As barreiras que é necessário erguer
Um dos maiores desafios de trabalhar em casa passa pela diluição daquilo que é a vida pessoal e familiar e a vida profissional, uma vez que as duas passam a acontecer exactamente no mesmo espaço. Encontrar o equilíbrio não é fácil, mas há pequenos truques que Rebecca enumera em A Solo e que são meio caminho andado. “É tudo sobre mudar mentalidades. Nós fazemos o nosso trabalho, não somos o nosso trabalho, é importante impormos isto a nós mesmos”, explica. “Dizemos sempre ‘sou médica, sou jornalista, mas nós somos mais do que a nossa profissão, nós exercemos medicina, jornalismo. Tem de haver um distanciamento.” Tudo está relacionado com a cultura laboral em que estamos inseridos, a forma como vemos o trabalho e a tendência em dar-lhe primazia. “O trabalho não pode estar em todas as nossas conversas, em todos os nossos momentos de relaxamento, em todas as refeições, mesmo que seja só responder a uma mensagem. O trabalho é só uma parte da nossa vida. Só e apenas”, afirma.
Em casa, o trabalho tem de ter um espaço físico, defende a autora. “Quando não há espaço onde deixar o trabalho, este mistura-se com tudo”, lê-se no capítulo “Onde Trabalhamos”. Há que pensar no espaço laboral que se vai criar em casa porque nem todos (muito poucos, até) conseguem ter um escritório, o que torna ainda mais importante encontrar um mecanismo que torne o trabalho presente e visível quando ele tem de estar, e escondê-lo (literalmente) o resto do tempo. “É muito importante, para a saúde mental. Guardar o computador, guardar a papelada numa caixa ou numa prateleira, o importante é que não se olhe para ele. Façam tudo o que podem para criar uma barreira física que ajude o cérebro a perceber quando o trabalho começa e acaba”, descreve.
Este é um exemplo dos rituais de transição, pequenos gestos que marcam a diferença entre a vida de casa e a vida de trabalho em casa – coisas como fazer uma caminhada pela manhã como se estivesse a ir para o escritório (mas volta para casa), treinar, vestir-se, maquilhar-se, beber café ou chá sempre na mesma chávena. “É um jogo psicológico, tens de jogar um jogo contigo mesmo, fazer truques que depois se tornam rotinas e, consequentemente, normalizam a coisa”, descreve. “É uma fase de transição importante pela qual temos de passar para nos adaptarmos à vida de trabalhar em casa.”
Há mais dicas, por exemplo comer de forma equilibrada, não estar ligado às máquinas no momento da refeição ou fazer intervalos regulares ao longo do dia. “Se o fazemos no escritório, é fundamental que o façamos em casa. Todos merecemos pausas para desligar momentaneamente. Não podemos ser o pior chefe para nós próprios”, diz.