Joe Berardo
©Pedro Vilela/Wikipedia
©Pedro Vilela/Wikipedia

Joe Berardo: "Faço estes museus para o meu gosto"

O coleccionador seguia ao volante quando lhe ligámos. Apanhámos a boleia e falámos sobre um dos tópicos da semana: os dois museus que prevê abrir em Lisboa em 2017. Alcântara terá Art Déco, e ao Bairro alto deverão chegar peças africanas

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Hello?

Olá Joe, estou a ligar da Time Out. 

Diga lá. 

Ouço-o muito ao longe.

Estou no carro. 

OK. É sobre o assunto do momento. Quando começou a pensar no projecto do novo museu, em Alcântara? 

Um prédio estava à venda e eu comprei-o. É da época de 1910, mas já vinha de anos antes também. Pensei que dava para um museu de Art Déco por ser dentro do estilo. Cheguei a um acordo com a loja que havia no prédio. Começamos com as obras e vamos continuar. É um prédio relativamente grande.  

Sentiu que era perfeito para acolher Art Déco?

Perfeito nunca é (risos). Mas gostei. E havemos de chamar-lhe Under The Bridge. Já tenho o Underground [em Sangalhos], agora vai ser Under the Bridge (risos) [fica na Rua 1º de Maio e a proximidade da ponte é evidente]. 

Falamos de quantas peças ao certo? 

Ah, são muitas. Não sei o número. Tenho um conjunto de peças de Art Déco de um alemão que tem mais de mil peças, portanto imagina. Vão ser algumas peças da colecção.

O Under the Bridge já tem data mais concreta de abertura?

Depende ainda de licenças da câmara. Mas tem sido sempre "remarkable". Como se diz? Muito simpática. 

Tem facilitado o processo.

Sim, pela parte técnica, não pela parte financeira. Nem pedi apoio financeiro. 

E o outro espaço na Rua da Atalaia, onde se fala de um museu de arte africana? Avança?

Tenho la um prédio onde era a loja da Fátima Lopes. Ela foi para outro sitio e recuperei o interior. Só falta pintar no exterior. Se não for vendido até ao final deste mês vou ali fazer um museu de arte africana. 

Pensou em particular nas estatuetas do Zimbabué?

Não, não, são peças que nunca foram expostas. Estão em armazém. 

É um bom tópico. Tem noção de quantas peças ainda tem guardadas? 

(risos). São muitas. Não vou falar disso porque as pessoas depois pensam que eu estou a exagerar. Não falo de dinheiro nem de peças. 

Não gosta de falar de peças. Peço-lhe só uma curiosidade sobre algo que vamos poder ver em Alcântara, por exemplo.

São tantas curiosidades. Olha, algumas das peças vêm do palácio de Evita Perón. Nessa altura a Argentina era uma referência a nível mundial. Era uma economia muito grande. 

É uma boa história. E que mais?

Agora não tenho tempo para isso (risos). Tudo na minha vida está cheio de histórias. Não posso dizer tudo também, senão acaba-se o interesse. 

É justo. Dê-me um bom motivo para irmos visitar o novo espólio.

Olha, primeiro, faço este museu para o meu gosto. Se as pessoas quiserem ir lá visitar, vão. Tenho pessoas que me ajudam a fazer as coisas e tento fazer pelo melhor, mas não posso satisfazer toda a gente.  

Está satisfeito?

Estou muito feliz. Para dar um exemplo, fiz o Buddha Garden ao meu gosto. Já temos mais de 300 mil visitantes anuais. Estás a ver? Este mês, no Museu Berardo, atingimos mais de um milhão, só este ano.  

Segue sempre a sua cabeça?

É a única maneira de poder fazer as coisas; é seguindo a minha intuição, como aconteceu com o Underground.Tenho lá fósseis, minerais, uma amostra de uma colecção de arte africana feita por um português. 

Que lhe diz a sua intuição, que a colecção Berardo fica no CCB depois de 31 de Dezembro, quando termina o protocolo com o Estado?

Isso está em negociações. Não imponho nada a ninguém. Querem que continue, continua. Não me dão dinheiro, não me dão nada. Se quiserem continuar, estou aberto a isso, se não quiserem tenho sempre alternativas. 

Pensou em algumas?

(risos). Não entrei nisso, não tem graça nenhuma. Eles decidirão. Não tenho poder político, nem quero ter. O que sei é que as pessoas gostam. Ainda há dias estava a almoçar num restaurante, fui à casa de banho e estavam três senhores. Um deles era alemão. Quando saio estava à minha espera. "Sabe que vim da Alemanha esta manhã. Vim almoçar aqui ao Mercado do Peixe e marquei para ver outra vez a sua colecção no Museu Berardo". O que é que posso pedir mais? 

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