Não são apenas estas edições especiais que evocam o legado da PlayStation em 2024. Há também um pequeno jogo de plataformas a fazê-lo. Editado em Setembro, Astro Bot é inventivo e deliciosamente nostálgico, apelando a miúdos e graúdos – tal como o anterior opus do Team Asobi, Astro's Playroom (2020), que vem pré-instalado e continua a ser um dos principais trunfos da PlayStation 5. Só que enquanto o título de 2020 se focava no hardware lançado desde 1994 para contar e celebrar a história da marca, a sua continuação concentra-se no mais importante: os jogos, os personagens e as memórias que guardamos.
As comparações com Super Mario Galaxy são inevitáveis. Tal como a obra-prima da Wii, leva-nos numa viagem à volta de uma galáxia pitoresca. Cada planeta corresponde a um nível, repleto de segredos e com uma identidade mais vincada do que muitos blockbusters. E não é só a estrutura dos mundos que é familiar: a fluidez da acção, a quantidade de boas ideias introduzidas e perfeitamente executadas, uma atrás da outra, até os riscos corridos pelo Team Asobi; tudo lembra as melhores obras da Nintendo. Sem ser derivativo.
É igualmente instrutivo compará-lo com outra recente incursão espacial da Sony, Concord. Um jogo online igual a tantos outros, no qual a Sony alegadamente investiu centenas de milhões de dólares, a contar que os jogadores investissem nele um sem-fim de horas. As contas saíram furadas. Nem um mês depois do lançamento, Concord foi varrido da internet e as poucas pessoas que o compraram reembolsadas. Esperemos que os japoneses tenham percebido a dica e daqui em diante se concentrem naquilo que ao longo de três décadas garantiu o sucesso da PlayStation: experiências narrativas singulares e exclusivas.
E pequenos tesouros como Astro Bot. Que não tem uma narrativa complexa, nem a vastidão de outras produções dos PlayStation Studios. Mas, para compensar, não tem os vícios destes blockbusters – não se leva demasiado a sério; não desperdiça o nosso tempo com desvios inconsequentes e distracções formulaicas. Quando nos afastamos dos caminhos mais óbvios, acabamos frequentemente com um sorriso nos lábios; as missões secundárias e níveis opcionais nunca se tornam repetitivos; estão constantemente a ser introduzidas novas mecânicas. Nada é deixado ao acaso, nenhum pormenor é descurado.
Outra comparação: como qualquer Super Mario, é um pequeno parque de diversões, um recreio interactivo, uma caixinha de surpresas, uma festa. Todavia, explora um filão nostálgico e possui uma riqueza intertextual de que os clássicos da Nintendo carecem. Sucedem-se os piscares de olho a outros videojogos, e em cada novo mundo somos lembrados da longa história da PlayStation, acumulando recordações e artefactos. Um exercício de arqueologia digital que lentamente se transforma num museu virtual.
Disponível para PlayStation 5