Edgar Wright é o realizador de comédias de culto como Zombies Party – Uma Noite... de Morte (Shaun of the Dead, 2004) ou Esquadrão de Província (Hot Fuzz, 2007). Scott Pilgrim vs. O Mundo (2010) também é dele.
“Ofereceram-me um par de grandes filmes que as pessoas ficariam chocadas por saber que recusei”, diz Wright, ao telefone, a partir de Los Angeles, sem referir explicitamente a sua saída de O Homem-Formiga, da Marvel, devido a divergências criativas. Foi um mal que veio por bem: “Se tenho de escolher entre fazer o terceiro filme de uma série e ter a oportunidade de fazer um filme original, vou agarrar [a segunda] com ambas as mãos”, explica. “É o meu dever para com a história do cinema.”
Wright cumpre o seu dever em mais uma comédia singular. Baby Driver: Alta Velocidade – a história de um condutor de carros de fuga de Atlanta (interpretado pelo angelical Ansel Elgort, de A Culpa é das Estrelas) e as suas tentativas de fugir do submundo criminal – fez sucesso junto do público do festival SXSW, em Março. E por uma vez o burburinho que antecedeu a estreia subvaloriza o filme: Wright reinventou os filmes de assaltos e perseguições de automóveis, juntando-lhe a efervescência La La Land: Melodia de Amor e um papel de parede musical pop.
“As pessoas têm a fantasia de estar numa perseguição policial a alta velocidade”, avança o realizador de 43 anos, com uma gargalhada. (O seu amor pelos filmes de perseguições automóveis data da sua adolescência e da sua obsessão com O Profissional [The Driver], o clássico de culto de 1978 de Walter Hill). “Não acho que ninguém o faça mesmo, mas toda a gente pensa em meter o pé no acelerador quando um carro da polícia lhe começa a fazer sinais para parar.”
Elgort tem as suas próprias razões para querer interpretar o papel principal (e, sim, o herói chama-se mesmo Baby). “Qualquer gajo novo pensa em fazer boa figura num carro”, admite. “Obviamente, eu não pude fazer todas as cenas em que estava a conduzir, mas é mesmo fixe veres-te a ser um patrão no grande ecrã – é definitivamente um sonho de garoto tornado realidade.”
Sente-se que Elgort, de 23 anos, não se importaria de mudar o rumo da sua ainda breve carreira. (Não precisa de pensar muito para nomear o Marlon Brando de O Selvagem como uma inspiração.) E ao ancorar as sequências de acção de coreografia delirante de Baby Driver: Alta Velocidade no seu olhar gélido, o actor faz lembrar Steve McQueen.
“Lá porque ele não diz nada não quer dizer que não seja um personagem complexo”, defende Elgort, cujo Baby é um órfão solitário, constantemente ligado a vários iPods, de cabeça a abanar enquanto conduz como um louco. Apenas o afecto inesperado da empregada de mesa Deborah (Lily James, de Downton Abbey) o obriga a meter o pé no travão. “Ele não é propriamente um durão – é só um miúdo”, adiciona o actor.
Wright passou quase 20 anos a pensar no filme. Ainda mais estranho é ter escolhido a banda sonora – que tem desde o rock dos Queen às harmonias inocentes dos Beach Boys, passando por “Radar Love”, a derradeira canção para conduzir – antes de escrever uma única cena. “A música, para mim, é motivante”, diz Wright. “Não me consigo concentrar a não ser que esteja com a disposição certa. E fazer um filme que é basicamente sobre isso – a música enquanto fonte de alívio e obsessão – pareceu-me fascinante.” Elgort até fez o primeiro casting ao som de uma canção dos Beach Boys.
Baby Driver – Alta Velocidade é o primeiro filme realizado nos Estados Unidos por Edgar Wright. Também é a sua obra mais pessoal até à data, sobre um temerário que faz questão de seguir o próprio caminho. “É um estilo de vida meio vagabundo”, diz, referindo-se ao seu trabalho. “Se isso quer dizer que sou um realizador de Hollywood, óptimo. Estar de bem com a vida é o caminho para a felicidade.”
Baby Driver: Alta Velocidade estreia quinta-feira, 3 de Agosto