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Há 30 anos que o futuro se joga hoje na PlayStation

Os videojogos eram uma brincadeira de crianças nos primeiros anos dos 90s. Mas, em 1994, a primeira PlayStation da Sony mudou as regras – e as idades – do jogo.

Luís Filipe Rodrigues
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 671 — Outono 2024.

“Os jogos de vídeo eram encarados como brinquedos. E a Sony não era uma fábrica de brinquedos.” Shawn Layden, citado há cerca de um ano pelo IGN, conta que era esta a mentalidade que imperava na multinacional japonesa antes do lançamento da primeira PlayStation, em 1994. Layden sabe do que fala. Durante mais três décadas, desempenhou os mais altos cargos na Sony Computer Entertainment e esteve directamente envolvido no lançamento de todas as consolas PlayStation até meter os papéis para a reforma, em 2019. Mas não era só na Sony que se pensava assim. Sem ele e sem sucessivas gerações de PlayStations, quem sabe se os videojogos não seriam ainda uma brincadeira de crianças.

O lançamento do modelo original, há três décadas, poucos anos depois de uma parceria entre a Sony e Nintendo se ter desintegrado, foi uma aposta arriscada. A Sega e a Nintendo dominavam o mercado das consolas no Japão e no resto do mundo, e as tímidas incursões no sector por outras marcas de produtos electrónicos, como a Panasonic ou a NEC, tinham falhado redondamente. Ken Kutaragi, o pai da PlayStation, não se deixou demover por estes fracassos. O lançamento no Japão, a 3 de Dezembro de 1994, ultrapassou todas as expectativas. E o lançamento no Ocidente, ao longo do ano seguinte, correu ainda melhor. Em 1996, na Europa e nos EUA, por cada Sega Saturn que era comprada, a Sony vendia duas consolas. A Nintendo 64, lançada nesse ano, também não conseguiu competir.

Parte do sucesso da PlayStation deveu-se às arrojadas campanhas publicitárias – que chegaram a ser realizadas, na viragem do século, por visionários como David Lynch ou Chris Cunningham – e a uma série de parcerias que desde o início apelaram a um público mais velho e mudaram a maneira como os videojogos eram vistos. Mas também à liberdade e ao apoio que a Sony dava aos pequenos e grandes estúdios, que começaram a desenvolver experiências mais imersivas e ambiciosas, com histórias complexas e temáticas variadas, apelando a diferentes faixas etárias e aumentando o número de potenciais consumidores. 

Desde 1994, o número de jogadores – de PlayStation, e não só – nunca parou de aumentar. Cresceu com a PlayStation 2, até hoje a consola mais vendida da história; continuou a subir nos anos da PlayStation 3, em acesa competição com a Xbox 360 da Microsoft; e ao longo dos últimos anos, com a PlayStation 4 e a PlayStation 5 a dominarem de longe o sector. Para celebrar o sucesso da marca, a Sony tem promovido uma série de iniciativas online, incluindo a comercialização de edições limitadas (nos tons cinza da primeira PlayStation) da actual gama de consolas e acessórios. Ou seja, da PlayStation 5, do PlayStation Portal, dos comandos DualSense e DualSense Edge. E da mais recente PlayStation 5 Pro.

‘Astro Bot’. Um pedacinho de história

  • 5/5 estrelas
  • Recomendado

Não são apenas estas edições especiais que evocam o legado da PlayStation em 2024. Há também um pequeno jogo de plataformas a fazê-lo. Editado em Setembro, Astro Bot é inventivo e deliciosamente nostálgico, apelando a miúdos e graúdos – tal como o anterior opus do Team Asobi, Astro's Playroom (2020), que vem pré-instalado e continua a ser um dos principais trunfos da PlayStation 5. Só que enquanto o título de 2020 se focava no hardware lançado desde 1994 para contar e celebrar a história da marca, a sua continuação concentra-se no mais importante: os jogos, os personagens e as memórias que guardamos.

As comparações com Super Mario Galaxy são inevitáveis. Tal como a obra-prima da Wii, leva-nos numa viagem à volta de uma galáxia pitoresca. Cada planeta corresponde a um nível, repleto de segredos e com uma identidade mais vincada do que muitos blockbusters. E não é só a estrutura dos mundos que é familiar: a fluidez da acção, a quantidade de boas ideias introduzidas e perfeitamente executadas, uma atrás da outra, até os riscos corridos pelo Team Asobi; tudo lembra as melhores obras da Nintendo. Sem ser derivativo.

É igualmente instrutivo compará-lo com outra recente incursão espacial da Sony, Concord. Um jogo online igual a tantos outros, no qual a Sony alegadamente investiu centenas de milhões de dólares, a contar que os jogadores investissem nele um sem-fim de horas. As contas saíram furadas. Nem um mês depois do lançamento, Concord foi varrido da internet e as poucas pessoas que o compraram reembolsadas. Esperemos que os japoneses tenham percebido a dica e daqui em diante se concentrem naquilo que ao longo de três décadas garantiu o sucesso da PlayStation: experiências narrativas singulares e exclusivas.

E pequenos tesouros como Astro Bot. Que não tem uma narrativa complexa, nem a vastidão de outras produções dos PlayStation Studios. Mas, para compensar, não tem os vícios destes blockbusters – não se leva demasiado a sério; não desperdiça o nosso tempo com desvios inconsequentes e distracções formulaicas. Quando nos afastamos dos caminhos mais óbvios, acabamos frequentemente com um sorriso nos lábios; as missões secundárias e níveis opcionais nunca se tornam repetitivos; estão constantemente a ser introduzidas novas mecânicas. Nada é deixado ao acaso, nenhum pormenor é descurado.

Outra comparação: como qualquer Super Mario, é um pequeno parque de diversões, um recreio interactivo, uma caixinha de surpresas, uma festa. Todavia, explora um filão nostálgico e possui uma riqueza intertextual de que os clássicos da Nintendo carecem. Sucedem-se os piscares de olho a outros videojogos, e em cada novo mundo somos lembrados da longa história da PlayStation, acumulando recordações e artefactos. Um exercício de arqueologia digital que lentamente se transforma num museu virtual.

Disponível para PlayStation 5

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