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No jogo social de ir a um desfile, ser visto e fotografado, ele tem a faca e o queijo na mão. Ivan Martins faz o sitting de imprensa de todos os desfiles da ModaLisboa desde 2011 e o que mais ouve é que parece um polícia. "Houve uma editora que reparou que eu trago as pessoas até ao sítio e digo 'senta-te!'", diz, imitando um tom ameaçador. Mas logo se desfaz em sorrisos entre o pavilhão do check-in e o outro onde acontecem os desfiles e onde estão os bastidores, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. A sua técnica para mandar sentar e, sobretudo, para mandar levantar é "ser porreiro", confessa.
O pão nosso de cada dia são convidados a tentarem apropriar-se dos lugares da primeira fila, destinados à imprensa. Quando lhe falamos nisso, revira os olhos como quem diz "é o que mais acontece".Mas se Ivan é realmente um polícia, será o polícia bom. "A técnica é explicar que estes lugares estão reservados e que lhes vou ter de dar uns um bocadinho mais atrás e que depois, se tiver oportunidade, passo-os para a frente. Aqueles lugares eu não os posso dar." E se se conquistar Ivan, o terrível, é bem provável que se suba na hierarquia do público e se seja chamado para a desejada front row. "É melhor até para o desfile: quando captas imagens é bom a primeira fila cheia estar cheia. É muito mais interessante teres a primeira fila cheia. Eu não sou assim tão mau."
Esta sua vocação para o policiamento já se revelava na primeira edição em que trabalhou no evento, como voluntário, em 2004. Ficou na porta a verificar quem podia entrar, era ainda estudante de design de moda, aluno de Eduarda Abbondanza, directora da Associação ModaLisboa. "Só pensava 'ai se isto dá merda estou tão entalado'". Não deu. Continuou nas edições seguintes a organizar exposições como a de casacos costumizados da Nike, em 2005, fez parte da organização de pop up stores do evento. Poucas edições depois teve de parar por incompatibilidades profissionais e assim que pôde pediu para voltar, com vontade de fazer o que quer que fosse - vê-se na prontidão com que fala do assunto. Já experimentou, de facto, tudo e mais alguma coisa no que toca à produção da ModaLisboa: esteve no backstage, fez assessoria de imprensa nacional e internacional. Enquanto trabalha numa agência de comunicação, há seis anos que a sua praia é a sala de passerelle e as suas espreguiçadeiras, os bancos da assistência.
"Quando chegas ao domingo tu já não consegues aturar pessoas", conta, antevendo o que aí vem. Mas não há nenhum momento que dispense, nem aquele mais preocupante em que "chega alguém importante que tu tens de sentar e já não há lugar - acontece demasiadas vezes". Estas situações já envolveram segurança que, na primeira fila, entre jornalistas e bloggers, toda a gente é amiga, diz Ivan, mas ele não é de meias medidas.
Nesta edição da ModaLisboa está à espera de ver Patrick de Pádua, na plataforma LAB, no domingo, pelo percurso que tem vindo a fazer, mas também porque são amigos. Verdade: afinal o implacável Ivan tem amigos.