Atlas Almirante Reis
Fotografia: Gabriell VieiraImagens de Paulo Catrica
Fotografia: Gabriell Vieira

Livros sobre Lisboa que tem de ler

É a menina dos nossos olhos. E de outros jornalistas, poetas, historiadores, fotógrafos, ilustradores ou arqueólogos.

Renata Lima Lobo
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A cidade tem pano para mangas e muitas histórias para contar. E são muitos os que partilham as suas investigações, talentos, experiências e sapiência nas páginas destes livros sobre Lisboa. As edições que se seguem têm a cidade das sete colinas como pano de fundo, embora a tratem sob diferentes perspectivas, de transportes públicos, arte, cultura e roteiros a histórias de tempos idos ou até a um gato aventureiro. Mas se há conclusão comum a todos estes livros sobre Lisboa, é que a cidade também apresenta um grande potencial no papel.

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Livros sobre Lisboa que tem de ler

1. Atlas Almirante Reis

Nunca um investigador tinha dedicado tanto tempo ao estudo da Almirante Reis. É uma das grandes avenidas de Lisboa, mas até agora não tinha sido alvo de estudo, seja no campo da arquitectura e urbanismo, seja nas disciplinas de sociologia e antropologia. O Atlas Almirante Reis colmata todas essas falhas num livro que juntou uma extensa equipa coordenada pela antropóloga Filipa Ramalhete, pela historiadora Margarida Tavares da Conceição e pela arquitecta Inês Lobo. Chegou às livrarias através da editora Tinta da China, e é um mundo por descobrir. Um atlas que fala sobre as memórias e heranças, o espaço público, a actividade comercial, os colectivos de criação artística e o pulsar de novos movimentos sociais.

2. Coisas de Loucos

O livro Coisas de Loucos - O que eles deixaram no manicómio, da jornalista Catarina Gomes, tem como ponto de partida um conjunto de objectos esquecidos numa caixa que a autora encontrou no sótão do Hospital Miguel Bombarda, enquanto consultava o arquivo morto. Catarina acabou por dar-lhes vida. Na verdade, oito vidas que passaram pelo primeiro hospital psiquiátrico a abrir no país – e também o primeiro a fechar. Um livro sobre pessoas comuns que Catarina resgatou do passado com a ajuda dos objectos que deixaram para trás.

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3. Lojas com História

Depois de uma primeira edição lançada em 2017, chegou às livrarias em 2020 o segundo volume dedicado às Lojas com História em Lisboa. O novo livro continua o trabalho de documentação iniciado em 2017, com a edição do primeiro volume de Lojas com História, dedicado a 82 estabelecimentos históricos da cidade. Uma edição com a chancela Tinta da China, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa. O segundo roteiro, com mais de 328 páginas de textos e imagens, é dedicado a mais 76 espaços de comércio tradicional de Lisboa. As fotografias são de Luís Aniceto e Miguel Saavedra.

4. Calvin Esparguete, Diário de Um Gato Citadino

Calvin tem o mundo às suas patas. E também tem um livro que dá conta da sua biografia, um convite endereçado à jornalista Filomena Lança pelas Publicações Dom Quixote. É o gato mais popular da Colina de Santana e conta, na primeira pessoa, as suas aventuras por Lisboa. Calvin é um gato popular, simpático e aventureiro que vagueia calmamente pelas ruas que lhe são mais próximas, sempre envergando uma coleira com uma chapinha que o identifica como Calvin e com um número de telemóvel associado. O número é dos seus tutores que tentaram de tudo para que o bichano não saltasse o muro do jardim lá de casa.

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5. O autocarro das oito e vinte

Quem circula diariamente a bordo de um autocarro tem sempre uma ou outra história no bolso para partilhar. E há quem vá tomando nota de tudo o que acontece, com particular atenção para momentos surreais que vão acompanhando (algumas vezes animando) a vida dos restantes passageiros. Se algumas biografias dão livros, as histórias que Alexandra Sousa foi coleccionando ao longo dos anos a bordo de autocarros também. Em 2018 as histórias, todas verídicas e quase todas vividas em Lisboa, viram a luz do dia numa edição de autor que tem andado em tournée pelo país, a bem da divulgação. "São histórias divertidas e muito fáceis de ler e que têm feito ler pessoas que já não tinham esse hábito há muito", explicou a autora à Time Out. Serviço público criado a bordo de um transporte público, portanto.

6. Descobre-te em Lisboa

Não é bem um guia turístico, mas é da mesma família. A Chiado Editora lança grandes desafios aos exploradores urbanos através do livro Descobre-te em Lisboa, propondo descobertas pelas ruas e espaços de praticamente toda a cidade. Prepare a mochila para levar o livro e todo o material de apoio que um verdadeiro explorador da cidade tem de ter para seguir as instruções desta edição à risca, como mapa, lápis, tesoura, fita-cola, máquina fotográfica (ou telemóvel), lápis de cor, caneta ou borracha. Há 394 páginas para preencher com fotografias, desenhos, textos ou mesmo com papel higiénico. De Belém ao Oriente, os exploradores são convidados a ir preenchendo espaços neste género de diário gráfico.

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7. Eléctrico 28

Não encontra filas para viajar no eléctrico 28 de Davide Cali. O autor italiano que já publicou uma série de livros infantis, alguns premiados, juntou-se à ilustradora francesa Magali Le Huche para convidarem leitores de todas as idades a embarcar num eléctrico 28 cheio de amor e beijinhos. E de muito espaço. Neste eléctrico mora a felicidade, a boa-disposição e o guarda-freio Amadeo, um verdadeiro cupido que tem três manobras especiais para juntar viajantes apaixonados.

8. Lisboa Desaparecida

Não é um: são nove os volumes que a jornalista e olisipógrafa Marina Tavares Dias tem no seu portfólio. E juntos são uma espécie de Bíblia, uma referência rigorosa e incontornável sobre a história de Lisboa. Quando o primeiro volume foi lançado em 1987, já Mariana tinha gasto muita tinta em textos sobre a cidade que publicava em jornais de referência, como o Diário de Lisboa, o Diário Popular ou o Expresso, precisamente sob o nome Lisboa Desaparecida. Em 2007, foi lançado o nono e último volume desta saga documental (o mesmo ano de fundação da Time Out Lisboa, mas juramos que não tivemos nada a ver com isso), uma edição que também assinalou os 20 anos desta colecção e da Quimera, a editora que a publicou.

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9. Casas com Escritos

"Agora fazem umas casas muito pequenininhas", dizia Raul Solnado em 1966 na sua famosa rábula O Repuxo, onde dissertava sobre o problema da habitação. De facto, a partir dos anos 60 e 70, “o número de divisões da casa reduz-se drasticamente, há que encurtar e racionalizar espaços”, lê-se neste Casas com Escritos (da editora Bizâncio), o mais recente livro da historiadora Margarida Acciaiuoli, também autora de Cinemas de Lisboa (2012). Desta vez, Acciaiuoli faz-nos chegar um livro de 784 páginas, onde quase nada fica por dizer acerca da história da habitação em Lisboa e lê-lo é entrar, sem pedir licença ao porteiro, em quase todos os edifícios da cidade. Ao mesmo tempo que aprendemos que nos finais do século XIX era hábito mudar de casa de seis em seis meses (por altura dos Santos Populares e no final do ano), ou que já existiu um imposto sobre a quantidade de portas e janelas por casa.

10. Caminhar por Lisboa na companhia de Anísio Franco

Sabia que Santo António está no Guiness World Records por ter sido a pessoa mais depressa canonizada? Ou que no Palácio Foz se reunia um clube secreto Chamado Makavenkos? E que a ginjinha foi criada em Lisboa por um galego Chamado Espinheira? Desde 1988 que Anísio Franco tem guiado curiosos pela cultura da cidade Lisboa. Este historiador de arte é guia nos Passeios de Domingo do Centro Nacional de Cultura e conservador no Museu Nacional de Arte Antiga. Depois de já se ter aventurado pelas lides editoriais com o livro Histórias de Antiguidades, lançou esta obra carregadinha de história e curiosidades com sete percursos por São Cristóvão, Chiado, Jerónimos, Xabregas, Santana, Lapa e Graça.

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11. Segredos de Lisboa

As arqueólogas Inês Ribeiro e Raquel Policarpo fazem uma viagem pelo que resta de tempos olisiponenses passados com o livro Segredos de Lisboa, na sequência de um convite da Esfera dos Livros que as convenceu a pôr em papel algumas das informações que só não são segredo para profissionais da história. Mas com uma abordagem bem original: cada capítulo começa com personagens fictícias, como o pescador que arranjava as suas redes junto ao rio que passava no que é hoje o Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros. Ou a história de Sarah e Isaac, que viviam na judiaria junto à incompleta Muralha de D. Dinis. Castelo de São Jorge, Teatro Romano, o Aqueduto das Águas Livres, a Cripta da Igreja de Santo António e até um sanitário público descoberto no Largo da Sé a quatro metros de profundidade são mais alguns dos locais que as duas arqueólogas põem a nu neste livro sobre Lisboa entre a ficção e o roteiro.

12. Azulejo em Lisboa

O The New York Times acha que os azulejos de Lisboa são um dos 12 tesouros da Europa (pelo menos há dois anos achava e duvidamos que tenha mudado de opinião assim a troco de nada). Como qualquer tesouro que se preze, precisa de um mapa para ser encontrado, mesmo que muitas das suas joias estejam à vista de todos. Este álbum fotográfico da editora Zest chama-se Azulejo em Lisboa, é da autoria da Direcção Municipal de Cultura e além das fotografias, assinadas por José Vicente, traz um mapa acoplado que pode ser comprado em conjunto ou em separado. A viagem proposta começa no século XVI e ao longo de palácios, igrejas ou fachadas, dará atenção a artistas mais antigos, como o Ferreira das Tabuletas (Loja Viúva Lamego, no Largo do Intendente), a outros mais modernos, como Almada Negreiros (Rua do Salitre, 132).

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13. 28 Crónica de Um Percurso

Dez igrejas, oito conventos, vinte palácios, seis jardins. Estas são algumas das contas que o historiador de arte José-Augusto França fez para o seu livro 28 – Crónica de um Percurso, escrito em 1998 e agora reeditado numa versão bilingue com o carimbo da Livros Horizonte. A linha eléctrica mais longa e concorrida da cidade (para gáudio dos carteiristas) continua a ser um roteiro que vale a pena explorar entre os Prazeres e a Graça, sobretudo através do olhar e das histórias contadas por José-Augusto França, hoje com 98 anos.

14. Lisboa, o que o turista deve ver

Fernando Pessoa tinha uma queda para anfitrião de Lisboa que em 1925 resultou no livro Lisboa, o que o turista deve ver, um verdadeiro precursor da Time Out. Originalmente escrito em inglês pelo poeta, foi reeditado em 2015 pela Centro Atlântico, numa edição de luxo bilingue com cerca de 100 ilustrações de Mário Linhares. O guia está claramente desactualizado e ainda bem. Aqui Pessoa recomenda uma visita às noites loucas do cabaret Maxim’s no Palácio Foz, um espaço de verdadeira boémia, às corridas de cavalos que aconteciam então através de um “sistema de apostas de estilo francês, o pari mutuel” ou um passeio pelas “belíssimas casas privadas e palacetes”, da Avenida Fontes Pereira de Melo, com destaque para o palácio do milionário Cândido Sotto Mayor, hoje um ginásio da Virgin.

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15. Lx80

E quem diz 80, diz 70 e 60. Os anos 80 marcaram o fim da trilogia iniciada pela jornalista Joana Stichini Vilela em 2014 com um livro sobre a década de 60 em Lisboa que se come com os olhos e se devora com o entusiasmo de quem quer relembrar ou sentir a vida em Lisboa, década após década. Nos anos 60 encontramos as primeiras boîtes e mini-saias, a moda do ié-ié. No Lx70 chegam os punks, a revolução, o fim de uma era. E a última viagem ao passado acontece na época onde quase tudo era possível, um Lx80 com crónicas de bons malandros, com o Frágil ou com Portugal na CEE. Mais recentemente foi lançado o LxJoga, um livro que brinca com a história de Lisboa.

16. Era Uma Vez Lisboa

“Quando ficou aberto o caminho marítimo para a Índia, Lisboa era protegida pela Grande Nau, uma embarcação bélica com perto de mil toneladas de peso, ancorada em frente ao Restelo.” Este é apenas um cheirinho de uma das muitas histórias que conta o livro do jornalista Luís Ribeiro, depois de em 2012 se ter atirado à água com Histórias do Tejo. Em Era Uma Vez Lisboa (edição Esfera dos Livros), o autor fixa-se em terra firme para contar a história da cidade, mesmo antes de o ser. Mesmo antes até de ser a aldeia Alis Ubbo, numa sucessão de grandes e pequenos acontecimentos, desde os primeiros Homo erectus que aqui viveram há um milhão de anos. Um livro recheado de conspirações, de heróis e de vilões, mártires e reis, amores e aventuras, vikings, judeus, romanos e mouros e tudo. E de uma luta entre um rinoceronte e um elefante que só parou no Rossio.

Mais que ler

Confinamento pede leituras e refeições leves (nós sabemos: com tanta comida à mão, é difícil não passar o dia a assaltar a despensa). E pede também mais stock para a biblioteca de casa. Estes livros de cozinha saudável, todos com receitas, são uma ajuda para a temporada, para ler onde quiser, na cama, no sofá ou até à mesa, enquanto pensa na sua próxima refeição. De certeza que já ouviu falar de cozinha 100% vegetal ou da dieta macrobiótica – é a altura de ler mais sobre o assunto e perceber vantagens e desvantagens. É tempo também de se dedicar aos pratos saudáveis, que pesam menos no estômago, mas que ainda assim são bem gostosos. Desmistifique ideias, cozinhe mais e coma melhor.

  • Compras

Não há como não nos comovermos com um bom romance – sobretudo quando, ao ultrapassar as fronteiras temporais e geográficas do universo em que se inscreve, consegue relacionar-se com a história de cada leitor. Mas nesta lista não há apenas romances: há livros românticos e de banda desenhada, nos quais o amor é o cerne da narrativa, apesar de nem todos terem direito a final feliz. São para oferecer à sua cara-metade ou a si mesmo, para ficar em casa e colocar a leitura em dia. Há recomendações para todos os gostos e carteiras.

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  • Miúdos

São livros infanto-juvenis, mas são bons para qualquer idade. Editados este ano, e assinados por autores portugueses, estes são alguns dos livros que mais nos chamaram à atenção ao longo do ano. Com páginas cheias de ilustrações e histórias de encher o olho, há livros que são também autênticas obras de arte, dignas de coleccionador. A Menina com os Olhos Ocupados, de André Carrilho, Menino, Menina, de Joana Estrela, ou Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho, ficam bem em qualquer estante. Mas não são os únicos.

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