Desde que as pessoas olham para os ecrãs em busca de entretenimento que se fazem remakes. De filmes, de séries, de videojogos. Mas enquanto no cinema é infrequente a recriação ser mais bem amada do que o original – mesmo quando é o mesmo autor a assinar as duas versões, como Alfred Hitchcock, que em 1956 voltou a contar a história de O Homem Que Sabia Demais de 1936, ou Michael Haneke, que em 2007 refez Brincadeiras Perigosas (1997) com actores anglo-americanos – os remakes de videojogos são sempre recebidos de braços abertos. E, frequentemente, mais adorados do que os originais.
Isso acontece, em grande parte, porque a passagem do tempo pesa mais sobre os jogos de vídeo. Todos os anos a tecnologia evolui, e aquilo que é possível conceber e programar muda: os gráficos tornam-se mais realistas, os controlos mais fluídos, os mapas e os mundos mais vastos, e por aí adiante até duas versões do mesmo título serem irreconhecíveis. Por exemplo, era impossível fazer ou até imaginar uma obra como Final Fantasy VII Remake quando o título original saiu em 1997. Por outro lado, não há nada no Psico (1998) de Gus Van Sant que Hitchcock não pudesse ter feito no clássico de 1960.
Não se pense que este fenómeno é recente. Fazem-se remakes praticamente desde que se fazem jogos. Só que à medida que a tecnologia evoluiu, e os orçamentos dos principais lançamentos cresceram até adquirirem dimensões hollywoodescas, os estúdios foram-se virando cada vez mais para o seu passado. Porquê gastar milhões de dólares a fazer um jogo de raiz, que pode não ter o retorno financeiro esperado, quando é possível actualizar, aprimorar e voltar a vender um clássico? Sobretudo quando o original deixou de ser visual e mecanicamente apelativo, e muitas vezes nem é possível jogá-lo nas plataformas actuais?
Não é por acaso que alguns dos títulos que mais tinta fizeram correr em 2020 foram remakes. No início de Março saiu Black Mesa, que apesar do nome é o primeiro Half-Life (1998), recriado de raiz por fãs. Pela mesma altura, a Nintendo editou Pokémon Mystery Dungeon: Rescue Team DX, que reimagina um título de 2005. Em Abril foi a vez de Resident Evil 3 e Final Fantasy VII Remake, o lançamento mais aguardado do ano. Agora acaba de ser reeditado Trials of Mana. E vêm mais a caminho. Porque o presente e o futuro dos jogos passam cada vez mais pelo seu passado.