Emily Is Away Too
Nos últimos anos, poucos jogos mexeram tanto com este que vos escreve como Emily Is Away. Editado em Novembro de 2015, pelo criador indie Kyle Seeley, é um romance visual minimalista. Tudo acontece numa pequena janela de chat, uma recriação do AOL Messenger e dos tempos do Windows XP, onde o jogador fala com uma rapariga, a tal Emily. É só isto, e é tudo o que se quer. Ou pelo menos era tudo o que se queria até chegar Emily Is Away Too, que aperfeiçoa a fórmula original.
A janela do AOL Messenger volta a ser o campo de batalha e a estética pixelizada do original também se mantém praticamente inalterada. Só que agora é possível seguir links para réplicas do Youtube e do Facebook e há ficheiros multimédia que aterram no ambiente de trabalho do PC. A principal mudança, porém, é que desta feita é possível bater couro a duas raparigas: Emily e Evelyn. Aquilo que o jogador decide responder-lhes (há três opções de diálogo para cada ocasião) muda o rumo da narrativa.
Correcção: a maior mudança é que agora a experiência é mais densa, mais envolvente. No primeiro jogo, a nostalgia não ia muito além do programa de chat que remetia para os engates online de quem cresceu numa dada altura – a segunda metade dos 90s e início dos anos zero – e para os ícones que reproduziam filmes e discos da época. Agora, as nossas interlocutoras partilham links para vídeos de bandas alternativas (daquelas que passavam no Sol Indie há uns anos) e emo-pop. A acção decorre entre 2006 e 2007, mas as referências pop e musicais cobrem um espaço ligeiramente maior, mais ou menos de 2004 a 2008 – sem caírem num anacronismo óbvio.
Nem tudo é perfeito. Os diálogos de vez em quando deixam algo a desejar e, apesar de existirem vários finais possíveis para a história, não há muitas razões para voltar a pegar no jogo depois das três ou quatro horas que se leva a completá-lo. Essas horas, contudo, são viscerais, e Emily Is Away tem mais coração e genica do que a grande maioria dos videojogos. Além disso, as protagonistas são honestamente enternecedoras, e há um cuidado com os pormenores que faz de Emily Is Away Too algo muito próximo de uma máquina do tempo. Uma experiência única.