★★☆☆☆
Durante a década de 90, foram criados inúmeros videojogos com actores de carne e osso, desde o icónico Night Trap a um The X-Files Game com várias estrelas da série no elenco. A partir do ano 2000, estas aventuras gráficas com imagens reais caíram no esquecimento e deixaram de ser produzidas em grande escala, mas nos últimos anos temos assistido ao lançamento nas consolas de uma nova leva de filmes interactivos, como Late Shift e The Complex, entre outros títulos da Wales Interactive, ou Erica, lançado nos dispositivos iOS há uma semana. Até a Netflix flirtou com o género em Black Mirror: Bandersnatch (2018).
Criado pelos estúdios Flavourworks e editado originalmente pela Sony em Agosto de 2019, Erica era até há pouco tempo um exclusivo da PlayStation 4. Mas, em meados de Janeiro, foi disponibilizada uma nova versão para iPhone e iPad. O download é gratuito, contudo, após alguns minutos de jogo, é preciso pagar para continuar a ver a história desenrolar-se. A ver e a decidir como se desenrola. Como noutros filmes interactivos, o jogador/espectador é frequentemente convidado a fazer escolhas que influenciam a narrativa, para aumentar a sua imersão e identificação com a protagonista.
Mas a interactividade não se resume só a estas escolhas. Também somos convidados a interagir com o meio envolvente, remexendo em gavetas, abrindo caixas, limpando vidros embaciados. Em teoria, são acções inconsequentes, que tentam dar uma maior (ainda que falsa) sensação de controlo sobre a protagonista interpretada por Holly Earl. Na prática, são acções maçadoras e repetitivas, que abrandam bruscamente o ritmo da narrativa, quebrando a ilusão e a sensação de imersão em vez de ampliá-la. Isto não faz de Erica um jogo melhor. Antes pelo contrário.
E se não é um bom jogo, Erica também não é lá grande filme. A direcção de Jack Attridge é competente, mas não passa disso. E a qualidade das interpretações deixa muito a desejar. Pelo menos o ambiente opressivo e o enredo conspiratório conseguem manter o nosso interesse ao longo das duas ou três horas que se demora a chegar ao fim deste thriller psicológico pela primeira vez – assistir a todos os finais e interacções, no entanto, ocupa mais de dez horas.
A história começa com uma criança, a Erica do título, a encontrar o pai morto, antes de ser confrontada pela pessoa que o matou. Tem o rosto obscurecido, uma faca ensanguentada na mão e uma pistola apontada à miúda. É então que a protagonista acorda. Estava a ter um pesadelo. Uns minutos depois, alguém deixa uma caixa à porta de sua casa, com uma mão decepada lá dentro. Estão lançadas as bases para uma história de corrupção, abuso institucional e ocultismo, cujo final se encontra em aberto. Dependendo das acções do jogador, o seu desenlace será diferente. E o jogo convida-nos a recomeçá-lo várias vezes para assistirmos a todos os finais possíveis. Resta saber quantos terão vontade de o fazer.
Disponível para iOS e PlayStation 4.