Kingdom Come: Deliverance
A influência de Dungeons & Dragons e outras narrativas fantásticas é aparente na maior parte dos RPG para consola e computador. Sobretudo nas aventuras medievais. Mas Kingdom Come: Deliverance, é diferente. Disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One, o primeiro título dos estúdios checos Warhorse é um RPG medieval realista e sem elementos fantásticos. Há masmorras, mas dragões nem vê-los.
A acção decorre no início do século XV, numa pequena região do Reino da Boémia que hoje faz parte da República Checa, e os acontecimentos reflectem e são influenciados pela história da época. O jogador encarna o filho de um ferreiro que vê os pais e muitas das pessoas que conhecia ser assassinadas pelo exército de um pretendente ao trono do Sacro Império Romano-Germânico. Ele sobrevive e vê-se envolvido num conflito muito maior do que ele, onde é pouco mais do que um actor secundário.
A história não podia estar mais longe das fantasias de empoderamento pessoal típicas de outros títulos do género. O protagonista é um indivíduo banal e a experiência de jogo reflecte essa banalidade. Por exemplo, arrombar fechaduras é quase impossível, enquanto os combates inicialmente são difíceis e naturalistas.
Essa naturalidade, esse realismo, é transversal a Kingdom Come: Deliverance. É preciso dormir e comer (mas atenção que a comida estraga-se), cuidar da higiene pessoal e lavar a roupa. A este nível, é basicamente uma simulação de sobrevivência. Mas o personagem principal evolui com o tempo, e quanto mais vezes faz algo, melhor o faz, como noutros RPG.
Nem tudo são rosas. O aparente realismo ludonarrativo choca com algumas deficiências técnicas. Os erros de programação, que afectam negativamente a experiência final, são mais do que muitos e, sobretudo nas consolas, a qualidade gráfica é inconsistente. Por outro lado, é difícil perceber onde termina o suposto rigor histórico e começam a misoginia e a supremacia branca. Sobretudo tendo em conta que o director criativo do projecto, Daniel Vávra, é um apoiante confesso do Gamergate.