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No último dia de ModaLisboa, a Garagem Sul do Centro Cultural de Belém não viu só desfiles no seu formato mais tradicional. Dino Alves e Nuno Gama, que fechou o evento, apostaram em apresentações teatrais para fazer os seus statments: Nuno Gama diz que Portugal é um sonho de país (o que já se adivinhava pelas sucessivas declarações de amor à pátria que têm sido as suas colecções) e Dino Alves relembrou os espectadores que também são clientes: a sua roupa não é só para ver e pedir emprestada, é também para se comprar.
Quem estava à espera que ver a colecção Manual de Instruções e vir-se embora, desenganou-se. Dino Alves tinha um manifesto a fazer e pediu a Ana Bola e Maria Rueff que o lessem por ele, qual Revista à Portuguesa. Os monólogos satíricos que as duas atrizes leram atiravam farpas especialmente às primeiras filas – a imprensa e os convidados VIP – e falavam sobre a relação do público com a moda de autor: "mas quem é que vai vestir isto", perguntavam; "como só se vende 25% das colecções, decidimos fazer só 25% da colecção", continuavam, referindo a dada altura os remendos que a seguir vinham - "é uma espécie de façam vocês mesmos para ver o que é que custa". E lá vieram os remendos em saias e vestidos acompanhados de tecidos quentes e pesados – em casados oversize forrados a pêlo – ou de outros mais fluidos com nós e laços. O preto, os castanhos, o lavanda e cinzentos eram ocasionalmente libertados com cores vibrantes como o laranja em golas altas ou o verde de uma capa. Não podemos deixar de pensar no chapéu seleccionador do Harry Potter e já estamos com saudades do pelo das mangas de algumas camisolas e das camisas de homem com atilhos.
Nuno Gama afirma ter-se inspirado na lenda de São Vicente de Fora para desenhar Profecia. As suas homenagens ao homem português continuam, portanto, e desta vez com peças mais desportivas como camisolas justas, com listas azuis nos braços – a fazer pensar no mar português – com com o escudo do país no peito. Nas costas de algumas peças lia-se a palavra "protecção" – talvez aquela que foi enviada para proteger as relíquias de São Vicente na lenda – e os gorros vermelhos não podem deixar de lembrar o chapéu desta cor envergado pelo santo nos famosos painéis de São Vicente, guardados pelo Museu Nacional de Arte Antiga. O resto fez-se de fatos e casacos de corte clássico, alguns deles com forro e golas de pêlo, com ênfase nos castanhos e azuis.
Valentim Quaresma poupou em tudo menos no preto. As jóias grandes e prateadas ou vermelhas destacaram-se não só porque estavam por todo o lado – do pescoço à cabeça, não esquecendo a testa – mas também porque estas correntes e baixos relevos apareciam por cima de vestidos compridos pretos. Dos chapéus que quase fazia lembrar a dama antiga, aos coordenados mais punk, com correntes e fivelas, houve um vestido curto a destacar-se do conjunto com o seu ar anos 20: fitas curtas e douradas a dançar no corpo de uma manequim com maquilhagem ameaçadora.
Ana Duarte, que assina as colecções apenas com o apelido, foi uma paisagem clara num dia em que os desfiles assumiram cores escuras e invernosas. A inspiração veio da neve e de uma jornada de desportos de neve: brancos, azuis claros, cinzas e um vermelho vibrante num vestido transparente, em punhos de pêlo e em capas com gorro tricotadas. No seu primeiro desfile pela plataforma LAB, Duarte pôs os manequins a sofrer um ligeiro calor com óculos de neve e pranchas de snowboard na mão, casacos comprido e capas pela cintura com forros macios com hiper-conforto.
Fechamos com o início do domingo: Patrick de Pádua, pela plataforma LAB, mostrou uma colecção escura de santos militares: tanto houve camuflados de alto a baixo, macacões confortáveis para a acção e casados verde-tropa, como camisolas com santos e cristos ou casacos compridos que fazia lembrar batinas.