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Tom Petty: morreu o mago do rock melódico

Escrito por
Rui Monteiro
Tom Petty and the Heartbreakers
Photograph: Courtesy Michael J. Chen
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Ao morrer, na noite de segunda-feira, Tom Petty, com todo o respeito que pares e críticos e público lhe prestam e prestarão nos próximos dias, deixou um corpo musical que, para uns, é o cancioneiro da América da classe trabalhadora branca; para outros o paradigma do rock melódico e simples que o tornou um favorito da rádio nos anos de 1970 e 1980 (entretanto transferido para as estações dedicadas à nostalgia). Teve êxitos, sim, mas nem vida nem carreira foram auto-estradas.

American Girl   

Foi à força de uma combinação de riffs, capazes de recordar os heróis da guitarra da década de 1960, e agudo sentido melódico, às vezes capaz de fazer chorar as pedrinhas da calçada, que Petty, já a caminho dos 30 anos, teve, com Breakdown, a sua primeira abébia. Contudo, foi preciso esperar até 1979 para, com os seus Heartbreakers, conhecer êxito real, traduzido nos milhões de exemplares vendidos pelo álbum Damn the Torpedoes; mais, para iniciar o seu cancioneiro como menestrel da classe trabalhadora branca com Don't Do Me Like That.   

Don't Do Me Like That

E foi nessa época, a partir dessa canção modelar, que o compositor, através de temas e melodias de cariz clássico com uma voltinha, entre a decadência punk e o caldeirão criativo da new-wave, garantiu uma espécie de porto seguro para os que não compreendiam, ou mesmo temiam, ou pura e simplesmente recusavam, as transformações estéticas e musicais em curso. E Petty passou a encher estádios reivindicando uma pureza musical, uma superioridade dos instrumentos clássicos sobre os sintetizadores e as samplagens cada vez mais dominantes, mas também procurando afirmar-se em letras que falassem ao povo na linguagem do povo.

Square One

E a vida continuou. E a sua música até ganhou denominação de subgénero, “heartland rock”, ironicamente, como o punk que deixara tudo por terra, reclamando a pureza do rock e a recusa do fogo de artifício musical. Foi assim que chegou ao seu maior êxito comercial e à sua canção mais conhecida Free Fallin'.

Free Fallin'

Depois da superbanda improvável que criou com George Harrison, Bob Dylan, Roy Orbison e Jeff Lynne, The Travelling Wilburys, os quais, durante um par de álbuns interpretaram canções particularmente indulgentes, que, se não deixaram rastro artístico, tiveram no entanto a sua importância comercial, Tom Petty parecia acabado artisticamente. O que não impediu o seu disco a solo de 1989, Full Moon Fever, de vender uns pares de milhões, ou, uma década depois, de continuar a encontrar-se com o êxito graças a um álbum, Echoes, e, principalmente, a uma canção, Swingin', espécie de melodrama melancólico arrancado da memória; de certa forma testamento involuntário que o resto da sua carreira, discograficamente concluída, em 2014, com Hypnotic Eye, procurou emular, recorrendo cada vez mais nos seus espectáculos à recordação das velhas canções dos Heartbreakers.

Swingin'

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