É uma consola deste tempo, em que estamos habituados a jogar em vários contextos e lugares. Com vários títulos exclusivos.
★★★☆☆
Bravely Default II é mais um JRPG (japanese role-playing game, ou jogo narrativo japonês) clássico, mas moderno, da Square Enix. Ao longo da última década, a editora japonesa tem feito muitos videojogos assim. Exercícios nostálgicos de baixo custo, que remetem para os anos 90, quando o Japão e a editora estavam no topo do mundo, e servem de contraponto às suas grandes produções actuais, como Final Fantasy XV ou Final Fantasy VII Remake, que aliam uma sensibilidade e jogabilidade contemporâneas a gráficos de ponta.
São jogos que trazem pouco ou nada de novo ao mundo, mas é um prazer passar umas horas a andar às voltas e sem rumo pelos seus cenários. É sinal de que são bons e tradicionais RPG japoneses, onde o progresso não é apenas narrativo, também é interior. Os combates podem ser repetitivos, mas são imediatamente recompensadores, pois contribuem para o crescimento e transformação dos personagens, que vêem os seus atributos e capacidades crescerem a pouco e pouco; e para a libertação de dopamina no cérebro dos jogadores.
Em Bravely Default II, estes confrontos tendem a ser rápidos e mecânicos. Os protagonistas cruzam-se com um monstro, normalmente numa masmorra, ou nos campos que cercam as cidades onde se desenrola a história, e são transportados para um novo ecrã. De um lado estão os quatro heróis controlados pelo jogador, do outro encontram-se os adversários, e há um menu em que é possível seleccionar o que vai fazer cada personagem. Dá para atacar os inimigos, usar objectos, ou recorrer às capacidades ofensivas e defensivas de cada herói.
Mas não só. Como nos anteriores jogos desta franquia, há mais duas opções possíveis, intituladas “brave” e “default”. A primeira é ofensiva, e permite a cada personagem fazer até quatro outras acções de seguida, em vez de apenas uma, em troca de ficar parado durante os turnos seguintes; é um empréstimo, no fundo. A segunda é defensiva, e não só diminui o dano sofrido, como permite guardar um turno, ou uma acção, para usar mais tarde – mantendo a analogia financeira, corresponde a um investimento ou uma poupança.
Estas mecânicas, introduzidas no primeiro título da série, em 2012/2013, são o que separa Bravely Default II de outros jogos do mesmo género. Quando estamos a andar sem sair do mesmo sítio, e a combater monstros banais apenas para melhorar os atributos e ensinar novos truques aos protagonistas, é possível desligar o cérebro, abusar do comando “brave”, e despachar os inimigos num instante, antes de eles terem tempo de responder e cobrar o empréstimo – idealmente, enquanto se ouve um podcast, ou se vê uma série de soslaio.
Parece simples, porém nos combates mais difíceis, contra os poucos inimigos que é mesmo necessário vencer para continuar a ver a história desenrolar-se, estas mecânicas adquirem uma componente estratégica. É importante escolher quando e quem deve usar cada comando, e estar atento ao que fazem os rivais. Além disso, é preciso pensar e escolher as funções que cada um vai desempenhar, e treiná-los nessa posição. Estes embates são verdadeiros quebra-cabeças. Os melhores que vimos num jogo como este.
É pena que os combates, as mecânicas e os sistemas de jogo não tenham uma história à altura. Há um herói cujo passado é uma incógnita, uma princesa, quatro cristais mágicos, uma série de reinos com diferentes interesses, alianças e problemas para resolver, como em tantas outras aventuras do género – as melhores delas, feitas pela Square Enix. Se os personagens e os diálogos ao menos fossem cativantes, até podíamos esquecer que a narrativa raramente se descola dos lugares comuns da fantasia medieval. Não é o caso.
Esteticamente, também não convence. As cidades, que lembram dioramas pintados à mão, são alguns dos cenários mais magnéticos e encantadores por onde andámos nos últimos tempos, no entanto as masmorras e o mundo exterior não são visualmente apelativos. E o pior é que os personagens lembram bonecos de porcelana, incapazes de transmitir quaisquer emoções. Na velha 3DS, onde foram editados os títulos anteriores da franquia, era fácil ignorar isto, mas na Switch, com gráficos em alta definição, torna-se mais difícil.
Estes defeitos não serão suficientes para dissuadir os fãs do género. Para esses, Bravely Default II é tão reconfortante como um prato de canja de galinha para um doente. Mas para a maioria das pessoas? Há jogos melhores. Há RPG melhores. Há RPG japoneses melhores.
Disponível para Switch.