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A diferença que um presidente faz. Durante anos, House of Cards foi um simulacro grotesco da realidade política americana, uma versão exagerada das piores práticas e defeitos de personalidade dos políticos e outros agentes de Washington. Mas o que parecia hiperbólico e ocasionalmente roçava o ridículo durante a presidência de Obama, hoje, com Trump, parece comedido e eufemístico.
É curioso que a série se comece a colar à realidade nesta quinta temporada, que se estreia à meia-noite de terça-feira, no TVSéries. O presidente governa através de ordens executivas e evita falar com a imprensa, que acusa de propagar notícias falsas, tenta fabricar guerras para desviar a atenção dos escândalos em que está envolvido e extrapola uma ameaça terrorista para fechar as fronteiras.
Falamos, sublinhe-se, do democrata Frank Underwood, a personagem interpretada por Kevin Spacey, que continua a ser tudo o que um líder não deve ser: arrivista, maquiavélico, desleal, nepotista, carismático mas desprovido de qualquer ideologia. É o oposto, por exemplo, de o Jed Bartlet (Martin Sheen) de Os Homens do Presidente, o clássico drama político que, à semelhança de House of Cards, versava sobre o funcionamento de Washington.
O Underwood de Spacey é magistral, mas não é a única personagem que se destaca na série. Nunca foi. Claire (Robin Wright), a sua mulher e candidata à vice-presidência, continua a ser fulcral, e tudo indica que a sua importância só vai aumentar ao longo desta temporada. E o chefe de gabinete Doug Stamper (Michael Kelly, num papel arrepiante) volta a ser uma peça fundamental da engrenagem.
Temia-se que a saída do criador Beau Willimon, que se despediu depois do final da temporada anterior, fosse afectar a qualidade e consistência série. Mas não. Tudo indica que, nas mãos de Melissa James Gibson e Frank Pugliese, House of Cards se tornará mais pertinente do que nunca.