O Barqueiro do Volga
O Barqueiro do Volga

Cinema: 1917, o ano que mudou o mundo

Era 1917. A I Guerra Mundial estava para durar. Em Fátima apareceu a mãe de Jesus a uns pastores. Na Rússia fez-se uma revolução. E o mundo mudou, como a Cinemateca mostra, até ao fim de Novembro, no ciclo "1917 no Ecrã"

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A caminho do fim do ciclo "1917 no Ecrã" o programa inclui, pela primeira vez, filmes de realizadores soviéticos de gerações que não viveram revolução ou guerra civil. E o ponto de vista é completamente diferente dos seus antecessores. Mas há mais películas, entre elas duas de Hollywood, e cinema finlandês reflectindo sobre os acontecimentos no país vizinho.

Cinema: 1917, o ano que mudou o mundo

A Tragédia Optimista

O filme de Samson Samsonov, com Boris Andreyev, Margarita Volodina e Vyacheslav Tikhonov, foi apresentado no Festival de Cannes, em 1963, e inspira-se numa peça de teatro passada no início da revolução. O enredo opõe “anarquistas e comunistas, sem muita tolerância em relação aos primeiros”, a propósito de uma revolta de marinheiros anarcas, a quem o comité central do Partido Comunista enviará uma comissária política para pôr cobro à situação e “criar uma tropa de combate disciplinada”. O significado de mandar uma mulher (Margarita Volodina) enfrentar e disciplinar os marujos é menos feminista do que parece, pois o objectivo da obra é demonstrar como a superioridade ideológica do partido supera todas os obstáculos…

Sexta, 3, 21.30

Aqui, Além da Estrela Polar

Vivendo ali mesmo ao lado, o cinema finlandês esteve sempre atento aos acontecimentos na União Soviética e à forma como eles se reflectiam no seu país. Nesta obra de Edvin Laine, com Risto Taulo, Aarno Sulkanen e Titta Karakorpi, realizada em 1968, estamos perante um épico sobre a História da Finlândia, que situa a acção nos anos entre 1890 e 1918, para, através de duas gerações de uma família de camponeses, reflectir sobre a luta de classes interna, ela própria reflexo dos conflitos e transformações que se operam na Rússia pré-revolucionária.

Terça, 7, 18.30

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O Barqueiro do Volga

Activo militante anti-comunista, colaborador do senador McCarthy na campanha de caça às bruxas no meio artístico norte-americano, não se podia esperar de Cecil B. DeMille, em 1926, um filme favorável à revolução. A verdade, porém, é que o realizador, na época um dos homens mais poderosos em Hollywood, não se põe contra os revolucionários neste filme (com William Boyd, Elinor Fair, Robert Edeson e Victor Varconi no elenco) carregado de erotismo, mas arranja maneira de unir aristocracia e proletariado no final desta história de amor entre uma aristocrata e um camponês. Disse DeMille, depois, em entrevista, que quis fazer uma película “sobre a pequena minoria de homens que ousa levantar a cabeça sob o jugo da opressão” e que, na altura, “o comunismo russo ainda não se tinha revelado como uma tirania pior do que a que tinha substituído”.

Sexta, 10, 21.30

Brilha, Brilha, Minha Estrela

Aleksandr Mitta era já um conhecido realizador especializado em filmes infantis quando, em 1970, com interpretações de Oleg Tabakov, Elena Proklova e Leonid Kuraviev, situou a sua película numa pequena cidade da Rússia onde um actor tem a obsessão de criar um “teatro do povo”. Assim, com a sua pequena companhia, durante a guerra civil, percorre regiões onde o poder é ainda fluido, frequentemente alternando entre Vermelhos e Brancos, para, entre combates, com os seus actores, fazer “brilhar a estrela da fantasia e da imaginação”.

Terça, 14, 21.30 

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Intervenção

A razão por que Gennadi Poloka, um dos cineastas soviéticos mais originais e irreverentes da geração de 60, foi encarregado de realizar um filme para as comemorações do 50º aniversário da revolução permanece um mistério. O certo é que Intervenção foi considerado demasiado insólito pelas autoridades da época e só foi exibido depois de 1987. O enredo, filmado inteiramente em estúdio, em ambiente algures entre o cabaré e o circo, evoca os conflitos entre a burguesia, a polícia e os revolucionários em jeito de farsa (interpretada por Vladimir Vissotsky, Julia Burigina, Yuri Tolubeev, Marlen Khutsiev entre outros) – o que, realmente, estava bastante longe das habituais representações da revolução.

Terça, 14, 22.00 (Sala Luís de Pina)

O Tigre do Mar Negro

Nesta obra muito pouco conhecida (aliás, pela primeira vez apresentada na Cinemateca), dirigida, em 1932, por John Cromwell, a revolução é apenas cenário para as extravagantes e eróticas (o Código Hays só entraria em vigor a partir de 1934) aventuras de um grupo de aristocratas (entre eles George Bancroft e Alan Mowbray) e uma dançarina (Miriam Hopkins) de humilde origem que ficou rica, passou a considerar-se um deles e, por isso, foge da revolução a sete pés. Não os suficientes para deixar de ser feita prisioneira pelos comunistas e conhecer o seu chefe, que está disposto a libertá-la a troco de “certos favores”.

Quarta, 22, 21.30

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A Sexta Parte do Mundo

Encerrar com um filme de Dziga Vertov o ciclo 1917 no Ecrã é, como se costuma dizer, ouro sobre azul. Quem não sabe fica a saber que o realizador de O Homem da Câmara de Filmar foi, no conjunto da sua obra, “o mais radical de todos os membros da vanguarda cinematográfica soviética dos anos 20”, propondo um “cinema puro”, onde argumento, actores e, principalmente, a literatura não tinham lugar. A Sexta Parte do Mundo, realizado três anos antes daquele manifesto cinematográfico, em 1926, foi uma encomenda da agência de comércio estatal soviética, “para a divulgação internacional do país”, que o cineasta transformou num “cine-poema”, mostrando as diversas regiões da União Soviética em contraste com o mundo capitalista.

Quinta, 23, 21.30

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