Noite da Má Língua
Em 2022, vão levar a língua afiada mais longe – e não, não é à televisão. Avizinham-se Noites da Má Língua ao vivo.
Foram, durante anos,os desejados. Em Setembro de 2021, fizeram a vontade aos que pediam (e pediam e pediam) um regresso do programa mítico dos anos 90. A Noite da Má Língua voltou, não aos ecrãs da SIC, mas enquanto podcast do Expresso. O reencontro foi orquestrado por quem, afinal? “Júlia”, dispara Rui Zink, atropelado pela apresentadora que diz que foi “o universo”, seguida por Rita Blanco que garante que foi “Jesus”. Na verdade, “quando se começou a falar da ideia de fazer mais podcasts aqui dentro do grupo Impresa pôs-se a hipótese”, recorda a também directora da SIC Mulher e SIC Caras. Foi o suficiente para reacender a chama entre Júlia Pinheiro, Rita Blanco, Manuel Serrão e Rui Zink. “Na atitude e na forma de ser não mudámos”, diz Serrão, que se junta à equipa por videochamada. “A idade até nos dá a liberdade para dizer ainda mais o que nos apetece. Se há 25 anos não dependíamos de nada, hoje ainda dependemos menos.”
À mesa no estúdio em Paço de Arcos, numa segunda-feira à noite e a minutos de gravar mais um episódio, a conversa flui. Discute-se efusivamente e com fartas gargalhadas. Fica a sensação de que, segundos depois, com o gravador ligado, nada mudou. Nem há preparação prévia. “Estamos só naturalmente atentos ao que se está a passar”, esclarece a moderadora. Este novo formato, sem registo visual e apoiado exclusivamente no áudio, “não é um regresso pela porta pequena, é um regresso pela porta grande”, diz o empresário do Porto, evocando a popularidade crescente dos podcasts. “Nas aldeias mais recônditas de Portugal está tudo nos podcasts”, brinca Rita. A novidade é, para todos, uma bênção. “A liberdade da qual sempre vivemos foi uma das marcas do nosso discurso e de como comunicamos sempre, mas o podcast tem uma liberdade quase transgressora que acho que vai muito bem com as nossas personalidades”, diz Júlia, ciente de que “a televisão implica um determinado acting”. Além disso, o podcast “implica menos poder”, alerta Rita Blanco. “A televisão, quer se queira quer não, dá-nos um pseudopoder que eu não acho muito interessante. Aqui podemos ser tão parvos quanto queiramos e dizer as coisas da forma que nos interessa sem implicar demasiadas coisas.” Com um cenário político inquestionavelmente diferente, o debate hoje não é mais fácil do que há 25 anos. “Salvar a humanidade é complicado, é um trabalho difícil, é sujo, mas alguém tem de o fazer”, ironiza Zink. A Noite da Má Língua, emitida entre 1994 e 1997, chegou a contar também com Miguel Esteves Cardoso – mas é escusado contar com a participação regular do elemento em falta, que deixou uma mensagem no episódio de Natal. “O Miguel está contratualmente ligado ao grupo RTP”, explica Júlia. “Sabemos que nos ouve. Gostaríamos muito de contar com ele, naturalmente, agora vamos lá ver. Para já, aqui a nossa tribo está feliz e contente. Vamos ver na declinação [para outros formatos] o que é que pode acontecer.
Temos muitas ideias.” Uma delas é fazer episódios gravados ao vivo perante uma plateia – já em 2022. “Seguramente, que nós não vamos para novos. Já somos sexagenários”, troça. Sem descartar a hipótese de um evento televisivo, admite que “gostava muito que fizéssemos o podcast ao vivo, em algum sítio”. “Mas vestidos assim, todos normais?”, questiona Rita. “Todos normaizinhos”, promete Júlia. “Eu não vou sem maquilhagem”, avisa Zink. Aquando da exibição do programa, nos anos 90, a equipa chegou a fazer algumas “performances” ao vivo, sobretudo em universidades. “Correu muito bem”, recorda Júlia. “Na altura não se usava, mas fiquei sempre com aquilo na cabeça. E agora como tem aparecido esta nova tendência de fazer podcasts ao vivo, de resto coisa muito bem- sucedida em vários países do mundo, é provável que aconteça. Está aí, está a rolar.”
Idade: Rita Blanco, 59 anos, Júlia Pinheiro, 59 anos, Rui Zink, 60 anos, Manuel Serrão, 62 anos
O que fazem: comentadores de actualidade portuguesa