecto, Hung Yi-Chen, disse ao LA Times que alimenta a esperança de fazer com que os habitantes das grandes cidades, ao ver os efeitos da poluição dramatizados sobre a forma de gelado, possam fazer alguma coisa para mudar as suas atitudes. Aqui em Lisboa já vimos coisas suficientes a boiar no Tejo e nem o regresso esporádico dos golfinhos nos convence a chapinhar nas suas águas. Ainda falta muito, mesmo muito, para que o Santini de rio Tejo seja uma novidade sazonal recomendável.
5. Um campeonato de air guitar em Lisboa
Temos para aqui uma data de palhetas invisíveis à espera de ser usadas num destes disparatados eventos de playback gestual
É bom de mímica? Adora karaoke mas não sabe cantar? Sempre quis saber tocar guitarra mas nunca quis saber das aulas de guitarra? Então tem tudo o que é preciso para participar num concurso de air guitar como aquele que há todos os anos em Oulu, na Finlândia. O que começou como uma brincadeira entre amigos, em 1996, tornou-se no maior ajuntamento mundial desta actividade que está para a música a sério como a homeopatia está para a medicina. O último evento foi ganho por um jovem norte-americano que interpretou uma versão punk-rock de “I Will Survive”, mas para ser campeão é preciso mais do que um dedilhar convincente na atmosfera: um júri especializado avalia os candidatos pela técnica (a capacidade de fingir que estão realmente a tocar), presença em palco (autoexplicativo) e outra categoria difícil de explicar, “airness” – tem a ver com “aquele momento que o que fazes deixa de ser uma imitação e passa a ser uma forma de arte por si só”, explicou à estação americana NPR o vencedor em título, Matt Burns. Por Lisboa não passa nenhuma etapa do campeonato do mundo mas os nossos vizinhos espanhóis já têm o seu candidato, Moreno del Metal. A nossa sugestão? Guitarra portuguesa invisível. O primeiro a dominar este instrumento vai de certeza conseguir uma série de fãs invisíveis.